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Peculiaridades da terra que elegeu Donald Trump

Trump retira EUA do acordo nuclear iraniano

Ele afirmou que os EUA restabelecerão todas as sanções econômicas que haviam sido suspensas em razão do pacto, que era uma das principais realizações internacionais de seu antecessor, Barack Obama

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Por Redação Internacional

Cláudia Trevisan, Correspondente / Washington

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Ignorando apelos de seus aliados europeus, o presidente americano, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, mas disse estar disposto a negociar um pacto mais abrangente. Mais importante decisão de política externa de seu governo, a medida pode fortalecer os conservadores em Teerã, provocar uma corrida armamentista no Oriente Médio, aumentar o risco de conflito na região e afetar a credibilidade de Washington.

Trump afirmou que os Estados Unidos restabelecerão todas as sanções econômicas que haviam sido suspensas em razão do pacto, que era uma das principais realizações internacionais de seu antecessor, Barack Obama.

"No coração do acordo do Irã estava a gigantesca ficção de que um regime assassino desejava apenas um programa nuclear pacífico", declarou Trump ao anunciar sua decisão na Casa Branca. "Hoje, nós temos a prova definitiva de que essa promessa iraniana era uma mentira", acrescentou.

 

Trump anuncia sua decisão na Casa Branca. Foto: Saul Loeb/AFP

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Logo depois de seu pronunciamento, o presidente do Irã, Hassan Rohani, disse que está disposto a permanecer no pacto, por meio de negociações com seus demais signatários: França, Reino Unido, Alemanha, China, Rússia e União Europeia.

Mas alertou que mudará de posição caso as conversas fracassem. "Ordenei à Agência de Energia Atômica do Irã a se preparar e, quando quer que seja necessário, começar a enriquecer urânio mais do que nunca."

'Sério erro'. Obama divulgou uma longa nota, na qual qualificou a decisão de um "sério erro". Segundo o ex-presidente americano, o acordo reverteu avanços no programa nuclear iraniano e está sendo implementado sem violações de seus termos. Além disso, sua negociação não envolveu apenas os EUA e o Irã.

"É um pacto multilateral de controle de armas, endossado de maneira unânime pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU)." Sem ele, afirmou Obama, "os Estados Unidos poderão ficar com uma escolha perdedora entre um Irã com armas nucleares ou outra guerra no Oriente Médio".

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Ao justificar sua decisão, Trump se referiu a documentos apreendidos pelo serviço de inteligência de Israel e divulgados há poucos dias pelo primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, um dos únicos líderes internacionais a apoiar a decisão de ontem. Analistas concluíram que as informações eram superadas - muitas eram datadas de 13 anos atrás - e se referiam a uma fase do programa nuclear abandonada pelo Irã antes do acordo, assinado em 2015.

Agências de inteligência dos EUA concluíram que o Irã cumpria as obrigações previstas no pacto, pelo qual aceitou restrições em seu programa nuclear em troca do levantamento de parte das sanções econômicas impostas por americanos e europeus.

Recentemente, o novo secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o diretor de Inteligência Nacional, Dan Coates, disseram publicamente que o Irã vinha cumprindo o acordo. Para Trump, no entanto, a decisão teve menos a ver com o não cumprimento do pacto e mais com a intenção de acabar com o acordo que, segundo ele, nunca deveria ter sido firmado.

 

Netanyahu. "A remoção de sanções sob o acordo já produziu resultados desastrosos. O acordo não afastou uma guerra, a aproximou. O acordo não reduziu a agressão do Irã, a aumentou drasticamente. E vemos isso em todo o Oriente Médio", declarou Netanyahu, em um comunicado. "Desde o acordo, vimos a agressão do Irã crescer a cada dia - no Iraque, no Líbano, no Iêmen, em Gaza e, acima de tudo, na Síria, onde o Irã está tentando estabelecer bases militares para atacar Israel", acrescentou o premiê.

A decisão de Trump aumentou o risco de conflito armado no Oriente Médio, avaliou Shireen Hunter, que foi a primeira mulher no serviço diplomático do Irã, do qual saiu em 1979, ano da Revolução Islâmica. "Netanyahu quer que os Estados Unidos invadam o Irã", afirmou Hunter, que hoje é professora da Universidade Georgetown, em Washington.

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O impacto do anúncio será fortalecer os integrantes da linha-dura do regime, que são obcecados com Israel e Jerusalém, observou. "Eles são uma minoria poderosa, que receberia bem uma guerra cataclísmica no Oriente Médio se isso destruísse Israel, mesmo que à custa de sua própria destruição." Ainda assim, sua avaliação é a de que o atual governo iraniano não cumprirá a ameaça de retomar o enriquecimento de urânio. "Se fizerem isso, eles vão antagonizar os europeus, os chineses, os russos e piorar sua situação."

Promessa. Ao abandonar o acordo, Trump cumpriu uma de suas mais célebres promessas de campanha, o que certamente agradará a sua base conservadora. "Os Estados Unidos não fazem mais ameaças vazias. Quando eu faço promessas, eu as mantenho", disse Trump. No entanto, ele disse que buscará um novo acordo, que aborde questões ausentes do que foi abandonado ontem.

Trump defende a eliminação do programa de mísseis balísticos de Teerã, o bloqueio das atividades iranianas fora de suas fronteiras e a proibição permanente ou por prazo mais extenso do enriquecimento de urânio. Pelo acordo atual, o Irã poderia retomar essas atividades para fins pacíficos depois de 15 anos.

"Se não fizermos nada, nós sabemos exatamente o que vai acontecer. Em um curto período de tempo, o Estado líder no patrocínio do terrorismo estará à beira de adquirir as armas mais perigosas do mundo", acrescentou o presidente americano.

Em visitas a Washington na semana retrasada, o presidente francês, Emmanuel Macron, e a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, defenderam a permanência dos EUA no acordo. Segundo eles, os pontos que preocupam Trump deveriam ser tratados em negociações adicionais com Teerã.

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Os europeus afirmaram em várias ocasiões que permanecerão no pacto, mas analistas consideram improvável sua sobrevivência diante do restabelecimento de sanções econômicas pelos EUA. Mesmo que os europeus não sigam o mesmo caminho, suas empresas ficariam sujeitas a penalidades das autoridades americanas em eventuais negócios com a República Islâmica.

Em resposta ao comunicado de Trump, Macron afirmou hoje que a França, a Alemanha e o Reino Unido lamentam a decisão e vão "trabalhar coletivamente" para alcançar um acordo "mais amplo".

Para permanecer no pacto, Trump exigia a extensão do período de aplicação de restrições ao Irã e ampliação dos mecanismos de fiscalização de suas obrigações. Pelo texto atual, a República Islâmica poderá voltar a enriquecer urânio para fins pacíficos ao fim de um prazo de 15 anos, o que o atual ocupante da Casa Branca considera inaceitável. O americano defendia ainda a inclusão no acordo de limites ao programa de mísseis balísticos do Irã e às atividades da República Islâmica em outros países da região, como Síria, Iraque, Líbano e Iêmen.

Ex-diplomata e professor da Harvard Kennedy School Nicholas Burns classificou a decisão de Trump de "irresponsável" em um post no Twitter. "Esse acordo efetivamente tirava o Irã no negócio de armas nucleares por 15 anos", escreveu.

"Sair do acordo do Irã sem um Plano B torna mais provável um conflito com o Irã e significa que não se pode contar com que a América mantenha sua palavra. É também o movimento exatamente errado quando entramos em negociações com a Coreia do Norte", escreveu no Twitter o deputado democrata Adam Shiff, da Comissão de Inteligência da Câmara.

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A decisão de Trump abala a credibilidade internacional dos EUA no momento em que ele está prestes a se encontrar com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, para negociar o fim de seu programa nuclear.  "Acordos executivos são uma moeda preciosa do poder americano e da liderança presidencial; o mundo acredita que eles representam a plena fé e crédito de nosso país", observou nesta terça-feira, em depoimento ao Congresso, o embaixador Lincoln Bloomfield Jr., que trabalhou na área de segurança nacional nos governos Ronald Reagan, George H.W. Bush e George W. Bush.

No anúncio desta terça-feira, o presidente disse que o secretário de Estado, Mike Pompeo, estava a caminho de Pyongyang para negociar os termos do acordo bilateral em que EUA e Coreia do Norte discutirão o programa nuclear do país mais fechado do mundo.

Há duas semanas, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Jafadi Zarifi, disse em entrevista à Associated Press que o acordo não ficará de pé sem os EUA. "Se os Estados Unidos deixarem o acordo nuclear, a consequência imediata mais provável é que o Irã responda da mesma maneira e também saia", declarou. "Não haveria nenhuma vantagem para o Irã permanecer."

Na época, o secretário do Supremo Conselho de Segurança Nacional do Irã, Ali Shamkhani, afirmou que seu país poderia abandonar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear caso os americanos abandonassem o pacto. Esse cenário abriria a possibilidade de uma corrida armamentista nuclear entre o Irã e seus vizinhos árabes.

 

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