BILBAO, ESPANHA - Milhares de pessoas se manifestaram neste sábado, 21, em Bilbao, norte da Espanha, para pedir melhores condições de prisão para os membros do grupo separatista basco ETA, semanas antes de sua anunciada dissolução.
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Entoando a frase "Presos bascos para casa" e acenando com bandeiras do País Basco, os manifestantes pediram que os presos sejam transferidos para presídios perto de sua região de origem porque estão em penitenciárias a centenas de quilômetros de distância.
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A manifestação foi registrada um dia depois de o ETA pedir perdão às vítimas pelo "grave dano" causado durante sua luta armada pela independência do País Basco, um gesto prévio à sua aguardada dissolução, embora suas desculpas dirigidas apenas aos afetados "sem responsabilidade" no conflito tenha provocado discussão na Espanha.
"Lamentamos de verdade", informou o texto divulgado quase 60 anos depois da criação, em 1959, da organização, à qual é atribuído um histórico de atentados a bomba e assassinatos que deixaram, segundo autoridades, ao menos 829 mortos, tanto no País Basco quanto no restante da Espanha, e alguns também na França.
Neste sábado, os manifestantes pediram ao governo espanhol que autorize a transferência de presos do ETA ao País Basco para que seus parentes idosos possam visitá-los. A maioria dos presidiários está sujeita a um regime de prisão mais estrito, que lhes permite banho de sol de três a quatro horas no pátio do presídio, mas sem autorização para sair.
Em sua conta no Twitter, o partido separatista basco Sortu informou que "é urgentemente necessário abolir a dispersão, permitir que os presos doentes voltem para casa". O governo espanhol informou que não mudará sua política com relação aos presos vinculados a um grupo que também realizou sequestros e extorsões em nome de sua luta armada pela independência do País Basco e de Navarra.
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Cerca de 300 membros do ETA cumprem penas na Espanha, na França e em Portugal, e uma centena está foragida, segundo o Fórum Social, associação que reúne os parentes dos presos.
Reações
Alguns políticos da Espanha reivindicaram neste sábado que o ETA admita o dano causado "a todas" as vítimas, sem distinções, e insistiram que sua dissolução deve ser "real e definitiva".
"Com a lei e apenas com a lei" foi vencida a organização terrorista, "sem oferecer nada em troca", garantiu o ministro da Justiça da Espanha, Rafael Catalá, que criticou o fato de o ETA não ter pedido perdão, entre outras vítimas, à Guarda Civil, um corpo policial fortemente prejudicado pelas ações dos terroristas.
O presidente do Partido Popular (PP) na região do País Basco, Alfonso Alonso, assegurou que o ETA "jamais será perdoada" e qualificou o comunicado do grupo de "repugnante" e "imoral", escrito "por uma mente psicopata, incapaz de sentir remorso e arrependimentos sinceros por seus crimes".
Por sua vez, o líder do Partido Socialista e Operário da Espanha (PSOE), Pedro Sánchez, considerou a dissolução da organização terrorista como "um passo importante", que espera que seja "o final definitivo", mas afirmou que na memória ficarão "as vítimas, os parentes, políticos, juízes, promotores, corpos e forças de Segurança do Estado e companheiros" que foram assassinados. / AFP e EFE
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