WASHINGTON - A gigante farmacêutica Merck Sharp&Dohme (MSD) ajudará a fabricar a nova vacina contra o coronavírus Johnson & Johnson em um acordo incomum entre rivais, intermediado pela Casa Branca, que pode aumentar substancialmente o fornecimento da nova vacina e acelerar o ritmo da vacinação nos EUA.
O pacto, anunciado nesta terça-feira, 2, pela porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, foi alcançado dias depois que a FDA, órgão equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, concedeu autorização emergencial para a vacina da Johnson & Johnson.
A MSD é um fabricante experiente de vacinas cuja própria tentativa de fazer uma vacina contra o coronavírus não teve sucesso. Nos EUA, a MSD é o único fornecedor da vacina infantil combinada que protege contra sarampo, caxumba e rubéola.
Por quase um ano, a MSD tem procurado uma maneira de desempenhar um papel fundamental no programa de vacinação dos EUA. As autoridades descreveram a parceria entre os dois concorrentes como "histórica" e disseram que é resultado da ideia do presidente Biden de criar um esforço de guerra para combater o coronavírus, semelhante às campanhas de manufatura realizadas durante a 2ª Guerra.
Funcionários dos governos Trump e Biden já haviam considerado a ajuda da MSD na fabricação de vacinas desenvolvidas por Johnson & Johnson e Pifzer. A Johnson & Johnson está atrasada em sua produção em massa, embora os funcionários da empresa tenham dito publicamente que esperam recuperá-la nos próximos meses.
Mas não está clara a rapidez com que a MSD será capaz de se preparar para produzir as vacinas. Levará algum tempo, possivelmente dois meses ou mais, para que a empresa consiga converter suas instalações para fabricar e embalar uma vacina que ela não inventou.
Pelo acordo, a MSD utilizará duas de suas instalações à produção da vacina Johnson & Johnson que, ao contrário das outras duas vacinas aprovadas nos EUA, necessita apenas uma dose. Uma instalação fornecerá “acabamento de preenchimento”, a fase final do processo de fabricação durante a qual a vacina é colocada em frascos e embalada para envio.
A outra fará a “substância medicamentosa”. As autoridades esperam que, até o final do ano, o arranjo duplique a capacidade do que a Johnson & Johnson poderia fabricar sozinha - talvez elevando o número total de doses para até 1 bilhão.
Funcionários do governo disseram que Biden poderia exercer os poderes da Lei de Produção de Defesa, uma lei da época da Guerra da Coreia, para dar prioridade à MSD para obter os equipamentos que precisará para atualizar suas instalações para a produção das vacinas, incluindo a compra de máquinas, bolsas, tubos e sistemas de filtragem.
A vacina Johnson & Johnson se junta a outras duas - uma da Pfizer/BioNTech e outra da Moderna - que já possuem autorização emergencial da FDA. Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, até segundo-feira cerca de 50,7 milhões de pessoas tinham recebido pelo menos uma dose da vacina contra covid-19, incluindo cerca de 25,5 milhões de pessoas que foram totalmente vacinadas.
Embora as vacinas Pfizer e Moderna tenham um desempenho ligeiramente melhor em testes clínicos, todas são consideradas seguras e eficazes e a vacina Johnson & Johnson tem duas vantagens: requer apenas uma dose e estudos mostram que pode conter a disseminação do coronavírus.
Essas vacinas anteriores usam uma nova tecnologia chamada mRNA. Embora as vacinas possam ser criadas e testadas com muito mais rapidez usando esse método em vez das tecnologias mais tradicionais, as doses da Pfizer e da Moderna exigem condições de armazenamento mais rigorosas.
A vacina da Johnson & Johnson, que usa vírus para levar genes às células, pode ser mantida por três meses em temperaturas normais de refrigeração, facilitando a distribuição e o estoque por farmácias e clínicas. A US$ 10 a dose (cerca de R$ 57), também é mais barata que as outras duas.
O contrato federal de US$ 1 bilhão da Johnson & Johnson, assinado no ano passado quando a vacina ainda estava em desenvolvimento, previa a entrega de 37 milhões de doses até o fim de março. A empresa disse que só pode entregar 20 milhões de doses, e funcionários do alto escalão do governo disseram que a maior parte delas será entregue no final do mês.
Doses de reforço
Esta semana, os Estados receberão 3,9 milhões de doses que foram fabricadas em uma fábrica holandesa e embaladas em Michigan. Mas a maior parte da produção da Johnson & Johnson deverá vir de uma nova fábrica em Baltimore, Maryland, operada por uma empresa chamada Emergent BioSolutions.
Até o fim de maio, Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson, juntas, prometeram doses suficientes para inocular pelo menos 220 milhões dos cerca de 260 milhões de adultos elegíveis nos Estados Unidos. Pfizer e Moderna, cujas vacinas necessitam duas doses, se comprometeram a disponibilizar a quantidade suficiente para cobrir mais 100 milhões de pessoas até o fim de julho.
Mas o surgimento de variantes ainda mais preocupantes do coronavírus pode exigir doses de reforço para os que já foram vacinados. A Johnson & Johnson está conduzindo testes para um programa com doses administradas com dois meses de intervalo, mas os resultados não são esperados até antes de maio.
As autoridades federais de saúde esperam que os testes em andamento mostrem que as vacinas são seguras para as crianças, o que significa que dezenas de milhões de injeções a mais serão necessárias. Se os Estados Unidos ficarem com um excedente de vacina, podem vender ou até doar as doses para outros países./NYT e W.POST
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