Ministros de Saúde e do Tesouro rompem com Boris Johnson e ameaçam governo do premiê

Saída pode significar o fim da administração de Boris Johnson no Reino Unido, após meses de escândalos

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

LONDRES - Dois dos mais importantes ministros britânicos renunciaram aos cargos nesta terça-feira, 5, e deixaram o governo de Boris Johnson. A saída pode significar o fim da liderança do primeiro-ministro do Reino Unido, após meses de escândalos.

PUBLICIDADE

Os dois ministros em questão são Rishi Sunak e Sajid Javid, que chefiavam o Tesouro e a Saúde, respectivamente. Eles anunciaram a saída poucos minutos depois de Johnson reconhecer que mudou o discurso sobre como lidou com as alegações de má conduta sexual de um membro do governo.

“É com enorme pesar que devo dizer a vocês que não posso mais, em sã consciência, continuar servindo neste governo”, disse Javid na carta de renúncia. “Sou instintivamente um jogador de equipe, mas o povo britânico também espera, com razão, integridade de seu governo.’’

Primeiro-ministro britânico Boris Johnson (centro) ao lado do então Chanceler do Tesouro Rishi Sunak (direita) e do ministro da Saúde Sajid Javid (esquerda). Autoridades renunciaram após novo escândalo no governo britânico Foto: Frank Augstein/AP

Sunak disse que “o público espera com razão que o governo seja conduzido de forma adequada, competente e séria”. “Reconheço que este pode ser meu último cargo ministerial, mas acredito que vale a pena lutar por esses padrões e é por isso que estou me demitindo”, acrescentou.

Publicidade

Tanto Sunak quanto Javid foram vistos como possíveis candidatos à liderança dentro do Partido Conservador se Johnson for forçado a sair. Suas saídas foram um grande golpe para o primeiro-ministro, porque ambos estavam encarregados de dois dos maiores problemas enfrentados pela Grã-Bretanha no momento – a crise do custo de vida e as consequências da pandemia de coronavírus.

As renúncias deixam Johnson na posição mais perigosa do mandato de três anos como primeiro-ministro, após uma série de crises que o forçaram a sobreviver a uma moção de censura no mês passado.

O último escândalo envolvendo Johnson diz respeito a nomeação do parlamentar Chris Pincher ao cargo de vice-chefe da polícia. Acusado de assediar dois homens em um clube privado, Pincher deixou o cargo na quinta-feira passada.

O caso atingiu Boris Johnson, que enfrentou pressão da imprensa britânica e do Partido Conservador para explicar o que sabia sobre acusações anteriores de má conduta de Chris Pincher. A explicação do governo sobre o caso mudou repetidamente nos últimos cinco dias. Primeiro, os ministros disseram que Johnson não estava ciente de nenhuma acusação quando promoveu Chris Pincher ao cargo em fevereiro. Na segunda, um porta-voz disse que ele sabia de alegações de má conduta sexual que “foram resolvidas ou não evoluíram para uma queixa formal”.

Publicidade

Mas, nesta terça-feira, o premiê reconheceu que sabia de um incidente semelhante em 2019 e disse que foi um erro nomeá-lo. “Acho que foi um erro e peço desculpas por isso. Em retrospectiva, foi a coisa errada a fazer”. Minutos depois da declaração, os dois ministros apresentaram as cartas de renúncia.

Segundo uma análise do The Guardian, muito provavelmente as renúncias de Sajid Javid e Rishi Sunak foram coordenadas para pressionar Johnson a deixar o cargo. O isolamento político é visto como a única maneira possível de pressão, já que uma nova moção de censura só pode ser votada daqui a um ano devido as regras partidárias – a menos que elas sejam alteradas, o que é permitido.

A crise em torno das circunstâncias da nomeação de Pincher - e as mudanças de explicações do governo sobre isso - é apenas o escândalo mais mais recente de uma série que atingem Johnson. No início deste ano, ele foi multado pela polícia por quebrar as próprias regras de bloqueio em Downing Street (rua que abriga as residências oficiais e os escritórios do Primeiro Ministro e do Chanceler do Tesouro), nas quais membros de sua equipe realizaram várias festas abastecidas com álcool. /AP, NYT

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.