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Ministra de Milei diz que Mercosul precisa de ‘choque de adrenalina’ e garante permanência do país

Diana Mondino disse que seu governo possui uma ‘visão crítica’ sobre o Mercosul atual e que entende que o bloco não aproveita todas as oportunidades

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Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

Enviado especial a Assunção - Apesar da ausência do presidente Javier Milei, a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, garantiu neste domingo, dia 7, a permanência do país como membro do Mercosul, mas pregou um “choque de adrenalina” no bloco. Mondino elencou uma série de problemas no funcionamento e, em tom reformista, defendeu a “atualização do Mercosul”.

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“Creio que o Mercosul está precisando de um choque de adrenalina”, afirmou Diana Mondino. “A agenda do bloco possui um alto grau de inércia, avança lentamente, dados as enormes mudanças no mundo. Não é que não avance, mas o mundo vai mais rápido.”

A ministra disse que seu governo possui uma “visão crítica” sobre o Mercosul atual e que entende que o bloco não aproveita todas as oportunidades de ser, ao mesmo tempo, um mercado ampliado e plataforma para relacionamento com o mundo e alcançar outros mercados. Segundo ela, as limitações internas do bloco com tarifas e divergências de prioridades políticas prejudicam os cidadãos.

“É indiscutível que o Mercosul até agora não conseguiu facilitar acesso aos grandes mercados fora da zona, no resto do mundo. Nosso bloco não tem acordos com os países que dinamizam. É verdade que quase já temos, sim, mas ainda não, não terminou o acordo UE-Mercosul. E no futuro próximo temos que ter relação com os países que hoje dinamizam o mercado”, criticou ela.

Encontro dos ministros das Relações Exteriores do Mercosul Foto: Divulgação/Ministério das Relações Exteriores do Paraguai

Segundo a ministra, a Argentina vai apresentar no próximo semestre as linhas gerais de uma proposta para revisão da TEC, a Tarifa Externa Comum. “A isso se soma uma tarifa externa comum relativamente alta para padrões internacionais. Isso me escreveram, e eu acho uma grosseria, mas tenho que ler o que está escrito. É muito alta. Tem dispersão, tem exceções e dificulta a operação de nossas empresas.”

Ela lidera a delegação do país, por causa da desistência de Javier Milei, e fez sua estreia na reunião do Conselho Mercado Comum, em Assunção, no Paraguai. A ausência do argentino motivou novas dúvidas sobre a falta de prioridade política e as intenções de seu governo com o bloco. Em campanha eleitoral, Milei ameaçou retirar a Argentina do Mercosul. Ele acusou o agrupamento de prejudicar seus membros e de criar distorções comerciais.

Nos primeiros meses de seu governo, porém, os representantes da Argentina deram sinais de que apostariam em negociações de acordos comerciais com outros países e blocos, de forma conjunta, que pudessem modernizar o Mercosul.

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“A Argentina está em um novo processo de impulsionar uma política econômica exterior muito mais ativa, centrada na liberdade. A respeito do Mercosul, reafirmamos nossa membresia, sobre a qual nunca houve nem haverá dúvidas”, assegurou a chanceler argentina.

A ministra disse que o governo Milei quer uma economia desregulamentada, mais aberta e liberal - e defende que a Argentina e o Mercosul “participem das decisões do resto do mundo”.

A chanceler da Argentina, Diana Mondino, estreia no Mercosul - 7/7/2024 Foto: Divulgação/Ministério das Relações Exteriores do Paraguai

“A Argentina está cumprindo com seus deveres. Ou ao menos estamos tentando. Vocês sabem de onde a gente vêm, das enormes dificuldades que a Argentina mesmo impôs aos países vizinhos com uma quantidade de medidas”, disse a ministra de Milei, que possui formação econômica. " Estamos tratando de normalizar o comércio exterior, de favorecer a livre importação de bens e serviços e de estar em dia com nossas dívidas, que são muitas. É um trabalho lento e caro. Repito: estamos cumprindo nossos deveres.”

Segundo a chanceler, o Mercosul atualmente não tem “agilidade e capacidade de nos projetar aos temas do futuro”. Ela notou que o bloco não fez nenhum debate sobre Inteligência Artificial, o tratamento da pandemia e a homologação de títulos universitários, e investe muitos recursos humanos e financeiros em negociações técnicas que geram instrumentos que jamais entram em vigor. Citou três acordos de contratação pública, um instrumento para evitar a cobrança dupla da tarifa externa comum e um código aduaneiro: “Isso impacta negativamente na imagem do Mercosul. Temos que colocar pilha, como dizem os jovens, para que funcione”.

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Mondino proferiu discurso com indiretas e palavras calculadas com objetivo de passar a ideia de que o bloco precisa de mais energia e mudanças. Citou, por exemplo, indicadores de que o comércio entre os países membros da zona caiu nos últimos anos. Em 1998, disse ela, as exportações dos quatro países parte para o Mercosul representavam cerca de 25% e agora está por volta de 12% a 13%. Segundo ela, o comércio intrazona em 2023 foi de 11%, incluenciado também por fatores externos como a emergência da China e de outros mercados. Mas citou como fator negativo a resiliência de barreiras tarifárias e não-tarifárias entre Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina.

A chanceler de Milei citou interesse da Argentina em integração de infraestrutura e energética - sobretudo por meio do gasoduto de Vaca Muerta e do intercâmbio de gás - e mencionou ainda iniciativas para fomentar a conectividade aérea com os países do Cone Sul, por meio da liberação de voos definidos segundo critérios de mercado, os acordos de céu aberto, como o formalizado com o Brasil.

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