A retomada dos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza na noite de segunda-feira, 17, colocou em dúvida o destino dos reféns que seguem no enclave palestino. De acordo com informações do governo israelense, 59 sequestrados continuam em cativeiro, sendo que apenas 24 são considerados vivos.
Ao longo do cessar-fogo, famílias de diversos reféns receberam sinais de vida de seus entes queridos por meio de testemunhos de sequestrados que foram libertados ou vídeos do grupo terrorista Hamas.
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que ordenou os ataques por causa da falta de progresso nas negociações para estender o cessar-fogo, enquanto o ministro da Defesa Israel Katz afirmou que os combates continuariam até que todos os reféns fossem libertados.

Apesar de ter contribuído para a primeira fase do cessar-fogo entre Israel e Hamas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou em diversas oportunidades que estaria confortável com as duas possibilidades: uma extensão da trégua ou a volta das operações militares.
Após se encontrar com vários ex-reféns israelenses no inicio do mês, Trump afirmou que o Hamas deveria libertar imediatamente os reféns restantes em Gaza ou enfrentaria o “inferno” no enclave palestino.
Em um comunicado, o grupo terrorista Hamas afirmou que Israel estava “expondo os reféns em Gaza a um destino desconhecido”. A situação alarmou o Fórum das Famílias dos Sequestrados, que convocou um protesto na frente do Parlamento israelense para esta terça-feira, 18.
Saiba mais sobre os reféns israelenses:
Reféns libertados
Durante os ataques terroristas do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, que deixaram 1,2 mil mortos, 251 pessoas foram sequestradas e levadas para a Faixa de Gaza. Elas se juntaram a dois israelenses que já estavam lá há dez anos: Avera Mengistu, que entrou no enclave em 2014, e Hisham al-Sayed, um membro da comunidade beduína que entrou no enclave palestino em 2015.
Após o ataque do Hamas, Israel iniciou uma ofensiva no enclave palestino que deixou cerca de 48 mil palestinos mortos, segundo o ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas e não diferencia civis de terroristas.

Os primeiros reféns foram soltos duas semanas após o início da guerra. Citando “razões humanitárias”, o grupo terrorista Hamas libertou quatro mulheres do cativeiro. Durante uma trégua de sete dias em novembro de 2023, 105 mulheres e crianças israelenses foram libertadas em troca de 240 prisioneiras palestinas. Dezenas de trabalhadores tailandeses que haviam sido sequestrados também foram libertados, assim como um cidadão russo.
Após a volta dos combates, as Forças de Defesa de Israel recuperaram 41 corpos de reféns e oito foram resgatados vivos, em operações complexas de resgate. Três sequestrados israelenses foram mortos por engano pelo Exército depois de uma fuga do cativeiro.
Cessar-fogo em janeiro
Mais de um ano após a primeira trégua, Israel e o Hamas chegaram a um acordo para um cessar-fogo de três fases que poderia levar ao fim da guerra na Faixa de Gaza. Durante a primeira fase de 42 dias, 25 reféns israelense foram libertados vivos e 8 corpos retornaram a Israel, incluindo Shiri Bibas e seus filhos Ariel e Kfir, que se tornaram símbolos da luta pela volta dos reféns. Cinco tailandeses também foram libertados.
Em troca, mais de 2 mil prisioneiros palestinos foram libertados e Israel permitiu o retorno dos cidadãos de Gaza ao norte do enclave.
Saiba mais
O restante dos reféns vivos seriam libertados na segunda fase do cessar-fogo e os corpos dos sequestrados mortos seriam devolvidos a Israel na terceira fase. Mas Israel optou por mudar os termos do acordo e queria uma extensão da primeira fase da guerra, o que não foi aceito pelo grupo terrorista Hamas.
Sequestrados que seguem em Gaza
59 reféns seguem no cativeiro do Hamas. Israel acredita que apenas 24 estejam vivos, mas deseja a volta dos corpos dos sequestrados para que os familiares enterrem propriamente os seus entes queridos.
Por meio de relatos de reféns libertados, famílias de pelo menos 13 sequestrados receberam informações de que seus entes queridos estão vivos desde o inicio do cessar-fogo em janeiro. Alguns reféns apareceram em vídeos publicados pelo Hamas, como Evyatar David e Guy Gilboa-Dalal, que foram levados a “cerimônia” de libertação de outros sequestrados durante a primeira fase da trégua, em um sinal claro de tortura psicológica.
O grupo terrorista também publicou um vídeo de despedida dos irmãos argentinos Eitan e Yair Horn antes da libertação de Yair no dia 15 de fevereiro. O Estadão entrevistou o pai dos argentinos, Itzik Horn, para uma reportagem especial de um ano da guerra entre Israel e Hamas.
Ex-refém emociona Israel em entrevista
Diversos reféns recém-libertados se uniram a luta pela volta dos sequestrados. Entre eles está Eli Sharabi, de 53 anos. Sharabi foi libertado após quase 500 dias na Faixa de Gaza e descobriu após sua volta que sua esposa e suas duas filhas haviam sido assassinadas pelo Hamas nos ataques de 7 de outubro.
Em uma entrevista ao Canal 12 de Israel publicada no dia 28 de fevereiro, Sharabi afirma que perdeu 40% de seu peso durante o cativeiro e que desenvolveu uma relação próxima com Alon Ohel, refém de 24 anos que segue na Faixa de Gaza.
“Eu o adotei desde o primeiro minuto”, apontou Sharabi sobre Ohel. “24 horas por dia, 7 dias por semana juntos. Eu sei tudo sobre ele e sua família.” O ex-refém afirmou que os dois sequestrados se ajudaram no enfrentamento à dura realidade do cativeiro. Segundo Sharabi, os reféns são mantidos em correntes de ferro, sofrem violência física e psicológica e sobreviveram por meses com apenas um prato de macarrão por dia.

Quando Ohel descobriu que Sharabi seria libertado, ele ficou muito emocionado. De acordo com o ex-refém, Ohel o agarrou e se recusou a soltá-lo até que o guarda do Hamas o arrancasse. “Foi um momento muito difícil”, apontou Sharabi. “Ele disse que estava feliz por mim. Eu prometi a ele que não o deixaria lá. Vou lutar por ele.”
A família de Ohel afirmou que além das dificuldades do cativeiro, o refém tem ferimentos dos ataques de 7 de outubro. “Ele tem estilhaços no olho, ombro e no braço”, afirmou Idit Ohel, mãe de Alon, em entrevista ao Canal 12 de Israel. Por conta dos ferimentos, Ohel apenas consegue ver sombras de seu olho machucado./com AP e NYT