Matteo Messina Denaro: quem é o último padrinho da Cosa Nostra, máfia italiana da Sicília

Especialista em armas de fogo, ele sabia atirar desde os 14 anos e cometeu seu primeiro homicídio aos 18

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Por Redação

ROMA - O siciliano Matteo Messina Denaro, o último padrinho da Cosa Nostra, detido nesta segunda-feira depois de ter vivido 30 anos na clandestinidade, era um assassino implacável, que mandava tanto em massacres quanto em negócios milionários e adorava o luxo.

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“Com as pessoas que matei, poderia encher um cemitério inteiro”, gabou-se certa vez, referindo-se às pessoas que matou pessoalmente, com as próprias mãos, por estrangulamento.

Especialista em armas de fogo, ele sabia atirar desde os 14 anos e cometeu seu primeiro homicídio aos 18. Um vídeo postado pelo jornalista Antonello Guerrera no Twitter mostra pessoas aplaudindo a polícia após a prisão do mafioso.

Foto mostra policiais italianos escoltando o chefe da Cosa Nostra, Matteo Messina Denaro, preso em Palermo, na Sicília, após 30 anos foragido  Foto: Carabinieri Press Office / AFP

O “chefão” da máfia estava na lista dos criminosos mais procurados do mundo como líder da poderosa e temida máfia siciliana Cosa Nostra, especializada no tráfico milionário de drogas, prostituição, extorsão e lavagem de dinheiro.

Apelidado de Diabolik, nome de um protagonista criminoso de uma famosa história em quadrinhos italiana, ele era o líder indiscutível da organização, que também tem tentáculos no mercado imobiliário, setor de energia eólica e apostas online.

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Nascido em 26 de abril de 1962 em Castelvetrano, no sudoeste da Sicília, fazia parte da organização desde a infância graças ao pai, Don Ciccio, líder do clã local. Líder da nova geração que substituiu os antigos padrinhos, o Príncipe de Trapani, como era frequentemente chamado, tinha uma verdadeira paixão por carros de luxo, mulheres e relógios de ouro.

Amante de jogos eletrônicos, seus seguidores o reverenciavam como um deus, apesar de seu estilo implacável demonstrado na década de 1990, quando participou da morte dos juízes antimáfia Falcone e Borsellino e uma série de atentados em Roma, Milão e Florença.

Seus primeiros problemas com a lei começaram em 1989, quando foi acusado de associação mafiosa por sua participação na sangrenta luta entre dois clãs rivais.

Líder invisível

Naquele ano, ele foi acusado de ordenar o assassinato de Nicola Consales, um hoteleiro que lamentava que seus funcionários tivessem ligações com a máfia, incluindo ninguém menos que a amante de Diabolik.

Foto divulgada pelo Comando Geral dos Carabinieri, a polícia da Itália, mostra o momento em que Matteo Messina Denaro (de gorro), chefe da Cosa Nostra, é colocado em camburão na Sicília depois de 30 anos foragido  Foto: Carabinieri/Handout via REUTERS

Como líder do chamado clã Castelvetrano, firmou aliança com o famoso clã Corleonesi, imortalizado no filme “O Poderoso Chefão”, e tornou-se um dos herdeiros do temido “chefe de todos os chefes”, Toto Riini, A Besta, capturado em 1993 e falecido em 2017.

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Em julho de 1992, ele participou do assassinato de Mincenzo Milazzo, chefe do clã Alcamo, e estrangulou sua companheira, grávida de três meses, alimentando sua reputação de líder cruel.

Após a prisão de Toto Riina, Messina Denaro liderou a estratégia do terror, apoiou a organização dos ataques em Florença, Milão e Roma, fora da Sicília, que deixaram um total de dez mortos e uma centena de feridos.

Em meados de 1993 optou por desaparecer, tornou-se o líder invisível de uma organização criminosa milionária e sua aparência era desconhecida da maioria dos italianos.

Cartazes de procurado com fotos do chefe da máfia italiana Cosa Nostra renderizadas no computador mostravam Denaro envelhecido: ela participou dos assassinatos dos procuradores anti-máfia Giovanni Falcone e Paolo Borsellino  Foto: Carabinieri / REUTERS

Acusado de associação mafiosa, homicídio, posse de explosivos, roubo e outros crimes, ele recebeu condenações por máfia, ataques e 50 homicídios. Entre 1994 e 1996, os testemunhos de vários arrependidos lançaram luz sobre o seu papel na Cosa Nostra.

Em 2000, após o grande julgamento contra a máfia chamado Omega e realizado em Trapani, ele foi condenado à revelia à prisão perpétua. Ele foi um dos organizadores em 1993 do sequestro do pequeno Giuseppe Di Matteo para forçar seu pai Santino a retratar seu depoimento sobre o assassinato do juiz Falcone.

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Após 779 dias de detenção, o menino foi estrangulado e seu corpo dissolvido em ácido, um dos crimes mais horríveis de sua longa carreira. Durante seus anos como fugitivo, ele se comunicou sob o pseudônimo de Alessio através dos famosos pizzini, mensagens escritas em pequenos pedaços de papel e facilmente escondidas.

Em 2010, a revista Forbes o incluiu na lista dos dez fugitivos mais perigosos do mundo. Seus anos como fugitivo foram marcados por boatos. Argumenta-se que ele foi submetido a uma cirurgia plástica para torná-lo irreconhecível.

Em agosto de 2021, a emissora de TV pública italiana RAI divulgou uma gravação datada de março de 1993 na qual a voz de Denaro foi identificada pela primeira vez durante um julgamento em que ele foi chamado para depor. Depois de algumas semanas, o chefe fugiu e não foi encontrado desde então.

Ele foi condenado e sentenciado à revelia em 2002 à prisão perpétua por ter matado pessoalmente ou ordenado o assassinato de dezenas de pessoas.

O que é a Cosa Nostra?

A Cosa Nostra é o grupo mais identificado com o termo “máfia”, que vem do siciliano “mafiusu” (“arrogante”), especialmente por causa da espiral de violência que marcou a segunda metade do século 20 na Sicília e suas representações no cinema.

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A Cosa Nostra - nome popularizado com suas ramificações nos Estados Unidos - é dividida em clãs e marcada por lideranças fortes, como Salvatore “Totò” Riina (1930-2017), o “poderoso chefão” que protagonizou a “Segunda Guerra da Máfia”, nos anos 1980, quando assumiu o comando da organização.

Em seu período na chefia da Cosa Nostra, Riina instaurou um período de terror na Sicília e ordenou os atentados que mataram os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, em 1992. Preso em 1993, ele foi considerado por muitos como o verdadeiro líder da máfia siciliana até sua morte.

Seu sucessor fora das cadeias, Bernardo Provenzano (1933-2016), iniciou um processo de “pacificação” entre as facções da Cosa Nostra e fez o possível para reduzir a atenção midiática que pairava sobre o grupo.

Em dezembro passado, a Polícia da Itália prendeu aquele que seria o novo líder da máfia, Settimino Mineo, no âmbito de um inquérito que descobriu que criminosos haviam reconstituído a “cúpula” da Cosa Nostra, inativa desde o início dos anos 1990, por causa da prisão de Riina.

O retorno desse colegiado é um indício de que os clãs decidiram recuperar a estrutura unitária que havia na Cosa Nostra. /AFP e AP

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