MANDALAY - Uma menina de 7 anos, morta na terça-feira, 23, tornou-se a vítima mais jovem da repressão do regime militar em Mianmar desde o golpe de Estado em 1º de fevereiro. Pelo menos 275 pessoas já morreram nos confrontos, incluindo cerca de vinte menores de idade, e outras milhares foram presas - nesta quarta-feira, 24, foram soltos 600 manifestantes que estavam detidos.
A criança, identificada como Khin Myo Chit, foi baleada no abdômen por um militar enquanto estava sentada no colo do pai dentro de casa, na cidade de Chanmyathazi, em Mandalay, informou a mídia local.
A irmã mais velha da vítima, Aye Chan San, disse à imprensa que soldados e policiais invadiram a residência e perguntaram se havia mais alguém, após ordenarem que todos se sentassem.
Segundo ela, o pai repetiu que eram apenas seis pessoas e que todas estavam na sala. Um soldado reagiu, acusando-o de mentir, e atirou nele, mas a bala atingiu a filha. Khin Myo Chit foi levada para o hospital, mas não resistiu.
Aye Chan San contou ainda que os soldados deram coronhadas em um dos irmãos, de 19 anos, e o levaram preso. Eles também queriam levar a menina ferida, mas os parentes impediram. "Meu pai não sabia o que fazer porque estava com a menina nos braços. Disseram-lhe para entregar", disse ela, mas o homem se recusou.
Os vizinhos disseram não saber por que os soldados entraram no distrito porque não houve protestos contra o regime naquele dia. Duas outras pessoas também foram mortas na cidade.
A morte da menina gerou uma onda de indignação e reclamações, inclusive da ONG Save the Children e de Yanghee Lee, a ex-relatora da ONU para Mianmar. "Matar uma menina de 7 anos é a nova estratégia para a segurança de Mianmar? Um menino de 14 anos também morreu recentemente. Além disso, jovens de 14 e 16 anos foram mortos com tiros na cabeça", escreveu Lee em seu Twitter. Lee também retuitou a postagem de um usuário da rede social que compartilhou imagens da criança com a perfuração no abdômen. As imagens são fortes.
Em um comunicado, a Save the Children afirmou que o número de menores mortos é de cerca de vinte, incluindo um menino de 14 anos que morreu na segunda-feira, 22, e expressou preocupação pelos 17 menores que estão detidos e não recebem cuidados, incluindo a falta de acesso a alimentos.
“Estamos horrorizados que as crianças continuem sendo alvo de ataques contra manifestantes pacíficos. A morte dessas crianças é especialmente preocupante porque ocorreram em casa, onde deveriam estar seguras”, disse a ONG.
Prisioneiros liberados
Mais de 600 pessoas detidas pelas forças de segurança de Mianmar durante os protestos contra o golpe militar foram liberadas nesta quarta-feira, 24. Vários ônibus cheios de detidos saíram da prisão de Insein pela manhã, disseram as testemunhas, que incluíam advogados de alguns presos.
A Associação de Assistência para Prisioneiros Políticos (AAPP) diz que pelo menos 2 mil pessoas foram presas na repressão militar aos protestos contra o golpe que tirou do poder a líder Aung San Suu Kyi, eleita em novembro do ano passado./ EFE, REUTERS E AFP
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