Milei corta ministérios pela metade em primeiro decreto como presidente da Argentina

Promessa de campanha de reduzir os 18 cargos ministeriais foi cumprida, mas novo presidente voltou atrás em relação à pasta da Saúde, ficando com nove ministros

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Foto do author Carolina Marins
Atualização:

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - O presidente recém-empossado da Argentina, Javier Milei, oficializou na tarde deste domingo, 10, os nomes para compor seu gabinete, cumprindo uma promessa de campanha de passar a tesoura no número de cargos. Em uma cerimônia fechada, ele nomeou seus nove ministros, ante 18 do governo anterior.

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Milei, no entanto, recuou no número que havia proposto. Em um famoso vídeo que viralizou durante a campanha, o então candidato prometia ter apenas oito pastas em seu governo. Ministérios como o da Educação, Proteção Social e Direitos Humanos, entre outros, ficariam “afuera”.

Nessa conta estava o Ministério da Saúde, mas ontem o libertário anunciou que manteria a área como ministério, e não mais como secretaria. A redução de cargos foi feita por meio de DNU, que funciona como um decreto presidencial.

Javier Milei na sacada da Casa Rosada após ser empossado presidente da Argentina Foto: Matilde Campodonico/AP

De acordo com o jornal Clarín, citando fontes que acompanharam a cerimônia dentro da Casa Rosada, a ordem do juramento dos ministros foi:

  • Guillermo Francos no Interior;
  • Diana Mondino nas Relações Exteriores;
  • Luis Petri na Defesa;
  • Luis “Toto” Caputo na Economia;
  • Guillermo Ferraro na Infraestrutura;
  • Mariano Cúneo Liberona na Justiça;
  • Patricia Bullrich na Segurança;
  • Mario Russo na Saúde;
  • Sandra Pettovello no Capital Humano.

Por fim, a irmã do presidente, Karina Milei, tomou posse como Secretária-Geral da Presidência, uma nomeação que só ocorreu após a anulação de um decreto firmado por Mauricio Macri em 2018 que proibia nomeações de “pessoas que tenham qualquer relacionamento tanto em linha direta quanto em linha colateral até o segundo grau” com funcionários do governo com categoria de ministros.

Todos os nomes haviam sido adiantados pela imprensa argentina e a maioria já havia sido indicada no perfil de comunicação de Milei no X (antigo Twitter). A pasta da Economia era a que mais despertava ansiedade, com Milei levando semanas para definir o nome de Caputo, um nome muito próximo de Macri. A escolha de Caputo foi um dos primeiros sinais de mudanças nas promessas de campanha de Milei, cuja a dolarização era seu grande motor. Caputo, no entanto, segue uma linha mais ortodoxa, apontam economistas.

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Os nomes de Bullrich e Petri foram pedidos diretos de Macri, que conforma a principal ponte de aliança de Milei com setores mais tradicionais da direita argentina. O ex-presidente, porém, não teve sucesso em indicar mais nomes para cargos essenciais do governo, em um movimento de Milei de demonstrar que ele será o condutor do governo, não Macri.

Já Diana Mondino foi um dos primeiros nomes cantados pela equipe do libertário. Embora não seja diplomata, Mondino tem boa reputação e aceitação nas relações comerciais argentinas. A agora ministra viajou ao Brasil no mês passado, quando entregou uma carta assinada por Milei ao presidente Lula em um sinal de pacificação após atritos.

A decisão de conduzir o juramento dos ministros em particular foi do próprio Javier Milei, segundo a imprensa argentina adiantou, alegando questões íntimas. Os jornais argentinos, no entanto, criticaram o que chamaram de “primeira restrição de Milei à imprensa”. O evento também não foi transmitido pelas redes de televisão argentinas, diferentemente de outros rituais da posse.

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As definições dos nomes ocorreram na Casa Rosada, depois que Milei recebeu os cumprimentos de líderes internacionais e delegações estrangeiras. A cerimônia seguiu a posse oficial no Congresso Nacional, de onde Milei recebeu o bastão e a faixa presidencial de Alberto Fernández.

Também na Casa Rosada, após os cumprimentos dos chefes de Estado, Milei cumprimentou o ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que durante a cerimônia de posse foi tratado de forma semelhante os demais líderes em exercício. Bolsonaro, porém, não pôde tirar a foto oficial de Milei com os presidentes, primeiro-ministro e rei.

Os ministros de Milei: Luis Caputo, na Economia, e Diana Mondino, nas Relações Exteriores Foto: Gustavo Garello/AP

Após os cumprimentos das delegações estrangeiras, onde estava o chanceler Mauro Vieira que representou Luiz Inácio Lula da Silva, Milei fez sua primeira reunião bilateral como presidente, no caso com o ucraniano Volodmir Zelenski.

O presidente da Ucrânia, que atualmente está em guerra com a Rússia de Vladimir Putin, nunca havia estado na América Latina e elegeu a posse do libertário para fazer a sua estreia. O ucraniano foi um dos primeiros a abraçar Milei nas escadarias do Congresso e, na Casa Rosada, presenteou o libertário com uma Menorá de prata, um dos principais símbolos do judaísmo (é o candelabro de 7 pontas que significa a luz da Torá). Zelenski é judeu e Milei já se declarou um “estudioso do judaísmo”.

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Depois de já haver feito seu discurso do Congresso Nacional, Milei fez uma nova aparição da sacada da Casa Rosada, onde voltou a falar com seus apoiadores. “Embora tenhamos de passar por um período difícil, vamos seguir em frente. Não há noite que não seja derrotada pelo dia. Hoje nós, bons argentinos, decretamos o fim da noite populista e o renascimento de uma Argentina próspera e liberal”, disse em seu segundo discurso como presidente.

Em seguida, Milei fez uma caminhada saindo da Casa Rosada em direção à Catedral Metropolitana, onde acompanhou celebrações religiosas. Na cerimônia, o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Ignacio García Cuerva, pediu para que não haja enfrentamentos “uns contra os outros”. “Nosso país é nossa casa”, disse. Durante a campanha, Milei fez duras críticas ao papa Francisco, em um movimento que lhe custou votos no primeiro turno das eleições. Vendo o custo político, o libertário suavizou seu discurso e afirmou que quer ser o presidente a receber o primeiro papa argentino no país.

A noite do presidente recém-empossado termina com um evento de gala no teatro Colón.

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