Milei limita operações cambiais na Argentina antes de anunciar medidas econômicas contra a crise

Chamado na imprensa argentina de ‘feriado bancário virtual’, a medida condiciona à aprovação da direção do BC as operações com dólar no dia de hoje.

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Foto do author Carolina Marins
Atualização:

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - O Banco Central da Argentina, agora sob o comando do presidente Javier Milei, limitou nesta segunda-feira, 11, operações com câmbio no país, depois de o governo adiar para a terça-feira, 12, as suas primeiras medidas econômicas. Chamado na imprensa argentina de ‘feriado bancário virtual’, a medida condiciona à aprovação da direção do BC as operações com moeda americana no dia de hoje.

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“Durante o dia, as operações de câmbio serão aprovadas conforme a necessidade”, disse o BC. A medida ocorre em meio à troca das autoridades do banco, que estão sendo nomeadas hoje pelo novo governo. “A medida foi ordenada para dar tempo à gestão do Poder Executivo para cumprir os procedimentos administrativos para a formação das novas autoridades e anunciar e implementar as políticas que irão executar“, diz o comunicado.

Sob Alberto Fernández, o governo adotou uma série de bandas cambiais em meio a escassez de moeda forte e a resistência do governo em liberar a flutuação da moeda americana conforme o mercado. Uma delas, o dólar poupança, destinado a argentinos que queiram comprar a moeda como pessoa física, teve a comercialização suspensa.

Milei e a irmã, Karina, durante a cerimônia de posse em Buenos Aires Foto: AP Photo/Julian Bongiovanni

O atual presidente do Banco Central, Miguel Pesce, havia pedido a sua renúncia do cargo já na semana passada, mas ainda esperava uma aprovação do Executivo. Hoje, o ministro da Economia Luis “Toto” Caputo anunciou o nome de Santiago Bausili para a nova presidência, mas ainda deve levar alguns dias para o nome ser publicado no Diário Oficial.

Na prática, a decisão diz que toda operação de câmbio relacionada ao comércio exterior deve passar pela aprovação do conselho do banco. Segundo os jornais argentinos, no mercado financeiro o movimento é visto como uma prévia de uma desvalorização do peso, muito aguardada.

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Em breve espera-se que a nova diretoria do Banco Central anuncie medidas para corrigir a distorção cambiária que existe na Argentina. Atualmente há mais de 15 tipos de câmbios circulando, com o oficial estando defasado em 150% em relação ao paralelo mais utilizado (conhecido como dólar Blue). Caputo deve anunciar em breve como pretende fazer a correção.

Nas medidas econômicas que foram publicadas pela imprensa argentina na semana passada, se falava da possibilidade de desvalorizar o dólar oficial em mais de 600 pesos (que atualmente está acima de 400). Enquanto o oficial está este valor, o blue circula próximo dos 1000 pesos por dólar. A medida, porém, não é certa.


Governo adia medidas

Mais cedo, o governo informou o adiamento dos anúncios das medidas econômicas que pretende tomar para conter a intensa crise do país. Havia enorme expectativa no mercado financeiro para os anúncios de hoje, já que o governo de Javier Milei ainda não apresentou um plano econômico claro.

Na sexta-feira, o jornal argentino Clarín havia adiantado que Milei e Caputo fariam os primeiros anúncios já nas primeiras horas desta segunda, com uma série de medidas que não precisariam de um respaldo do Congresso. Esta manhã, porém, Manuel Adorni, designado porta-voz da presidência, informou que as mudanças serão confirmadas amanhã, sem um horário definido.

“É uma decisão do presidente mudar a raiz de uma questão sinistra, dar-lhe uma definição dura, do que está acontecendo na Argentina de um setor de privilégios versus muita gente que está passando por maus bocados devido a uma liderança que durante décadas não se importou, foi capaz de resolver os problemas”, disse, afirmando que a Argentina vive “um estado de emergência” por causa da inflação.

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O porta-voz repetiu que “virão tempos complexos” por causa das decisões econômicas que tomará o governo, mas se recursou a “fazer futurologia” quando foi questionado.

Ontem, durante seu primeiro discurso ao público nas escadarias do Congresso, Milei falou de uma política de choque para mudar o rumo econômico do país e falou que não há tempo para gradualismos. Seu ministro, porém, é menos afeito a medidas bruscas. Até o momento, as possíveis medidas que deve tomar o novo governo foram divulgadas apenas pela imprensa argentina, citando fontes anônimas.

As medidas que haviam sido adiantadas na imprensa incluíam: proibição do Banco Central de emitir moeda, remoção dos subsídios até abril, fim das obras públicas, liberação dos preços, desvalorização e fixação do dólar, entre outras.

Fachada do Banco Central da Argentina Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE

Com Milei, espera-se que já a partir desta semana comece uma primeira onda de aumento dos preços devido ao fim do controle que fazia o governo de Alberto Fernández. Na intenção de conter a inflação e manter viável a candidatura do então ministro da Economia Sergio Massa, o governo mantinha um programa de teto de preços para vários produtos essenciais, principalmente alimentos. Também se aguarda um aumento nos preços dos combustíveis e dos transportes públicos, que sofriam igual intervenção.

Caputo começou esta manhã a indicar os primeiros nomes de sua equipe econômica que terá a difícil tarefar de evitar uma hiperinflação no futuro próximo. Pablo Quirno foi indicado como Secretário de Finanças, com o objetivo de atrair mais dólares para a Argentina, que convive com a falta da moeda. Não à toa, Milei afirmou em seu discurso que “não há dinheiro”.

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Milei espera conquistar a confiança de investidores para atrair dinheiro ao país e então conduzir a sua política de ajuste, no entanto, a falta de uma definição do plano econômico não tem contribuído para gerar essa confiança.

Também nesta manhã, Milei conduziu na Casa Rosada a sua primeira reunião de gabinete. Ontem, em seu primeiro decreto, o novo presidente cortou pela metade o número de ministérios, de 18 do governo anterior para nove. O número final, no entanto, foi um recuo, já que ele prometia ter oito ministérios, mas voltou atrás com a pasta da Saúde.

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