Milei toma posse com argentinos impacientes e sem margem para erros; leia a análise

Presidente Javier Milei chega em um cenário politicamente complexo e economicamente crítico, em que os argentinos não têm paciência e não há margem para erros ou experimentos

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Por Facundo Galván*

A partir de agora se iniciam quatro anos de um novo Executivo Nacional na Argentina. Os argentinos não têm paciência, não há margem para erros ou experimentos, e até mesmo o impulso moral que serviu de combustível após o triunfo na Copa do Mundo do Catar 2022 parece ter sido consumido. A Argentina de Javier Milei é uma incógnita, um ponto de interrogação cheio de expectativas.

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A partir deste 10 de dezembro, inicia-se uma etapa sem precedentes em nosso país: de certa forma, o cenário político nacional se “abrasileirou”, e isso merece ser esclarecido.

Em primeiro lugar, como tem sido o caso há muito tempo no Brasil, o Congresso Nacional é altamente fragmentado, com o partido do Presidente tendo um número baixo de assentos, com o A Liberdade Avança (LLA) mal conseguindo conquistar 10% dos assentos no Senado e 15% na Câmara dos Deputados. Aqueles que estudam a política brasileira sabem que congressos divididos são comuns no país, e a política de coalizão gera dinâmicas que possibilitam a governabilidade.

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, toma posse neste domingo Foto: Natacha Pisarenko/AP

Em segundo lugar, a política partidária tradicional sucumbiu à uma oferta neófita em nível presidencial. Milei é um outsider, ele se considera e se mostra amigo de Bolsonaro, e também concorda com ele em sua visão ideológica da política.

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Começar a analisar a experiência recente do “bolsonarismo” no Brasil tornou-se muito interessante na Argentina como um possível espelho do que está por vir (como uma espécie de efeito Orloff invertido).

Em terceiro lugar, a relação política com os governadores parece estar mudando nos processos eleitorais recentes. De fato, é preciso voltar a Néstor Kirchner em 2003 para ver um governador chegar ao Executivo nacional (é verdade que Mauricio Macri foi chefe de governo, assim como Fernando De La Rúa, mas não um governador de província).

Essa situação também mostra que estamos diante de um Executivo em que as relações do presidente são com os prefeitos sem a intermediação dos governadores, como é mais comum no Brasil.

No entanto, esse período começará com uma grande diferença em relação ao Brasil: os cargos do gabinete que Milei concedeu a outros partidos políticos (incluindo muitos dos funcionários de Alberto Fernández que ele ratificou em seus cargos) foram concedidos em caráter pessoal, e não negociados por seus partidos de origem.

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Patricia Bullrich (ex-candidata à presidência pelo PRO) e Luis Petri (ex-candidato à vice-presidência pela UCR) não assumiram o cargo de ministros da segurança e da defesa, respectivamente, em nome do PRO ou da UCR, mas ambos assumiram o cargo em caráter pessoal.

A estratégia do presidente Milei parece ter como objetivo fazer com que os governadores deem seu apoio para garantir a governabilidade em troca do uso de suas ferramentas disponíveis graças ao federalismo fiscal da Argentina.

Sem as transferências discricionárias (que se somam à coparticipação federal), os governadores geralmente ficam expostos ao risco de as províncias ficarem no vermelho.

Milei recebe Jair Bolsonaro e sua comitiva dois dias antes da posse presidencial Foto: Reprodução / Instagram / Partido Liberal

O espectro da estagflação, com cortes de empregos e o surgimento de protestos sociais em massa, continua sendo o cenário mais difícil de ser controlado por esse novo governo.

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A Argentina deu um salto no vazio em sua busca por mudanças, a classe política tradicional não garantiu que estava pronta para iniciar a transformação que A Liberdade Avança prometeu.

Resta saber se essas promessas serão traduzidas em um novo cenário político de desenvolvimento e prosperidade, ou se um novo ciclo político-econômico terá início, oscilando entre a instabilidade e a polarização, como tem acontecido há muitas décadas.

*Facundo Galván é professor de Ciência Política na Universidade de Buenos Aires (UBA)

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