CARACAS - A Venezuela anunciou neste sábado, 22, que havia chegado a um acordo com o governo Trump para voltar a aceitar voos de deportação que transportam imigrantes que estavam nos Estados Unidos ilegalmente, com o primeiro deles aterrissando já neste domingo, 23.
Parte da disposição da Venezuela em aceitar os voos parece estar relacionada à situação dos imigrantes venezuelanos que o governo Trump enviou recentemente para prisões em El Salvador, com pouco ou nenhum processo legal. Em uma declaração neste sábado, um representante do governo venezuelano disse: “A imigração não é um crime, e não descansaremos até conseguirmos o retorno de todos aqueles que precisam e resgatar nossos irmãos sequestrados em El Salvador.”
A Casa Branca não respondeu a um pedido de comentário neste sábado, embora um dos aliados próximos do presidente, Richard Grenell, tenha dito no início deste mês que os venezuelanos haviam concordado em aceitar os voos.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, suspendeu a cooperação de deportação depois que o governo Trump revogou uma política da era Biden que permitia a produção e exportação de mais petróleo na Venezuela.
Desde a suspensão dos voos, Maduro vem sofrendo intensa pressão do governo Trump, que tem pressionado várias nações latino-americanas a aceitar mais deportados. O Secretário de Estado Marco Rubio disse nas mídias sociais que a Venezuela enfrentaria novas sanções “severas e crescentes” caso se recusasse a aceitar seus cidadãos repatriados.
Os venezuelanos cruzaram a fronteira entre os EUA e o México em números recordes nos últimos anos, em resposta à crise econômica e social que consome o país, que Maduro atribui às sanções dos EUA contra seu regime.
O acordo para retomar os voos de deportação ocorre depois que o governo Trump invocou uma obscura autoridade de guerra de 1798, chamada Alien Enemies Act, para deportar imigrantes venezuelanos para El Salvador, cujo líder concordou em aceitar os imigrantes, colocando-os em prisões onde as condições são tão assustadoras que muitos especialistas dizem que constituem abusos dos direitos humanos.
O uso da autoridade de tempo de guerra surgiu como um ponto de inflamação em uma luta mais ampla entre juízes federais de todo o país, que tentaram restringir muitas das recentes ações executivas de Trump, e um governo que chegou perto de se recusar abertamente a cumprir ordens judiciais.
Na semana passada, um juiz federal em Washington emitiu uma ordem temporária impedindo o governo de deportar qualquer imigrante sob a autoridade de tempo de guerra, dizendo que não acreditava que a lei oferecia motivos para os voos de deportação.
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O governo Trump alegou que os imigrantes venezuelanos enviados a El Salvador eram todos membros de gangues criminosas, mas as famílias de alguns desses homens, bem como os advogados de imigração, argumentaram que esse não era o caso de todos os deportados enviados às prisões de El Salvador. E o governo forneceu poucos detalhes sobre quem eram de fato os indivíduos enviados para lá. Parecia haver pouco ou nenhum processo justo em jogo.
Donald Trump pareceu cativado pela capacidade de enviar pessoas para os complexos prisionais de El Salvador, ameaçando na sexta-feira, 20, que aqueles que fossem pegos vandalizando Teslas poderiam ser banidos para lá por 20 anos.
O presidente e seus aliados, incluindo Elon Musk, entraram em guerra com o juiz por causa de sua ordem que restringia as deportações, pedindo o impeachment dele. A rápida escalada da disputa fez com que o juiz John G. Roberts Jr., da Suprema Corte, fizesse uma rara declaração, advertindo sobre os pedidos de impeachment do juiz. Isso gerou preocupações sobre uma crise constitucional.
O governo Trump continuou a bloquear as perguntas do juiz sobre as deportações para El Salvador. “O governo não está sendo muito cooperativo neste momento”, disse o juiz, James E. Boasberg, em uma audiência na sexta-feira. “Mas vou descobrir se eles violaram minha ordem e quem foi o responsável.”
O acordo deste sábado pode ajudar Trump a acelerar seus planos de deportações em massa, uma das principais promessas de sua campanha. Ele já alistou aviões militares, enviou pessoas para países terceiros longe de suas casas e invocou a lei de tempo de guerra para atingir esse objetivo. As prisões dentro do país aumentaram muito em relação às do governo Biden, mas estão bem abaixo dos níveis desejados por Trump e seus assessores de imigração.
O acordo para retomar os voos de deportação para a Venezuela também ocorre um dia depois que o governo Trump disse que encerraria um programa da era Biden que permitia que centenas de milhares de pessoas de Cuba, Haiti, Nicarágua e Venezuela entrassem legalmente nos Estados Unidos e trabalhassem por até dois anos.
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