Mais rico que a família real: fortuna do novo premiê Rishi Sunak ganha evidência no Reino Unido

Pela primeira vez na história os residentes de Downing Street são mais ricos que os do Palácio de Buckingham

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Por Karla Adam

LONDRES — Rishi Sunak é uma das pessoas mais ricas do Reino Unido e acaba de se tornar o homem mais poderoso do país, ao assumir o cargo de primeiro-ministro, conforme amplamente esperado. É a primeira vez na história que os residentes de Downing Street são mais ricos que os do Palácio de Buckingham.

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Os britânicos estão acostumados a ser governados pelas elites, Boris Johnson era tão elite quanto é possível ser, mas Sunak não é simplesmente rico, ele é super-rico, o que faz alguns se perguntarem se sua vasta fortuna não o torna rico demais para ser primeiro-ministro.

Seus apoiadores, contudo, afirmam que é precisamente essa origem e os anos que ele passou ganhando dinheiro que o qualificam para liderar uma nação profundamente castigada nestes tempos de tumulto econômico.

O novo primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, deixa a sede do Partido Conservador em Londres  Foto: Henry Nicholls/Reuters - 24/10/2022

Sunak, ex-banqueiro, e sua mulher, Akshata Murty, herdeira de um império indiano de tecnologia, possuem uma fortuna estimada em 730 milhões de libras (R$ 4,3 bilhões), segundo a Rich List do Sunday Times. Na lista de 2022, a fortuna do rei Charles III foi estimada em 370 milhões de libras (R$ 2,2 bilhões), em comparação.

A fortuna do casal vem principalmente da participação de Murty na empresa de seu pai, a Infosys. Ela também é dona da incubadora de startups Catamaran Ventures UK e possui ações de aproximadamente meia dúzia de empresas. O casal é dono de pelo menos três casas no Reino Unido e outra em Santa Monica, Califórnia, uma propriedade avaliada em US$ 6 milhões (R$ 31 milhões).

De acordo com o jornal The Guardian, a família Sunak — eles têm duas filhas, Krishna e Anoushka — passa a semana em sua residência de cinco quartos, na zona oeste de Londres, e os fins de semana em sua mansão georgiana, em North Yorkshire. O jornal afirmou que o local foi “transformado em algo parecido com um refúgio de bem-estar, com uma piscina interna de £ 400 mil (R$ 2,3 milhões), academia de ginástica, estúdio de ioga, jacuzzi e quadra de tênis”.

Os eleitores se importam com isso?

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“Não há dicotomia”, afirmou o professor de ciência política Robert Ford, da Universidade de Manchester. “Os britânicos em geral não consideram ser rico algo ruim ou desqualificador. Há muitos indivíduos muito ricos que são muito populares com o público.”

Escândalo tributário

“As pessoas de fato se preocupam com a possibilidade de os ricos ajeitarem as regras ao seu favor — como manter o status de não domiciliada para sua mulher se você é secretário do Tesouro, ou guardar green-cards nos EUA caso as coisas fiquem ruins, ou simular uma renda familiar menor para fins de tributação. As pessoas pensam, ‘Bem, não me importo, desde que eles paguem seus impostos; mas, se eles não pagam, isso realmente me incomoda’”, afirmou ele.

Este ano, a mulher de Sunak esteve no centro de um escândalo tributário depois que tornou-se público que ela vinha se registrando no Reino Unido como residente “não domiciliada”, o que lhe permitia evitar pagar impostos britânicos sobre a substancial renda que ela obtinha no exterior. A família vivia no Número 10 de Downing Street, no apartamento designado para o secretário do Tesouro (cujas dependências residenciais são menores do que no Número 11 de Downing Street, onde os primeiros-ministros costumam preferir viver). Os caminhões de mudança chegaram quando o escândalo ainda fervilhava.

Também tornou-se público aproximadamente na mesma época que Sunak manteve um green-card americano enquanto era secretário do Tesouro, ou ministro das Finanças. Seu porta-voz disse que ele havia devolvido o documento no ano passado.

Os críticos de Sunak buscam enfatizar sua origem privilegiada. Apontam que ele frequentou a Winchester College, uma instituição de 600 anos, onde as taxas anuais para o regime de internato, no qual ele era matriculado, ultrapassavam US$ 52 mil.

‘Perfeito’ para a função

Na recente eleição para liderança do Partido Conservador, no verão (Hemisfério Norte), eles circularam um trecho de um documentário da BBC, de 2007, no qual Sunak sugere que não tem “amigos de classe média”.

Sunak também foi atacado por discursar para conservadores tradicionais do partido, afirmando que, como secretário do Tesouro, tentou reverter fórmulas de financiamento “que metiam todo o dinheiro em áreas urbanas carentes”, direcionando, em vez disso, os recursos para cidades mais ricas.

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Durante estes tempos turbulentos, com preços de energia nas alturas e inflação galopante, contudo, os apoiadores de Sunak contra-argumentam afirmando que sua origem — não sua fortuna, mas sua experiência em finanças e no Tesouro — fazem dele o homem perfeito para a função de primeiro-ministro.

Antes de virar parlamentar — apenas sete anos atrás, iniciando uma rápida ascensão em termos de política britânica — Sunak trabalhou como banqueiro de investimentos no Goldman Sachs e como gerente de um fundo de hedge. Mais recentemente, ele serviu ao governo como secretário do Tesouro, período em que se tornou enormemente popular, ao distribuir ajudas em dinheiro durante a pandemia.

Ele apareceu mais bem colocado que todos os seus adversários na atual disputa pela liderança por sua competência econômica. Na disputa anterior, contra Liz Truss, Sunak afirmou que os planos dela tinham base em uma “fantasia” econômica — um pronunciamento que se provou premonitório quando o “mini-orçamento” de Truss causou turbulências generalizadas nos mercados.

O novo líder do Partido Conservador deixa sua casa, em Londres; fortuna em evidência Foto: Justin Tallis/AFP - 24/10/2022

O atual secretário do Tesouro, Jeremy Hunt, que espera manter-se no cargo, expressou apoio a Sunak. Em um artigo publicado no Daily Telegraph, ele afirmou que o povo britânico procura uma pessoa capaz de enfrentar a atual crise.

“Nossas finanças públicas, credibilidade no mercado e reputação internacional levaram um duro golpe. Para restaurar a estabilidade e a confiança, precisamos de um líder em que possamos confiar para fazer escolhas difíceis”, escreveu ele. “Também precisamos de alguém capaz de explicar essas escolhas para as pessoas que se preocupam com seus empregos, hipotecas e serviços públicos. Temos em Rishi Sunak um líder capaz exatamente disso.”

O tema de sua riqueza, porém, ainda poderia ser uma vulnerabilidade a longo prazo após a atual disputa. Steven Fielding, professor de ciência política da Universidade de Nottingham, afirmou que, com Sunak vitorioso, a oposição do Partido Trabalhista provavelmente tentará marcar alguns pontos qualificando-o como “distante da realidade”, como fizeram no ano anterior quando, em uma discussão a respeito de uma alta nos preços dos alimentos, Sunak descreveu “todos os diferentes pães que há na minha casa”.

E dados os ventos contrários na economia, a crise no custo de vida deverá piorar bastante para muitos britânicos, que já sentem a pressão.

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Fielding também afirmou que a desastrosa política econômica de Truss, que foi rejeitada imediatamente pelo mercado por seus cortes de impostos não financiados, significa que as políticas do próximo líder serão “basicamente prisioneiras de Liz Truss e consequências de Liz Truss”.

“Quem se tornar líder terá adiante dois anos em que seu programa econômico já estará decidido. O público britânico sofrerá severamente”, acrescentou ele, notando que a política econômica será principalmente de controle de danos e equilíbrio fiscal. “São diferentes tons de ruindade”, afirmou ele. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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