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Maior iceberg do mundo gira há meses no mesmo lugar após ser ‘capturado’ em armadilha oceânica

Chamado de A23a, iceberg deveria estar acompanhando uma corrente oceânica, mas ficou ‘preso’ em cima de um enorme cilindro giratório de água

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Foto do author Katharina Cruz

Já faz meses que o maior iceberg do mundo está girando no mesmo lugar, ao norte da Antártida, desde que voltou a se mover depois de ter passado mais de 30 anos encalhado no fundo do oceano. Chamado de A23a, o iceberg deveria estar acompanhando a corrente oceânica mais poderosa da terra. Em vez disso, cientistas disseram à BBC que o bloco de gelo, que tem mais que o dobro do tamanho da região metropolitana de Londres, foi capturado em cima de um enorme cilindro giratório de água.

De acordo com a emissora britânica, o fenômeno é chamado de Coluna de Taylor pelos oceanógrafos - e é possível que o A23a permaneça assim por anos. “Normalmente, você pensa em icebergs como coisas transitórias; eles se fragmentam e derretem. Mas não este”, apontou o especialista polar e professor da Open University, Mark Brandon, à BBC News. “A23a é o iceberg que simplesmente se recusa a morrer”, afirmou.

O maior iceberg do mundo, chamado de A23a, está girando no mesmo lugar, ao norte da Antártida, há meses.  Foto: Derren Fox/BAS

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A longevidade do iceberg é bem documentada, aponta a BBC. Ele se separou da costa da Antártida em 1986 e em seguida se assentou no Mar de Weddell. Por três décadas, o A23a foi considerado uma “ilha de gelo” estática, sem se mexer. Foi apenas em 2020 que ele iniciou um movimento e começou a derivar novamente, lentamente no início, antes de então avançar para o norte em direção a águas e ar mais quentes.

Segundo a BBC, no início de abril deste ano, o A23a entrou na Corrente Circumpolar Antártica, que movimenta cem vezes mais água ao redor do globo do que todos os rios da Terra juntos - era para isso ter acelerado o iceberg, lançando-o em direção ao Atlântico Sul, mas, em vez disso, o A23a não foi a lugar nenhum. Ele permanece no mesmo local, ao norte das Ilhas Órcades do Sul, girando em direção anti-horária cerca de 15 graus por dia. Enquanto fizer isso, sua decadência e eventual morte serão adiadas.

O A23a não encalhou novamente; há pelo menos mil metros de água entre sua parte inferior e o fundo do mar, destaca a BBC. Ele foi parado por um tipo de vórtice - movimento forte e giratório - descrito pela primeira vez na década de 1920 pelo físico Geoffrey Ingram Taylor.

Taylor mostrou como uma corrente que encontra uma obstrução no fundo do mar pode - sob as circunstâncias certas - se separar em dois fluxos distintos, gerando uma massa de água giratória entre eles. Neste caso, a obstrução é uma saliência de 100 km de largura no fundo do oceano conhecida como Pirie Bank. O vórtice fica em cima do Pirie Bank e, por enquanto, o A23a está preso nele.

“As Colunas de Taylor também podem se formar no ar; você as vê no movimento das nuvens acima das montanhas”, explicou à BBC o professor Mike Meredith, do British Antarctic Survey. “Elas podem ter apenas alguns centímetros de diâmetro em um tanque de laboratório experimental ou ser absolutamente enormes, como neste caso em que a coluna tem um iceberg gigante no meio dela”, disse.

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Enigma

Ninguém sabe por quanto tempo o A23a poderá continuar girando no mesmo lugar, mas quando o professor Meredith colocou uma boia científica em uma Coluna Taylor acima de outra obstrução, a leste do Pirie Bank, o instrumento flutuante ainda estava girando no mesmo lugar quatro anos depois.

O A23a é uma ilustração perfeita da importância de entender o formato do fundo do mar. Montanhas, cânions e encostas submarinas têm uma influência profunda na direção e na mistura das águas e na distribuição dos nutrientes que impulsionam a atividade biológica no oceano. E essa influência se estende também ao sistema climático: é o movimento em massa da água que ajuda a dispersar a energia térmica ao redor do globo.

O comportamento do A23a pode ser explicado porque o fundo do oceano ao norte das Ilhas Órcades do Sul é razoavelmente bem conhecido e pesquisado. Esse não é o caso da maior parte do resto do mundo. Atualmente, apenas um quarto do fundo do mar da Terra foi mapeado de acordo com os melhores padrões modernos.

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