O ex-ministro do Interior do Peru, Mariano González, demitido há duas semanas, pediu ao Congresso nesta quarta-feira, 20, a destituição do presidente Pedro Castillo, agravando a crise política existente no país. González alegou que Castillo obstrui a Justiça e protege pessoas do seu círculo político próximo.
“Acredito que a sucessão constitucional deve ocorrer. Sem dúvida, o questionamento sobre outras pessoas, incluindo a vice-presidente, deve ocorrer imediatamente, o Congresso deve agir agora”, declarou González à rádio peruana RPP.
A denúncia agrava a crise política já existente entre o governo de Castillo, de esquerda, e o Congresso, de maioria de direita. Em apenas 12 meses no cargo, o peruano enfrentou duas votações de impeachment por suposta incapacidade moral para seguir no cargo. Agora, os parlamentares querem uma sessão extraordinária para tentar destituir o presidente eleito mais uma vez, em meio as acusações de corrupção.
De acordo com a presidente do Congresso, María del Carmen Alva, o Congresso vai atuar “no marco da Constituição, colocando em primeiro lugar os interesses do nosso país, que é duramente atingido pelo atual desgoverno”. “O (que foi) denunciado pelo ex-ministro revela as intenções do governo de blindar foragidos a todo custo”, declarou a parlamentar.
Mariano González também falou sobre a sua demissão, considerada uma surpresa. Segundo ele, a saída está ligada a uma decisão de Castillo de encobrir a corrupção no governo. “Acredito que para o esclarecimento da verdade e pelo país, o senhor (Castillo) deve se submeter à Justiça”, acrescentou.
O governo reagiu às acusações. O ministro de Justiça, Félix Chero, chamou-as de “nefastas” e “equivocadas”. O chefe de gabinete, Aníbal Torres, respondeu que Gonzáles foi demitido porque não atendeu às expectativas com relação à insegurança nacional.
A demissão de González aconteceu horas depois do Ministério do Interior anunciar a formação de uma equipe especial de polícia para capturar três membros do gabinete presidencial investigados pelo Ministério Público por supostos crimes de tráfico de influência, organização criminosa e conluio agravado.
Os três estão foragidos desde junho. São eles: um ex-ministro; um sobrinho de Castillo, que atuou como assessor presidencial; e o ex-secretário da presidência peruana, todos membros da administração desde o início de seu governo, em 28 de julho do ano passado. Castillo também é investigado, mas não pode ser levado à Justiça por ser chefe de Estado. O mandato está previsto para terminar em 2026.
As investigações por tráfico de influência começaram após a denúncia, em dezembro, de supostas irregularidades do governo no processo de promoção de oficiais da Forças Armadas.
Eleito em 2021 em meio ao caótico cenário da política peruana, Pedro Castillo, de 52 anos, passou a lidar com crises em seu governo desde antes de assumir o cargo, quando a oposição passou a contestar o resultado das eleições. Sentado na cadeira presidencial, Castillo já precisou fazer uma série de reformulação de gabinetes, perdendo o apoio de figuras centrais de seu próprio partido. /AFP
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