Demissão de secretário de Tesouro e revisão de plano fiscal colocam governo Truss na berlinda

Kwasi Kwarteng deixa o cargo após perder a confiança do mercado financeiro por causa de seu plano econômico de corte de impostos; Jeremy Hunt será o novo secretário

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Por Redação
Atualização:

LONDRES - A demissão do secretário do Tesouro do Reino Unido, Kwasi Kwarteng, e a má repercussão da decisão da primeira-ministra Liz Truss de revisar seu plano fiscal agravaram a crise política britânica e colocaram o governo da premiê na berlinda.

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Semanas depois de insistir com um plano de corte de impostos que desestabilizou a libra esterlina, Truss optou por aumentar impostos de empresas sediadas no Reino Unido e demitir Kwarteng, um ultraliberal, depois de o mercado desconfiar da estabilidade fiscal do plano, já que o país teria menos receita para se financiar em um contexto de crise inflacionária provocada pela guerra na Ucrânia.

A curta entrevista de Truss para anunciar o novo plano e a demissão repercutiu mal no meio político britânico, até mesmo dentro do próprio Partido Conservador. Alguns deputados acreditam que a primeira-ministra perdeu a credibilidade política.

Com o Partido Trabalhista na frente nas pesquisas, a antecipação de eleições gerais prejudicaria os Tories, mas uma substituição da própria liderança da legenda seria improvável, uma vez que o partido acabou de remover Boris Johnson do cargo para substituí-lo por Truss no fim de setembro. Pelas regras do Parlamento, esse tipo de substituição infrapartidária é limitado.

O ex-chanceler Jeremy Hunt, um conservador moderado e defensor da permanência do Reino Unido na União Europeia será o novo secretário do Tesouro.

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A demissão de Kwarteng, um amigo de longa data de Truss e ultraliberal econômico, foi confirmada em seu Twitter depois que a BBC e a Sky News anteciparam a informação. “Você me pediu para me afastar como secretário do Tesouro. Eu aceitei”, escreveu em uma carta direcionada à Truss. Kwarteng se reuniu com Truss depois de retornar às pressas para Londres de uma reunião do Fundo Monetário Internacional que acontecia em Washington.

Poucas horas depois da demissão, a Downing Street confirmou o nome de Jeremy Hunt como novo secretário do Tesouro. Hunt foi secretário das Relações Exteriores durante os governos de David Cameron e Theresa May e foi contra a saída do Reino Unido da União Europeia. Ele concorreu com Boris Johnson pelo cargo de premiê, terminando em segundo. Considerado pragmático e moderado, sua nomeação parecia destinada a tranquilizar os mercados financeiros.

Kwasi Kwarteng foi demitido do cargo de Ministro das Finanças após uma crise provocada por seu plano econômico Foto: Kirsty Wigglesworth/AP


Plano abalou o mercado

O anúncio de corte de impostos de Kwarteng, feito em 23 de setembro, causou turbulência nos mercados financeiros ao mesmo tempo em que aumentava os custos de empréstimos do governo e levava os credores a retirar algumas ofertas de empréstimos para compra de imóveis. Kwarteng e Truss já haviam sido forçados a desistir de um elemento de sua proposta, arquivando os planos de reduzir o imposto de renda para os mais ricos, mas isso até agora não conseguiu restaurar a calma.

O banco central interveio no mercado de dívida, temendo que os desenvolvimentos pudessem ameaçar alguns fundos de pensão, que eram particularmente vulneráveis. Mas planejava encerrar essa intervenção nesta sexta-feira, aumentando a urgência da tarefa do governo de restaurar a confiança.

Durante a entrevista coletiva, Truss admitiu que seu governo foi “longe e rápido demais” com seu plano e afirmou que precisa agir para tranquilizar os mercados sobre sua responsabilidade fiscal. Por isso, ela anunciou que vai manter o aumento de impostos para empresas em vez de realizar cortes. Ela prometeu que seu novo secretário entregará um plano fiscal de médio prazo até o final do mês.

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O governo culpou as condições financeiras globais, incluindo a guerra na Ucrânia, pela turbulência. Truss e Kwarteng argumentaram que as medidas de redução de impostos estimulariam o crescimento econômico e, segundo eles, seriam acompanhadas por outras mudanças que facilitariam a construção e relaxariam as regras de imigração para ajudar as empresas a contratar mais trabalhadores - há uma forte escassez de mão de obra no país em grande parte devido ao Brexit.

Mas os céticos duvidavam que o Parlamento apoiaria essas mudanças, e analistas disseram que o anúncio de 23 de setembro foi o catalisador de um pânico no mercado que ameaça elevar as taxas de juros mais do que o necessário.

Uma preocupação entre os investidores era que o governo havia ignorado os conselhos de especialistas. Antes de fazer o anúncio do mês passado, Kwarteng demitiu o mais alto funcionário do Tesouro, Tom Scholar, e afastou o Escritório de Responsabilidade Orçamentária, um órgão independente que normalmente examina esses anúncios e dá um veredicto sobre como as Tesouro públicas estão sendo administradas.

Conservadores já cogitam renúncia

A perspectiva de uma mudança de curso, no entanto, pouco ajudou a acalmar a atmosfera em Westminster, onde a reação contra o plano fiscal de Kwarteng chegou ao ponto de os políticos questionarem abertamente se ele e Truss conseguiriam sobreviver à tempestade política. Após a demissão, um grupo de conservadores decidiu pedir publicamente a Liz Truss que renuncie ao cargo de premiê.

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“Liz Truss demitiu Kwarteng para salvar sua pele, mas sua ação apenas confirmará o fato de que seu governo já entrou em uma fase de disfunção extrema”, disse Richard Toye, professor de história moderna da Universidade de Exeter. “Usar seu secretário como um cordeiro de sacrifício pode não impedi-la de se tornar a primeira-ministra com o mandato mais curto de todos os tempos.”

“Kwasi Kwarteng tornou-se o segundo secretário do Tesouro mais curto da história britânica”, acrescentou.

Mujtaba Rahman, analista do Eurasia Group, disse em uma nota que é mais provável que Truss seja deposta antes da próxima eleição, que deve ocorrer até janeiro de 2025. Seria a segunda queda do premiê conservador este ano.

Na coletiva de imprensa, Truss defendeu sua manutenção no cargo e prometeu que está absolutamente determinada a cumprir o que prometeu. “Por isso que tive que tomar as decisões difíceis que tomei hoje. A missão continua a mesma. Precisamos sim elevar os níveis de crescimento econômico do nosso país. [...] Estamos comprometidos em entregar a garantia de preço de energia que as pessoas já estão vendo em suas contas. Mas, em última análise, também precisamos garantir a estabilidade econômica, e eu tenho que agir pelo interesse nacional.”

Alguns relatórios sugerem que os conservadores estão planejando substituir Truss por uma chapa conjunta de Rishi Sunak e Penny Mordaunt, seus dois principais rivais na disputa pela liderança do partido no meio do ano, embora não esteja claro como isso poderia ser feito.

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“Embora alguns parlamentares digam que o plano para remover Truss faria os conservadores parecerem ainda mais ridículos do que são no momento, um número crescente acredita que pode ser a única maneira de evitar uma avalanche trabalhista em 2024″, escreveu Rahman.

Pelas regras atuais do Partido Conservador, que acabou de ter uma disputa de liderança, não pode haver outra disputa por um ano. Mas essas regras podem ser alteradas.

O Reino Unido em breve terá seu quarto secretário do Tesouro em menos de quatro meses. Kwarteng durou apenas 38 dias no cargo. O único secretário a servir menos tempo no cargo, Iain Macleod, morreu de ataque cardíaco após 30 dias em 1970.

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