Manifestantes detidos em Moscou são obrigados a escolher entre ir para a guerra ou 10 anos de prisão

Relatos de presos apontam que ultimato está sendo dado por autoridades russas

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Por Redação
Atualização:

MOSCOU - Mikhail Suetin já esperava ser detido na manifestação contra o envio de milhares de reservistas à Ucrânia em Moscou. O que ele não previu é que, na prisão, receberia uma ordem de mobilização para enviá-lo à linha de frente.

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Horas depois de Vladimir Putin anunciar a mobilização de 300 mil homens e mulheres na quarta-feira, 21, Suetin, músico de 29 anos, foi protestar na avenida Arbat. E, assim como outras 1.300 pessoas em todo o país, foi detido.

“Eu esperava os procedimentos habituais: a prisão, a delegacia de polícia, o tribunal”, relata o jovem, entrevistado por telefone na quinta-feira, 22, pela France-Presse. “Mas me disseram: ‘Amanhã você irá para a guerra’. Isso sim foi uma surpresa”, acrescentou.

Manifestantes são presos durante ato contra a convocação de reservistas para a guerra na Ucrânia em Moscou. Foto: AP - 21/09/2022

Segundo a ONG OVD-Info, Suetin não é o único manifestante que recebeu ordem de mobilização na delegacia de polícia, após ter sido detido. Enquanto isso, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse aos repórteres que não havia nada de “ilegal” nisso.

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Suetin conta que, após sua prisão, os policiais o conduziram a uma sala onde queriam que ele assinasse uma intimação para ir a um centro de mobilização do Exército. “Ou assina isso ou passa dez anos na prisão”, detalhou o músico.

Na última terça-feira, 20, na véspera do anúncio de Putin sobre a mobilização, o parlamento votou um projeto de lei ampliando as penas de prisão para os desertores e para quem violar o serviço militar - mas o texto ainda não entrou em vigor.

Suetin se recusou a assinar a convocação por conselho de seu advogado e foi liberado na manhã desta quinta-feira, 22. Entretanto, os policiais avisaram que o poderoso Comitê de Investigação da Rússia, encarregado das investigações criminais mais importantes, seria informado sobre a rejeição, o que lhe traria “grandes problemas”.

‘Infelizmente, assinei’

Andrei, que completou 19 anos na semana passada, também foi na quarta-feira para as manifestações em Moscou. Ele foi preso e recebeu a mesma intimação para mobilização. Ao contrário de Suetin, o adolescente assinou sob “ameaça” o documento, o qual a France-Presse teve acesso a uma cópia digital.

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“Claramente eu não poderia escapar. Olhei ao redor, e decidi que não poderia resistir”, ele disse por telefone. “Infelizmente, assinei”, acrescentou.

Soldados ucranianos disparam em Kupiansk, recentemente retomada, na região de Kharkiv. Foto: Kostiantyn Liberov/ AP

Andrei acaba de iniciar seu estudos na Universidade. Apesar de Kremlin e o ministro da Defesa, Serguei Shoigou, assegurarem que nenhum estudante seria convocado e que as forças russas privilegiariam reservistas com habilidades específicas ou experiência militar, o jovem foi intimado.

“Mas como se diz aqui, a Rússia é um país onde a expansão do possível é infinita”, ele constata com amargura.

Andrei, que ainda busca um advogado, acabou decidindo não ir ao centro de mobilização no horário previsto, quinta-feira às 10h00, apesar de não saber quais serão as consequências. “Não disse nada aos meus pais, porque eles vão se preocupar”, explica. “Vou contar quando tiver uma ideia mais evidente do que vai acontecer comigo”, acrescenta o rapaz./ AFP

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