LIMA - Manifestantes que ocupavam as ruas no Peru festejaram neste domingo, 15, a renúncia do presidente interino do país, Manuel Merino, que estava no cargo desde a destituição de Martín Vizcarra. Além de breve, a passagem de Merino pela presidência foi marcada por polêmicas e protestos, que provocaram a morte de dois manifestantes e deixaram centenas de feridos.
“Apresento minha renúncia de forma irrevogável ao cargo de presidente da República”, disse Merino, de 59 anos, em discurso ao país. Logo após o pronunciamento, começou a comemoração nas ruas, tomadas principalmente por jovens.
Após uma chegada ao poder que surpreendeu os peruanos e agitou os mercados, Merino, de centro-direita, sentiu a pressão de cinco dias de protestos protagonizados por milhares de pessoas no país, principalmente jovens.
Aprovada pelo Congresso, a destituição de Vizcarra vinha sendo contestada por juristas e políticos peruanos. “Um ditadorzinho deixou o palácio”, afirmou Vizcarra, assim que soube da renúncia.
O governo interino vinha reagindo de forma desproporcional aos protestos pacíficos. E o chefe de gabinete de Merino, Ántero Flores-Aráoz, chegou a afirmar que não ia voltar atrás. Mas a situação ficou insustentável no sábado, quando o novo presidente do Congresso, Luis Valdez, pediu a renúncia imediata de Merino.
Valdez havia apoiado Merino no julgamento relâmpago contra Vizcarra e colocado a faixa presidencial no novo chefe de Estado na terça-feira.
Antes da destituição, a presidência do Congresso era ocupada por Merino. Ele acabou assumindo o país por ser o sucessor imediato, uma vez que o Peru não tem vice-presidente. “É um momento muito difícil para o país, não temos nada que celebrar”, disse Merino em seu primeiro discurso como presidente interino. Ao assumir, ele assegurou que respeitaria o calendário das próximas eleições, previstas para 11 de abril de 2021, e deixaria o mandato interino em 28 de julho.
Político da velha guarda
Após passar duas décadas em segundo plano, como representante da região de Tumbes, a menor do Peru, no Congresso, Merino, de 59 anos, ganhou destaque em setembro, ao impulsionar o primeiro pedido de destituição contra Vizcarra. O processo, no entanto, não foi à frente naquela época.
Conhecido em Tumbes, onde teve cargo legislativo por dois períodos, Merino é considerado um representante da velha guarda da política peruana. “É um típico cacique provinciano, um político discreto que se elegeu por três vezes representante por Tumbes”, disse o analista José Carlos Requena. “Ele não é um cara excepcional. Foi filiado a um único partido a vida toda e é visto como um político tradicional da velha guarda.”
Ele foi eleito em março presidente do Congresso. Ganhou uma cadeira - com apenas 5.271 votos - nas eleições legislativas extraordinárias de janeiro, convocadas por Vizcarra após dissolver constitucionalmente o Congresso em setembro de 2019. A eleição de Merino como presidente do Congresso foi promovida pela bancada do Ação Popular, partido do qual é membro há 41 anos e principal minoria na Câmara.
No Congresso, o engenheiro agrônomo de formação mostrou práticas econômicas populistas. O viés populista das leis econômicas que o Congresso aprovou sob a sua direção nos últimos meses, durante a pandemia, como autorizar o saque dos fundos de pensão e congelar dívidas com os bancos privados, despertou temor nos círculos financeiros quando ele assumiu a presidência.
A composição do Congresso também complicou a solidez do governo Merino, com quatro partidos populistas rivais dividindo o controle em uma aliança complexa. / AFP