Mahsa Amini: Como morte de jovem presa pela polícia moral do Irã provocou protestos contra o hijab

Mulher de 22 anos entrou em coma enquanto estava sob custódia policial e morreu três dias após ser detida por uso ‘inadequado’ da indumentária obrigatória

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Por Redação
Atualização:

Mahsa Amini, de 22 anos, visitava a capital Teerã com a família quando foi detida pela polícia moral do Irã por uso de “roupas inadequadas” na terça-feira, 13. Três dias depois, a jovem foi declarada morta em um hospital da capital depois de entrar em coma enquanto estava sob custódia da polícia, desencadeando manifestações massivas que já deixaram ao menos 17 mortos até esta quinta-feira, 22, segundo o balanço oficial do governo -- apesar de ONGs de direitos humanos estimarem um número de mortos superior a 30.

Poucos detalhes sobre a detenção e a morte de Mahsa estão claros, com versões conflitantes do governo e de ativistas. No entanto, o caso virou um símbolo para manifestantes que saíram às ruas para exigir o fim do uso obrigatório do hijab pelas mulheres do país e cobrar mais liberdades individuais. Por outro lado, protestos a favor do governo e defendendo a continuidade do uso do véu também foram registrados nos últimos dias.

Protesto no centro de Teerã na quarta-feira, 21, após a morte de Mahsa Amini. Foto: AP

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A resposta do governo aos protestos tem sido violenta e criticada por observadores internacionais. O Alto Comissariado das Nações Unidas sobre Direitos Humanos e a Anistia Internacional denunciaram durante a semana o uso de munição letal e de força excessiva pelas forças de segurança iranianas para conter os atos públicos, enquanto informações do governo central apontam que pelo menos quatro agentes policiais foram mortos a facadas ou por disparos de arma de fogo nos últimos dias.

Entenda os principais pontos sobre a morte de Mahsa Amini e os protestos no Irã:

Quem é Mahsa Amini e como ela morreu?

Mahsa Amini era uma jovem de 22 anos natural da região do Curdistão, no noroeste do Irã. Ela visitava Teerã com a família quando foi presa pela polícia moral do país por usar “roupas inadequadas” e levada para uma unidade policial na terça-feira, 13. Três dias depois, autoridades iranianas informaram que ela morreu em um hospital da capital após entrar em coma enquanto estava sob custódia policial.

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Em um comunicado um dia antes da morte de Mahsa, a polícia de Teerã afirmou que a jovem havia sido detida com outras mulheres para receber “explicações e instruções” sobre o código de vestimenta. e teve um problema cardíaco, sendo transferida ao hospital. No dia em que a morte foi confirmada, a autoridade policial afirmou que “não houve contato físico” entre os agentes e a jovem. No sábado, ministro iraniano do Interior, Ahmad Vahidi, disse que “aparentemente Mahsa tinha problemas prévios de saúde e passou por uma cirurgia no cérebro aos cinco anos”.

Cartaz com foto de Mahsa Amini é carregado por manifestante durante protesto em frente à sede da ONU, em Nova York. Foto: Stephanie Keith/ AFP

A versão oficial foi contestada pela família de Mahsa e por organizações internacionais, o que desencadeou a onda de protestos. O pai da vítima, Amjad Amini, refutou a fala do ministro do interior, dizendo que a filha estava “em perfeito estado de saúde” antes de ser detida pela polícia. A Anistia Internacional questionou a prisão “arbitrária” da jovem, enquanto o Alto Comissariado das Nações Unidas sobre Direitos Humanos demonstrou preocupação após colher relatos de que ela teria sido atirada contra uma viatura policial e agredida com o golpe na cabeça.

Após a confirmação da morte de Mahsa, o presidente iraniano Ebrahim Raisi ordenou a abertura de uma investigação pelo ministério do Interior. No começo da semana, o diretor do serviço forense do Teerã declarou que as investigações sobre a morte da mulher estão em andamento, mas levariam três semanas.

Por que Mahsa Amini foi detida pela polícia moral do Irã?

Apesar dos protestos no Irã colocarem como pauta o uso obrigatório do véu, as declarações das autoridades policiais iranianas falam apenas sobre o “uso inadequado de roupas” pela jovem do Curdistão, sem maiores detalhes de qual regra exatamente teria sido infringida - uma vez que o véu não é a única vestimenta que tem o uso fiscalizado.

Desde a Revolução Islâmica de 1979, a lei em vigor no Irã exige que as mulheres, sejam iranianas ou estrangeiras e independente de sua religião, saiam de casa sempre com o véu na cabeça, cobrindo todo o cabelo. Atualmente, além disso, a polícia moral iraniana proíbe também calças justas, jeans rasgadas ou roupas de cores vivas, entre outras restrições.

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Mesmo antes do protestos, mulheres de Teerã e de outras grandes cidades têm desafiado silenciosamente as regras arcaicas, deixando cada vez mais o cabelo a vista, apesar do uso do véu. No sul de Teerã, mais pobre e conservador, o uso do chador (vestimenta que cobre o corpo todo) e de roupas escuras é predominante em comparação com o norte, mais abastado, onde é mais frequente a roupa mais informal. Na quarta-feira, 21, após vários dias de protestos, a normalidade voltou a Teerã e nos bairros do norte, e as jovens continuavam usando o véu bem para trás.

“Com este novo incidente, as pessoas já não chamam esta unidade de Gasht-e Ershad (patrulhas da orientação), mas de Ghatl-e Ershad (orientação do assassinato)”, conta Reyhaneh, uma estudante de 25 anos, no norte de Teerã. “O uso do hijab não teria que ser regido por uma lei”, acrescentou à France-Presse.

Qual o tamanho dos protestos no Irã?

Observadores internacionais já classificam a atual onda de protestos como a maior desde 2019, quando os iranianos começaram uma série de manifestações antigoverno após o aumento do preço do petróleo.

Dentro do Irã, um país com pouco espaço para a oposição ao regime teocrático, informações oficiais do governo iraniano, de ONGs e da imprensa internacional apontam que protestos ocorreram em ao menos 15 cidades, espalhadas por diversas regiões do país, incluindo Teerã, Mashhad (nordeste), Tabriz (noroeste), Rasht (norte), Isfahan (centro) e Shiraz (sul).

Manifestações contrárias ao governo iraniano também chegam de várias partes do mundo. Em Nova York, manifestantes levaram cartazes com fotos de Mahsa Amini para a frente da sede da ONU, durante a realização da Assembleia-Geral na quarta-feira, 21. Em Istambul, mulheres cortaram seus cabelos em frente ao consulado iraniano, em um ato pela liberdade feminina.

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Mulher iraniana corta o próprio cabelo em frente ao consulado do Irã em Istambul, na Turquia. Foto: Yasin Akgul/ AFP

Em resposta aos protestos antigoverno, manifestações a favor das autoridades iranianas foram realizadas nesta sexta-feira, 23, em todo o país. O Conselho de Coordenação de Desenvolvimento Islâmico do Irã anunciou manifestações em todo o país em apoio ao hijab e ao código de vestimenta conservador para mulheres, informou a agência de notícias oficial Irna. Na capital, Teerã, milhares de pessoas participaram de um ato, carregando bandeiras iranianas e gritando palavras de ordem contra os EUA e Israel.

O governo afirma que as manifestações favoráveis são espontâneas.

Como está a repressão aos protestos no Irã?

Organizações de Direitos Humanos vêm denunciando a repressão contra os manifestantes iranianos desde o começo da semana, afirmando que as forças de segurança do país estão utilizando munições letais e outros instrumentos de contenção de distúrbios sociais, usando de força desproporcional. Ao todo, pelo menos 17 pessoas morreram, entre manifestantes e policiais, de acordo com os números oficiais - ONGs apontam que mais de 30 pessoas teriam morrido.

Desde a quarta-feira, 21, autoridades iranianas fecham o cerco aos manifestantes com o bloqueio do acesso aos aplicativos do Instagram e do WhatsApp. A maior operadora de telecomunicações do país fechou em grande parte o acesso à internet móvel novamente na quinta-feira, 22. A Guarda Revolucionária do Irã também fez um pedido para o Judiciário processar “qualquer pessoa que espalhe notícias falsas e rumores” nas redes sociais sobre os distúrbios./ AFP e AP

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