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Mais de 150 são denunciados por invasão do Capitólio, e investigadores tentam provar conspiração

Embora as acusações iniciais tenham sido por crimes menores, Justiça acrescentou denúncias 'significativas' de crimes graves para a maioria dos acusados

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Por Redação

WASHINGTON - Mais de 150 pessoas foram denunciadas por crimes federais após a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro, episódio insuflado pelo ex-presidente Donald Trump.

Segundo o Departamento de Justiça, investigações já foram abertas contra mais de 400 suspeitos, mas ainda assim há dificuldades para comprovar que houve uma conspiração para invadir o prédio, causando cenas de violência que deixaram cinco mortos e dezenas de feridos.

Manifestantes pró-Trump invadem o Capitólio, em Washington, para defender presidente contra 'fraude eleitoral'. Foto: Evelyn Hockstein for The Washington Post

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Segundo o promotor responsável pelas investigações, Michael Sherwin, as acusações são fundamentadas por um material maciço, como vídeos e registros nas redes sociais, e por um grande número de denúncias anônimas. 

Na internet, grupos se reuniram para tentar identificar os invasores por meio de bancos de dados públicos e imagens disponíveis na rede. A expectativa do Departamento de Justiça é que o número de ações continue a crescer. "Enquanto estamos sentados aqui, agora, a lista continua crescendo", disse Sherwin.

Embora as acusações iniciais tenham sido por crimes menores, como a entrada ilegal no Capitólio ou conduta desordenada, o procurador explicou que foram acrescentadas acusações "significativas" de crimes graves para a maioria dos 150 acusados. 

Entre elas, ataques a agentes de segurança e obstrução de procedimentos federais, já que as turbas tinham por fim paralisar a sessão conjunta da Câmara e do Senado que certificaria a vitória de Biden. Se condenados, os acusados ficam sujeitos a penas que variam de cinco a 20 anos de prisão.

Sherwin disse ainda que três pessoas foram denunciadas e outras estão sendo investigadas por insurreição e conspiração devido a seu suposto papel no planejamento dos eventos do último dia 6. Segundo o procurador, isto é significativo "porque demonstraria que grupos de milicianos estiveram envolvidos no planejamento e posterior entrada à força ao Capitólio".

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Apesar das investigações maciças, os investigadores têm dificuldade para encontrar acusações sólidas que comprovem a existência de uma conspiração disseminada para atacar o prédio. A maior parte do foco até o momento está na milícia de extrema direita Oath Keepers e no Proud Boys, duas organizações extremistas com ampla presença em Washington no último dia 6.

Para tentar determinar como a liderança do Proud Boys se comunicou durante os últimos meses e a extensão de seus planos, a Justiça emitiu mandados de busca relacionados ao grupo, disseram fontes com conhecimento das investigações ao New York Times. Até o momento, seis membros da organização já foram presos por conexões com os eventos em Washington.

Entre os detidos está um de seus líderes, Joseph Biggs. O ex-veterano do Exército capitaneou cerca de 100 homens durante a marcha entre o palco onde Trump fez seu discurso mais cedo no dia 6 e o Capitólio, que foi invadido logo em seguida. Um dos alvos dos mandados de busca recentes, Ethan Nordean, foi filmado ao lado de Biggs dando ordens por meio de um megafone. Ele ainda não foi formalmente acusado.

Outro organizador dos Proud Boys, Eddie Block, filmou Biggs e Nordean durante o incidente na capital, segundo fotos que constam no processo de Biggs. Em um vídeo no fim de semana, ele admitiu que cerca de 25 agentes federais estiveram na sua casa na sexta, confiscando dois celulares, um laptop, um iPad, um Xbox e um computador antigo. 

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O FBI disse que realiza investigações similares sobre os Oath Keepers, grupo composto majoritariamente por agentes de segurança e militares, e os Three Percenters, que emergiu da ala mais extrema do movimento pró-armas. Diversos integrantes de ambas organizações já foram acusadas em conexão com o ataque no Capitólio, incluindo três pessoas que enfrentam as acusações mais duras até aqui. 

Outro alvo de investigações é Enrique Tarrio, o presidente dos Proud Boys. Ele deveria ter participado dos atos do dia 6, mas foi expulso de Washington após ser preso, no dia 4, por queimar um banner do movimento Black Lives Matter que havia sido retirado de uma igreja historicamente negra durante atos da extrema direita no fim de 2020.

Em documentos relacionados à ação contra Biggs, consta que Tarrio começou a encorajar integrantes do Proud Boys a participarem da marcha ainda em dezembro. Nas vésperas, deu orientações no Parler, rede social popular entre os seguidores do ex-presidente, para que os membros do grupo evitassem usar as tradicionais roupas pretas e amarelas e se locomovessem pela cidade em grupos menores.

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Ao NYT, ele tentou minimizar a participação do grupo - apesar de vários dos 150 terem envolvimento com o Proud Boys - e afirmar que qualquer um que cometeu atos de agressão ou vandalismo deve ser processado. Investigadores, contudo, analisam se ele teria agido para coordenar e planejar os atos.

No dia do ataque, Tarrio postou no Parler, chamando os membros dos Proud Boys que dele participaram dos atos "revolucionários" e instando-os a não deixarem o local. "Por enquanto, estou gostando do show", escreveu ele, acrescentando: "Faça o que deve ser feito".

Qualquer evidência que venha a emergir sobre conspirações pode se tornar evidência no julgamento de impeachment contra Trump, que começa no dia 8 no Senado. O ex-presidente é acusado de incitar a insurreição no Capitólio, mas provas de que o incidente foi orquestrado dias ou semanas antes por grupos de extrema direita pode enfraquecer o argumento democrata. Por outro lado, podem indicar também que os ataques foram inspirados pelas semanas de retórica falsa do presidente.

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