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Ministra da Defesa da Alemanha criticada por conduta na guerra na Ucrânia renuncia ao cargo

Christine Lambrecht foi duramente criticada pela relutância alemã em enviar armas em apoio à Ucrânia

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Por Redação
Atualização:

A ministra da Defesa da Alemanha, Christine Lambrecht, renunciou ao cargo nesta segunda-feira, 16, após uma série de críticas acerca da sua resposta à guerra na Ucrânia, ao progresso lento dos planejamentos militares e a sua conduta pública.

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Lambrecht é o membro de mais alto escalão do governo do chanceler Olaf Scholz a renunciar até agora, e a sua saída pode representar uma derrota política para Scholz e para o Partido Social-Democrata alemão. O chanceler a defendeu repetidas vezes publicamente, chamando-a de “ministra de Defesa de primeira linha” em uma entrevista recente.

Desde que assumiu o cargo, no ano passado, no início do governo de Scholz, Lambrecht foi alvo de críticas que a fizeram foco da oposição alemã. A ex-ministra não tinha experiência anterior com as forças armadas e era amplamente vista por colegas políticos e especialistas em segurança como alguém sem interesse em chefiar o Ministério da Defesa. Segundo o jornal Bild, ela sequer conseguiu nomear as patentes militares alemãs em uma entrevista ao jornal.

Ex-ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, em uma visita à Brigada de Treinamento de Tanques em Munster, na Alemanha, em fevereiro de 2022. Lambrecht renunciou ao cargo após uma série de críticas Foto: Philipp Schulze / AP

Em um comunicado na manhã desta segunda-feira, Lambrecht se queixou sobre o foco midiático que recebe “como pessoa”. “[Isso] dificilmente permite reportagens e discussões sobre os militares, as forças armadas alemãs e as decisões de política de segurança”, declarou.

A renúncia ocorre em um momento difícil para Scholz, cujo governo enfrenta a pressão crescente para enviar à Ucrânia os tanques Leopard 2 ou permitir que outras nações europeias enviem – os países são obrigados a receber a aprovação de Berlim antes de enviar qualquer arma de fabricação alemã. Entretanto, não se espera que a renúncia mude a posição alemã, que sempre negou a relutância.

Scholz prometeu nomear um substituto em breve para Lambrecht, que, segundo ele, mostrou “tremenda dedicação” ao cargo. “O Ministério da Defesa, os militares e todos, todos os que estão preocupados com a defesa em nosso país, merecem que isso seja esclarecido rapidamente”, disse ele. “Hoje não é o dia de informar o que vai acontecer a seguir. Mas eu digo que tenho uma ideia clara sobre o que fazer.”

O novo nome, entretanto, pode representar outro desafio para o chanceler. O Ministério da Defesa é considerado uma pasta de difícil nomeação na Alemanha, particularmente entre os social-democratas, que passa por uma disputa interna para alterar ou não a postura pacifista na política externa após a guerra na Ucrânia.

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Lambrecht enfrentou uma rejeição pública crescente após o início da guerra. Enquanto as nações europeias debatiam o envio de armas para Kiev nos primeiros dias da invasão, a ministra alardeava uma entrega de 5 mil capacetes. À medida que o governo se manteve relutante sobre o envio de armas, a ministra se tornou a figura pública mais atingida por essa postura – apesar do fato da escolha política ser em grande parte impulsionada por Scholz.

“Ela não era a pessoa certa para o cargo em um momento tão crítico, quando todos estavam olhando para a maior potência da Europa para fazer mais”, disse o especialista em defesa alemã do Conselho Europeu de Relações Exteriores, Ulrike Franke.

As críticas aumentaram em meados de junho do ano passado, quando veio à tona que Lambrecht havia usado um helicóptero do governo para levar seu filho de férias com a família.

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Mais recentemente, os partidos de oposição na Alemanha argumentaram que Lambrecht é responsável pela lenta implantação de um fundo de defesa no valor de 100 bilhões de euros (R$ 556,8 bilhões) como parte de um plano do governo para reforçar drasticamente suas forças armadas em resposta à guerra na Ucrânia. A Alemanha tem estoques limitados de munição básica, o suficiente para apenas horas ou dias de combate.

Na avaliação de Franke, embora a ex-ministra tenha sido frequentemente atacada por decisões lideradas por Scholz, o principal fracasso de Lambrecht foi a incapacidade ou relutância em assumir o projeto anunciado pelo chanceler como ponto de virada na política externa e militar da Alemanha. “Ela não parecia querer conduzir esforços reais de reforma”, disse Franke. “Com o Zeitenwende (o novo projeto militar), houve uma verdadeira abertura para mudar as coisas, e não parecia que ela tivesse qualquer ambição de fazer isso.” /NEW YORK TIMES

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