Menino de 6 anos é morto a facadas nos EUA em ataque antimuçulmano, dizem autoridades

Ataque nos arredores de Chicago está sendo investigado como um crime de ódio ligado à guerra entre Israel e os terroristas do Hamas

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Por Redação

THE NEW YORK TIMES - As autoridades de um subúrbio de Chicago acusaram um homem de esfaquear e matar um menino de 6 anos no sábado, 14, e de ferir gravemente a mãe do menino porque eles eram muçulmanos, num ataque que estaria relacionado à violência em Israel e em Gaza.

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O assassinato em Illinois alarmou os líderes muçulmanos, que conclamaram os políticos e jornalistas americanos a refletirem mais plenamente a humanidade do povo palestino ao abordarem o conflito no exterior.

“Isso está diretamente ligado à desumanização dos palestinos”, disse Abdelnasser Rashid, um deputado estadual democrata de Illinois que é palestino-americano.

Os investigadores do condado de Will, Illinois, a sudoeste de Chicago, descreveram uma cena sangrenta. Eles disseram que um homem de 71 anos atacou o menino e sua mãe, que eram seus inquilinos, em sua casa em Plainfield Township, na manhã de sábado, esfaqueando-os repetidamente com uma faca serrilhada com uma lâmina de 17,8 centímetros.

O menino, identificado como Wadea Al-Fayoume por um membro da família e pelo Conselho de Relações Americano-Islâmicas, foi esfaqueado 26 vezes e declarado morto em um hospital. A mãe do menino, de 32 anos, estava em estado grave com mais de uma dúzia de facadas. As autoridades disseram que ela correu para um banheiro e continuou lutando contra o agressor enquanto discava para o 911. Os parentes disseram que a família é palestino-americana.

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Ahmed Rehab, diretor executivo do Conselho de Relações Americano-Islâmicas, organização muçulmana de defesa e direitos civis, denuncia esfaqueamento e morte de menino Foto: Jim Vondruska/Chicago Sun-Times via AP

O Gabinete do Xerife do Condado de Will disse em um comunicado no domingo que “os detetives conseguiram determinar que ambas as vítimas desse ataque brutal foram alvos do suspeito por serem muçulmanas e pelo conflito em curso no Oriente Médio envolvendo o Hamas e os israelenses”. A declaração não especificou como os investigadores sabiam o motivo, mas disse que eles haviam conduzido entrevistas e analisado outras evidências.

O homem acusado do ataque, Joseph M. Czuba, de 71 anos, foi preso sob a acusação de homicídio, tentativa de homicídio, duas acusações de crime de ódio e agressão agravada com arma letal.

Czuba deve fazer uma primeira aparição no tribunal do Condado de Will na segunda-feira. Não estava claro se ele havia contratado um advogado.

O ataque no sábado ocorreu em meio à crescente violência entre Israel e o Hamas, o grupo terrorista que controla a Faixa de Gaza. Em 7 de outubro, o Hamas lançou um ataque terrorista surpresa contra Israel que deixou mais de 1.300 israelenses mortos, provocando uma intensa retaliação que matou 2.670 pessoas em Gaza, de acordo com autoridades locais. Em todo o Oriente Médio, os temores de um conflito maior e de uma crise humanitária cada vez pior estão aumentando.

O subúrbio de Chicago tem uma grande comunidade palestino-americana, incluindo uma área com muitos restaurantes e lojas árabes que alguns chamam de Pequena Palestina. O ataque aconteceu em uma parte diferente dos subúrbios de Chicago, em uma casa ao longo de um trecho movimentado da rodovia, perto de uma concessionária Chevrolet e de uma churrascaria.

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Essa propriedade, a cerca de 64 quilômetros a sudoeste do centro de Chicago, estava adornada com várias bandeiras americanas, um anúncio de mel orgânico e uma placa pedindo às pessoas que rezassem para acabar com o aborto. Mariola Jagodzinski, que mora a duas casas de distância, disse que nunca teve nenhuma interação negativa com o suspeito. Ela disse que havia dado brinquedos para a mãe de Wadea, o menino de 6 anos, e ficou sem palavras e angustiada quando soube do assassinato.

“Ele era uma criança brincalhona — realmente cheia de energia”, disse Jagodzinski. “As crianças são inocentes. Isso realmente destrói muitos corações.”

No domingo, o escritório de Chicago do Conselho de Relações Americano-Islâmicas, a organização muçulmana de defesa e direitos civis, denunciou o esfaqueamento e o chamou de “nosso pior pesadelo”. “Nossos corações estão pesados e nossas orações estão com o querido menino e sua mãe”, disse Ahmed Rehab, diretor executivo do conselho, em comunicado.

As autoridades não confirmaram os nomes de nenhuma das vítimas. A Polícia Estadual de Illinois disse em comunicado neste domingo que estava coordenando com outras agências “uma resposta ao elevado nível de ameaças de violência e crimes de ódio relacionados ao conflito atual”.

“Todos em Illinois — tanto os agentes da lei quanto os membros da comunidade — devem permanecer em alerta contra o terrorismo e os crimes de ódio durante esse período de volatilidade”, disse Brendan Kelly, diretor da Polícia Estadual.

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O governador J.B. Pritzker, de Illinois, um democrata, disse em um comunicado que “tirar a vida de uma criança de seis anos em nome do fanatismo é nada menos que maldade”. ”Wadea deveria estar indo para a escola pela manhã”, disse o governador. ”Em vez disso, seus pais acordarão sem seu filho”.

As autoridades do conselho disseram que analisaram as mensagens de texto, escritas em árabe, que a mãe do menino enviou ao pai do hospital. Nessas mensagens, disseram, a mãe indicou que o proprietário estava irritado com o que estava vendo no noticiário. A organização não disponibilizou as mensagens de texto para serem analisadas.

Segundo o relato, o proprietário bateu na porta da família e, quando a mãe a abriu, ele tentou sufocá-la e a atacou com uma faca, gritando: “Vocês muçulmanos devem morrer!” Quando ela correu para o banheiro para ligar para o 911, dizem as mensagens de texto, ela saiu e descobriu que o homem havia esfaqueado seu filho. ”Tudo aconteceu em segundos”, ela escreveu.

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