Militares rivais no Sudão sinalizam cessar-fogo após ataques a comboios humanitários

Apesar do acordo de trégua, residentes da capital Cartum continuam vivenciando conflito

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação

As forças armadas rivais do Sudão concordaram com um cessar-fogo de 24 horas, que começou às 18h no horário local (13h de Brasília) após diversos ataques a comboios humanitários. Contudo, moradores ouviram tiros e explosões em diferentes partes de Cartum, capital do Sudão.

PUBLICIDADE

Logo após o anúncio, o grupo paramilitar conhecido como Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), que estabeleceu o pacto com os militares do Sudão, começou a acusar o Exército de violar a trégua.

Os conflitos já mataram mais de 200 civis desde sábado em um dos piores confrontos no Sudão em anos. Um relatório das Nações Unidas descreveu homens armados atacando casas, saqueando escritórios de agências humanitárias e agredindo seus funcionários.

Imagens de satélite mostram diversas aeronaves danificadas no aeroporto de Cartum, Sudão  Foto: Planet Labs / AP

De acordo com moradores, o número de mortos pode ser ainda maior, com relatos de corpos deixados nas ruas, inacessíveis por causa dos confrontos.

Publicidade

Representantes de EUA e EU são atacados

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que um comboio diplomático dos EUA foi alvejado, mas nenhum funcionário dos EUA ficou ferido. Ele descreveu o ataque de segunda-feira como “imprudente” e “inaceitável”. O embaixador da União Europeia no Sudão, Aiden O´Hara foi atacado dentro de sua casa.

Blinken costurou o cessar-fogo na noite de segunda-feira, 17, ao conversar separadamente com os dois generais rivais, o chefe das Forças Armadas, general Abdel Fattah Burhan, e o líder do RSF, general Mohammed Hamdan Dagalo.

Conflitos armados se intensificam na capital do Sudão, Cartum  Foto: Stringer / EFE

“A verdade é que, no momento, é quase impossível prestar qualquer serviço humanitário dentro e ao redor de Cartum”, disse Farid Aiywar, chefe da delegação da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho para o Sudão, em entrevista ao jornal britânico The Guardian. “Há ligações de várias organizações e pessoas presas pedindo para serem retiradas de suas casas.”

Hospitais são esvaziados e civis tentam se proteger

Durante os conflitos, diversos civis tiveram de ficar em casa desde o começo dos embates armados, no sábado, 15, sem eletricidade e água encanada. Os poucos mercados que estão abertos avisaram que não vão conseguir prosseguir com as atividades por muito tempo sem abastecimento.

Publicidade

Os 12 maiores hospitais de Cartum foram esvaziados e fechados, segundo um comunicado do Sindicato dos Médicos. O impasse impediu o trabalho dos médicos e bloqueou o acesso de ambulâncias, de acordo com grupos de ajuda no Sudão.

De acordo com um relatório interno de segurança da ONU compartilhado com o jornal The Washington Post, homens armados, supostamente da RSF, invadiram as casas de estrangeiros em Cartum, separando homens e mulheres e levando-os embora. O relatório disse que uma mulher japonesa foi estuprada e outra mulher foi agredida sexualmente, enquanto dois funcionários nigerianos foram sequestrados.

A luta irrompeu repentinamente no início da última semana do mês sagrado islâmico de jejum, o Ramadã. “Estamos tentando aproveitar o Ramadã para tentar continuar nossa fé e oração”, apontou Mohammed Al Faki, um dos 89 alunos e funcionários presos no prédio de engenharia da Universidade de Cartum. “Estamos tentando ajudar uns aos outros a permanecer pacientes até que esta crise termine.”

Um estudante foi morto por um atirador, disse ele, e o seu corpo foi enterrado no campus. Os alunos e funcionários tentam ficar dentro de casa, mas ocasionalmente precisam sair para comprar suprimentos, correndo o risco de serem perseguidos por combatentes do RSF que lutam contra as tropas nas proximidades.

Publicidade

Sudaneses carregam baldes em busca de água potável depois que o abastecimento foi afetado devido aos combates entre o exército sudanês e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido em Cartum, Sudão Foto: Stringer / EFE

“Eles estão nos atacando nas ruas. Eles estão saqueando. Se você estiver andando, eles vão tirar até o seu telefone na rua. Não há segurança”, disse o estudante de 19 anos sobre o RSF. “Nosso maior problema é como podemos sair desses dois quilômetros quadrados.”

Entenda o conflito

Os confrontos envolvem tropas de dois generais, que eram aliados: Abdel-Fattah Burhan, comandante das Forças Armadas, e o general Mohammed Hamdan Dagalo, chefe do RSF. Ambos orquestraram em conjunto um golpe militar que ocorreu em outubro de 2021 e agora disputam a hegemonia do poder. Nos últimos meses, organismos internacionais intermediaram um acordo entre os comandantes e partidos políticos para restabelecer a democracia sem sucesso.

Sob pressão internacional, Burhan e Dagalo concordaram recentemente com um acordo com partidos políticos e grupos pró-democracia. Mas a assinatura foi repetidamente adiada à medida que aumentavam as tensões sobre a integração do RSF nas forças armadas e a futura cadeia de comando. / AP e W.Post

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.