TEL-AVIV - Centenas de milhares de israelenses voltaram às ruas neste sábado, 1º, para protestar contra o controverso plano de Binyamin Netanyahu para reformar o sistema jurídico de Israel, apesar da suspensão temporária da tramitação da lei anunciada pelo premiê no início da semana após uma greve geral no país.
Os manifestantes se reuniram em Tel-Aviv, centro comercial de Israel no Mediterrâneo, para a 13ª semana de manifestações, levantando bandeiras e cartazes contra o que disseram ser planos para enfraquecer a Suprema Corte. Vários comícios menores ocorreram em outras vilas e cidades. Os protestos acontecem desde que o governo de Netanyahu, o mais direitista da história do país, introduziu as mudanças.
Mas na segunda-feira, Netanyahu adiou o plano de reforma que dividiu profundamente os israelenses, dizendo que queria “evitar uma guerra civil” ao buscar tempo para fazer um acordo com os oponentes políticos. Os organizadores do protesto, no entanto, prometeram manter a pressão, pedindo que os planos sejam descartados completamente.
Além disso, muitos israelenses não confiam que Netanyahu e seus aliados de coalizão vão de fato abrir espaço para diálogo nos próximos dias. Em 28 de março, ocorreu uma reunião entre representantes da maioria e dois dos principais partidos da oposição, mas muitos analistas estão céticos quanto às chances de um acordo entre os lados.
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A proposta mergulhou Israel em sua pior crise doméstica em décadas. Líderes empresariais, economistas importantes e ex-chefes de segurança se manifestaram contra o plano, dizendo que ele está levando o país a uma autocracia. Pilotos de caça e reservistas militares ameaçaram não se apresentar para o serviço, e a moeda do país, o shekel, despencou de valor.
O plano daria a Netanyahu, que está sendo julgado por acusações de corrupção, e seus aliados a palavra final na nomeação dos juízes do país. Também daria ao parlamento, que é controlado por seus aliados, autoridade para anular as decisões da Suprema Corte e limitar a capacidade do tribunal de revisar as leis.
Netanyahu argumentou que a revisão é necessária para controlar um tribunal liberal e excessivamente intervencionista de juízes não eleitos. Mas seus oponentes dizem que o pacote prejudicaria o sistema de freios e contrapesos do país ao concentrar o poder nas mãos dos aliados de Netanyahu. Eles também dizem que ele tem um conflito de interesses por ser um réu criminal, acusação sustentada pela Procuradoria-Geral do país.
A desconfiança de analistas e dos manifestantes é de que a reforma, que falta precisa de apenas mais uma votação para ser aprovada no Parlamento, retorne após o recesso legislativo do mesmo ponto onde parou. Netanyahu suspendeu a tramitação até o fim de maio, quando o Parlamento retoma seus trabalhos após o período da Páscoa Judaica e do recesso. Além disso, para conseguir adiar seus planos sem esfacelar sua coalizão, Netanyahu teve que fazer concessões à extrema direita que tem causado preocupações de segurança.
De acordo com a imprensa israelense, entre 170.000 a 200.000 pessoas se manifestaram em Tel Aviv no sábado, enquanto dezenas de milhares se reuniram em várias cidades do país. Os organizadores dizem que mais de 400.000 se manifestaram em todo o país, mas os números não puderam ser checados oficialmente.
“Continuaremos indo às ruas até que nos seja prometido que o Estado de Israel continuará sendo uma democracia”, disseram os organizadores ao Times of Israel.
Vídeos de violência policial começaram a circular nas redes sociais, principalmente de uma mulher sendo agredida por policiais da cavalaria. Em resposta ao vídeo, a polícia alegou que a mulher atingiu o cavalo na cabeça com a placa que segurava, e o policial respondeu de acordo, informou o Times of Israel. Cerca de 19 manifestantes teriam sido presos.
Em um novo desenvolvimento, os manifestantes agitaram bandeiras de Israel junto com bandeiras americanas, depois de desentendimentos diplomáticos entre Netanyahu e seu maior aliado, os Estados Unidos./AFP e AP
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