Maior usina nuclear da Europa está em situação grave após colapso de barragem, diz agência da ONU

Diretor-geral da agência atômica da ONU visitou a usina de Zaporizhzhia nesta quinta após o rompimento da represa de Kakhovka, cujas águas são usadas para resfriar os reatores

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

KIEV - O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou nesta quinta-feira, 15, que a situação na usina nuclear de Zaporizhzhia é grave, depois de fazer a terceira visita ao local desde o início da guerra. Segundo ele, a situação atual é consequência da destruição da represa na região, mas estão sendo tomadas medidas para estabilizar a usina.

PUBLICIDADE

“Pode-se observar de um lado que a situação é grave, as consequências estão ali e são reais”, disse Grossi à imprensa após sua inspeção. “Paralelamente, são tomadas medidas para estabilizar a situação”, acrescentou, sem dar mais detalhes.

Sua visita à usina nuclear, a maior da Europa, tinha como objetivo determinar se a instalação corria risco após a destruição da represa de Kakhovka no rio Dnieper, cujas águas são usadas para resfriar os reatores. Segundo ele, a central tem água suficiente apesar da destruição da barragem.

Inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica são vistos na usina nuclear de Zaporizhzhia Foto: OLGA MALTSEVA/AFP

Grossi se reuniu na terça-feira, 13, em Kiev com o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, para discutir preocupações sobre a usina, atualmente ocupada pela Rússia.

A AIEA expressou repetidamente alarme sobre a instalação, que é uma das 10 maiores do mundo, em meio a temores de uma potencial catástrofe nuclear. A agência tem funcionários estacionados na fábrica, que ainda é administrada por sua equipe ucraniana.

Publicidade

A usina foi alvo de múltiplos bombardeios pelos quais Rússia e Ucrânia se acusam mutuamente e teve várias vezes cortada a ligação com a rede elétrica, gerando preocupações sobre sua segurança.

Na semana passada, a destruição da barragem de Kakhovka na região de Kherson, parcialmente ocupada pela Rússia, no sul da Ucrânia, acrescentou uma nova preocupação. A represa, localizada mais abaixo no rio Dnipro, ajudou a manter a água em um reservatório que resfria os reatores da usina.

Os seis reatores da usina estão desligados há meses, mas ela ainda precisa de energia e pessoal qualificado para operar sistemas de refrigeração cruciais e outros recursos de segurança.

A Ucrânia disse recentemente que espera desligar o último reator em funcionamento. O processo insere hastes de controle no núcleo do reator para interromper a reação de fissão nuclear e a geração de calor e pressão.

Vista da barragem de Kakhovka, próxima da usina nuclear de Zaporizhzhia Foto: OLGA MALTSEVA/AFP

Contraofensiva ucraniana

No front, os combates continuavam no âmbito da ofensiva lançada pelo exército ucraniano em pelo menos três setores e Kiev reportou a recuperação de algumas localidades. Segundo a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Ganna Maliar, no sul há um avanço gradual, mas constante, dos soldados ucranianos, apesar da forte resistência das tropas russas.

Publicidade

No leste, as forças ucranianas avançaram mais de três quilômetros nos últimos 10 dias na região de Bakhmut, acrescentou Maliar.

No total, o exército ucraniano tomou mais de cem quilômetros quadrados em uma semana de combates, disse um funcionário do estado-maior do exército ucraniano, Oleksii Gromov.

Correspondentes da AFP na região de Donetsk observaram nesta quinta-feira uma unidade de artilharia bombardeando tropas russas em Bakhmut. Os soldados ucranianos relataram avanços lentos pelos flancos norte e sul da cidade.

As afirmações contradizem as declarações do presidente russo, Vladimir Putin, que durante a semana anunciou que os ataques ucranianos foram evitados e que as baixas de Kiev eram catastróficas.

O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, insistiu em que “os ucranianos ainda têm grande capacidade de combate, grande potência de combate e podem recuperar e reparar os equipamentos danificados”.

Publicidade

Vista do canal que liga o reservatório de Kakhovka, responsável por armazenar as águas que resfriam o reator da usina Foto: OLGA MALTSEVA/AFP

Eleições em territórios ocupados

A Rússia também deu continuidade à campanha de bombardeios, principalmente noturnos, em centros urbanos da Ucrânia. A cidade natal do presidente Volodmir Zelenski, Krivii Rih, foi atingida por mísseis pela segunda vez em três dias. “Três mísseis atingiram duas empresas industriais que não têm relação com os militares”, afirmou o comandante militar da cidade, Oleksandr Vilkul. Um homem ficou ferido no ataque.

De acordo com as Forças Armadas ucranianas, um quarto míssil e 20 drones lançados a partir do norte e do sul foram interceptados pela defesa aérea em todo o país.

Na península da Crimeia, outro território sob ocupação russa, anexado em 2014, o governador designado por Moscou afirmou que as forças do Kremlin derrubaram nove drones ucranianos. Um dispositivo, no entanto, atingiu um vilarejo no centro da península, sem provocar vítimas, apenas danos materiais.

Uma especialista da ONU, Alice Jill Edwards, alertou nesta quinta que, segundo vários testemunhos, tropas russas na Ucrânia torturam sistemática e intencionalmente civis e prisioneiros de guerra com a aprovação do Estado.

A relatora especial informou em carta endereçada às autoridades russas que as “práticas denunciadas incluem choques elétricos, espancamentos, simulações de execução e outras ameaças de morte”.

Publicidade

Também nesta quinta, a Comissão Eleitoral Russa anunciou que vai organizar eleições locais em 10 de setembro nos territórios ucranianos ocupados pela Rússia e que Moscou reivindicou como anexados em setembro de 2022.

Segundo a comissão, as eleições têm como objetivo definir as assembleias regionais e os conselhos municipais, apesar dos combates e do fato de Moscou controlar apenas uma parte das regiões de Luhansk e Donetsk, no leste, e de Zaporizhzhia e Kherson, no sul./AFP e AP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.