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México recebe mulher de Castillo com asilo político e agrava crise diplomática com o Peru

Lilia Paredes viajou com dois filhos e a irmã; ex-primeira-dama é investigada por corrupção e sua extradição pode ser solicitada

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Foto do author Fernanda Simas

O Peru respeitou os tratados internacionais e deu um salvo conduto para a ex-primeira-dama Lilia Paredes, mulher de Pedro Castillo - deposto e preso após tentar dar um golpe de Estado no começo do mês -, e sua família após o governo mexicano lhes fornecer asilo político. Lilia, dois filhos do casal e a irmã dela chegaram ao México na manhã desta quarta-feira, 21, ampliando a crise diplomática entre os dois países.

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“Sempre defenderemos o direito de asilo. Faz parte de nossa política externa”, declarou o presidente mexicano, Manuel López Obrador.

Lilia Paredes é investigada por corrupção é apontada pela Procuradoria como coordenadora da rede criminosa que Castillo geria enquanto ocupava a presidência. As investigações mostram que ela era a ponte entre ministros e os operadores de corrupção.

Lilia Paredes recebeu asilo político e viajou ao México; Castillo continua preso  Foto: REUTERS/Lucy Nicholson/File Photo

O processo criminal contra a ex-primeira-dama continua correndo normalmente no Peru. “Ela tem o direito de constituir defesa, pode contestar as acusações, mas a Procuradoria pode insistir no caso e levá-lo a julgamento. Nesse caso, ela pode até ser condenada, mesmo não estando fisicamente aqui”, afirma o jurista peruano Carlos Caro Coria.

A presidente do Peru, Dina Boluarte, já havia dito que as investigações não impediam que Lilia Paredes deixasse o país porque não havia impeditivo legal, já que a Justiça não julgou (até o momento do asilo) um pedido da Procuradoria para que a ex-primeira-dama fosse impedida de deixar o país.

“O Estado asilante - no caso o México - tem soberania para qualificar o crime (de Castillo ou Lilia) como político. Essa qualificação não é discutível e não tem que ser discutida”, explica Caro Coria.

O próprio ex-presidente poderia ter sido asilado caso tivesse chegado à embaixada mexicana em Lima no dia 7 depois de deixar o Palácio presidencial. Na ocasião, a imprensa peruana informou que Castillo tinha essa intenção, mas acabou detido antes de chegar.

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Atualmente, ele cumpre prisão preventiva de 18 meses. Existe uma apelação em curso, mas os juristas peruanos acreditam que ela não deva ser aceita. “Acredito ser muito difícil que a Sala Suprema (da Corte Suprema) aceite porque há poucos dias confirmou a legalidade da prisão preliminar e deve, com os mesmos argumentos, confirmar a prisão preventiva pelos 18 meses”, diz Caro Coria.

A chanceler peruana, Ana Cecilia Gervasi, afirmou que o governo peruano se reserva o direito de solicitar a extradição de Lilia Paredes se a justiça local assim o exigir a qualquer momento.

Tensão diplomática

A decisão do governo de López Obrador piorou a relação entre México e Peru, que vinha sendo abalada desde a tentativa de golpe de Castillo, em 7 de dezembro. O presidente mexicano não reconheceu o novo governo peruano e afirmou que Castillo estava sendo perseguido.

Nesta quarta, o Peru declarou o embaixador mexicano em Lima, Pablo Monroy, como “persona non grata” e pediu que ele deixe o país até sábado. O argumento para tal decisão foi de que as declarações do presidente mexicano sobre o caso Castillo são uma interferência em assuntos internos.

O governo mexicano reagiu dizendo não ter intenção de romper relações diplomáticas com o Peru. “A Chancelaria mexicana decidiu não romper relações, entre outras coisas, porque precisamos manter nossa embaixada para dar proteção aos mexicanos que residem, trabalham e vivem no Peru”, disse López Obrador durante entrevista coletiva.

O Ministério das Relações Exteriores do México ordenou o retorno do embaixador Monroy “para resguardar sua segurança e integridade física”, mas a permanência da delegação diplomática, a cargo da primeira secretária, Karla Ornelas.

Escalada da crise

Castillo foi destituído da presidência no mesmo dia em que tentou fechar o Congresso, intervir no Judiciário, governar por decreto e convocar uma Assembleia Constituinte. Seu pedido não conseguiu respaldo institucional, por isso foi preso e acusado de rebelião.

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Manifestações no Peru pedem eleições gerais após tentativa de golpe de Castillo e deposição do ex-preidente Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

Desde então, manifestações que pedem a realização de eleições gerais e, algumas, a soltura de Castillo, deixaram 21 mortos e mais de 600 feridos pelo país, que está sob estado de emergência.

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