Miguel Díaz-Canel assume liderança do Partido Comunista Cubano e encerra era Castro

Cuba virou a página dos governos dos irmãos Castro, com a aposentadoria de Raúl Castro, aos 89 anos, numa transição simbólica que não muda a linha política do país, um dos últimos comunistas no mundo

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Por Redação
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HAVANA - Cuba virou a página dos governos dos irmãos Castro, com a aposentadoria de Raúl Castro, aos 89 anos, numa transição simbólica que não muda a linha política do país, um dos últimos comunistas no mundo.

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O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, substituiu Raúl como primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba nesta segunda-feira, 19, no quarto e último dia do 8º Congresso da legenda. 

Junto com Raúl, deixaram de fazer parte da cúpula outros dirigentes históricos, como o atual "número 2" do partido, José Ramón Machado-Ventura, de 90 anos, e o comandante Ramiro Valdés, de 88, além de Marino Murillo, considerado o líder das reformas econômicas iniciadas há uma década.

Raúl Castro (D) apresenta o novo secretário do Partido Comunista, que o sucederá, o presidente Miguel Diaz-Canel Foto: Ariel Ley Royero/ACN via AP

"19 de abril, um dia histórico", escreveu Díaz-Canel, de 60 anos, em sua conta no Twitter. "A Geração do Centenário, fundadora e guia do Partido, entrega responsabilidades" a uma geração mais jovem, acrescentou. 

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"O mais revolucionário dentro da Revolução é sempre defender o partido, da mesma forma que o partido deve ser o maior defensor da Revolução", disse posteriormente o presidente.

A imprensa estatal cubana, a única com acesso à cobertura do evento, ainda não detalhou quem foi nomeado como segundo secretário do partido, no lugar de Machado-Ventura.

Entre os novos integrantes do órgão mais poderoso do partido estão o primeiro-ministro do país, Manuel Marrero, e Luis Alberto Rodríguez López-Callejas, ex-genro de Raúl Castro e chefe do conglomerado cubano de propriedade militar GAESA, que controla os ativos econômicos mais valiosos do país.

Continuam no órgão de direção, além de Díaz-Canel, o presidente do Parlamento, Esteban Lazo; o vice-presidente, Salvador Valdés; o vice-primeiro-ministro, Roberto Morales; e o ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, entre outros.

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Ao todo, a nova composição do órgão conta com 14 dirigentes, 3 a menos do que a anterior. Entre eles, há três veteranos com mais de 70 anos e três mulheres: a presidente da Federação de Mulheres Cubanas, Teresa Amarelle; a cientista e diretora do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia, Marta Ayala; e a primeira secretária do partido em Artemisa, Gladys Martínez.

Os militares estão representados pelo recém-nomeado ministro das Forças Armadas Revolucionárias, general do Exército Álvaro López Miera; o general de Divisão Lázaro Álvarez Casas; e por Rodríguez López-Callejas, que é general de Brigada.

A transferência ocorre em meio a uma profunda crise econômica no país devido à pandemia do coronavírus e ao fortalecimento do embargo que os Estados Unidos mantêm ao país há 60 anos. 

Embora seja uma transição simbólica, em um país onde a maioria da população só conheceu Fidel e Raúl Castro à frente do poder, não significa necessariamente uma mudança na linha política cubana. "Desde que nasci, conheci apenas um partido e até agora vivemos com ele, e ninguém passa fome", diz Miguel Gainza, um artesão de 58 anos que trabalha na Havana Velha e apoia esse sistema político. "É uma pena que Fidel tenha morrido, porque ele resolvia tudo", lamenta.

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'Administrar um país'

Um total de 300 delegados de toda a ilha, representando 700 mil militantes, votaram direta e secretamente no domingo para eleger o Comitê Central, composto de 114 membros. 

Para John Kavulich, presidente do Conselho Econômico e Comercial Cuba-Estados Unidos, é necessária uma mudança geracional na ilha. "Atualmente, a idade combinada dos três líderes do Partido Comunista está se aproximando dos 300 anos", diz.

O partido está envelhecendo. De seus integrantes, 42,6% têm mais de 55 anos, o que frustra as aspirações dos jovens.

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Kavulich considera que há no partido uma "falta de vontade de aceitar que já não é preciso lutar por uma revolução, mas sim gerir um país não de meados do século 20, mas da segunda década do século 21".

Entre muitos cubanos, há um cansaço devido à escassez e às longas filas para se abastecer. O país importa 80% do que consome.

O governo, atormentado nos últimos quatro anos pelo endurecimento das sanções de Washington, continua tendo o combate ideológico entre suas prioridades. "A existência de um único partido em Cuba foi e sempre estará no foco das campanhas do inimigo", disse Raúl em seu discurso. "Esta unidade deve ser protegida com zelo e nunca aceitar a divisão entre revolucionários sob falsos pretextos de maior democracia."

'Contrarrevolução interna'

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Na pizzaria onde trabalha, Luis Enrique Oramas, de 30 anos, diz que "se deixassem as pessoas falarem o que pensam, seria como em outros lugares, (haveria) dois ou até três partidos". "A maioria das pessoas preferiria isso do que como o país anda agora, tendo um partido em que todos pensem o mesmo", acrescenta. 

A nova liderança chega em meio a uma expansão das demandas sociais nas redes, graças ao advento da internet móvel em 2018. Ativistas, artistas e intelectuais mantêm uma intensa atividade nas redes sociais, em um país onde as manifestações são quase inexistentes. 

Antes de partir, Raúl rejeitou que "as mentiras, a manipulação e a divulgação de notícias falsas não tenham mais limites" em referência às críticas nas redes. É "a contrarrevolução interna, que carece de base social, liderança e capacidade de mobilização", acrescentou.

Durante o congresso, o partido adotou uma resolução para enfrentar a "subversão" política e ideológica, enquanto vários ativistas, jornalistas independentes e artistas denunciaram no Twitter que a polícia os impedia de sair de casa, recurso utilizado para impedir que se encontrassem.

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O 8º Congresso do Partido Comunista de Cuba termina nesta segunda-feira, na mesma data em que se comemora o 60º aniversário da Vitória da Praia de Girón, como se chama em Cuba a Invasão da Baía dos Porcos (1961)./AFP e EFE 

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