Milei diz que não é papel do Estado agir contra fome após aderir a aliança contra pobreza no G-20

No primeiro semestre deste ano, a pobreza na Argentina chegou a 52,9% da população depois do choque recessivo dado pelo presidente na economia para tentar tirar o país da crise

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ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO - O presidente da Argentina, Javier Milei, marcou posição na reunião do G-20 no Rio, em seu primeiro pronunciamento durante a cúpula nesta segunda-feira, 18. Em uma sessão que trata do combate à fome e à pobreza, agenda considerada prioritária pelo governo Lula, o liberal disse que governos não deveriam intervir no tema e só o capitalismo traz prosperidade. O discurso foi relatado ao Estadão por fontes que estão na sessão com os chefes de Estado e governo. A imprensa não tem acesso ao local durante os discursos dos presidentes.

Ainda segundo relatos de diplomatas na sessão, Milei disse também que o capitalismo e o setor privado tiraram milhões da pobreza ao longo da história. O discurso ocorreu após a Argentina aderir, de última hora, à Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. O pacto, uma proposta do Brasil, contou com a adesão de todos os países que compõem o G-20, além de 66 organismos internacionais, entre eles fundações como Gates e Rockfeller e bancos multilaterais, como BID e Banco Mundial.

Javier Milei em reunião com o presidente da França, Emmanuel Macron Foto: PABLO PORCIUNCULA

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De acordo com diplomatas presentes na reunião, Milei foi o menos aplaudido na plenária. No primeiro semestre deste ano, a pobreza na Argentina chegou a 52,9% da população, depois do choque recessivo dado pelo presidente na economia para tentar tirar o país da crise.

O tema do combate à fome é uma das prioridades estabelecidas pelo Brasil, como presidente do G-20 este ano. O pacto proposto por Brasília e endossado pelos demais países tem como objetivo acelerar a redução da pobreza e eliminar a fome, até 2030. A aliança funcionará por cinco anos, a partir de 2025, com um secretariado sediado na FAO - Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - em Roma, na Itália.

Além de obter doações de recursos, uma das intenções da aliança é mobilizar fundos já existentes para programas que reconhecidamente funcionam, como os de transferência de renda condicionada, agricultura familiar, merenda escolar e cadastro único. Os países que desejam receber dinheiro devem se comprometer a adotar um dos programas.

Em seu discurso de lançamento da aliança, Lula afirmou que este será o maior legado da cúpula deste ano. “Compete aos que estão aqui em volta desta mesa a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade. Por isso, colocamos como objetivo central da presidência brasileira no G-20 o lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.”

O chileno Gabriel Boric rebateu Milei durante seu pronunciamento. Segundo relatos de fontes que acompanham a reunião, ele fez menções ao discurso do argentino e disse que, no Chile, iniciativas só pelo lado do setor privado não resolveram a questão da pobreza. Boric também elogiou programas sociais do Brasil, como o Bolsa Família.

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