SÃO PAULO - Em 1970, o presidente Richard Nixon expôs ao Senado dos EUA sua estratégia de paz: reduzir a presença militar americana no mundo, começando pelo velho continente, e criar um equilíbrio entre polos globais de poder. Para pavor dos aliados europeus, que viam Moscou cada dia mais perto da supremacia nuclear, a "Doutrina Nixon" soava como a capitulação. Houve quem anunciasse o fim da Guerra Fria.
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Mas os EUA, num movimento inesperado, mudaram o jogo, convidando mais jogadores ao tabuleiro. E para realizar essa difícil manobra, Nixon fez algo na categoria do inimaginável: em 1972, ele foi à China.
O encontro com Mao Tsé-tung e com o primeiro-ministro chinês, Chu En-lai, eram eventos de suma relevância mundial, acontecimentos históricos. Para registrá-los, um show midiático foi armado. Era de se prever que a cobertura jornalística fosse disputada a tapa. Jornalistas falam do frenesi das redações e da disputa por credencias.
A comitiva acertou no roteiro e na apresentação, as imagens da visita suavizaram inquietações. Fotógrafos e repórteres registraram tudo: brindes celebrando os laços refeitos; Nixon no teatro com Madame Mao; o casal presidencial americano posando para fotos na serpenteante Muralha da China; a primeira-dama dos EUA, Pat, comprando porcelana para casa e pijamas de seda para o marido, enquanto ele se deliciava almoçando pato laqueado.
No dia 22, os leitores viram na capa do Estado a cena mais ansiada: o aperto de mão de Nixon e Mao. Cada dia da viagem, cada passo da negociação foi extensivamente noticiado. Só uma tragédia tirou Nixon das manchetes: o incêndio no Edifício Andraus.
A cobertura mostrou o lado encantador e amistoso da China, exatamente como a assessoria de imprensa de Washington planejou. Mas não falhou em analisar cada movimento de Nixon, decodificando a intenção política por trás de seus passos. Oito editoriais discutiram e apontaram os diversos ângulos e revezes da aproximação entre os dois gigantes.
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