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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião | Momento político inoportuno

Xi Jinping tenta obter um terceiro mandato, em meio a uma redução do crescimento da China

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Xi Jinping disse na quinta-feira a Joe Biden: “Quem brinca com fogo morre queimado. Espera-se que os EUA entendam isso”. O contexto imediato da frase é a notícia não confirmada de que a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, aliada de Biden, visitaria Taiwan em agosto. O próprio Biden declarou não estar a par do status desses planos, e ter ouvido de comandantes militares que “não seria uma boa ideia”.

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Militares da reserva e civis ultranacionalistas na China têm proposto que aviões militares chineses impeçam o pouso de Pelosi em Taipé, escoltem seu avião ou pelo menos sobrevoem Taiwan, violando seu espaço aéreo. O governo chinês tem sido menos específico.

Para analisar as respostas de Xi a essa e outras possíveis “provocações”, na óptica chinesa, é preciso levar em conta o momento político da China. Xi trabalha para assegurar o terceiro mandato de cinco anos. É um lance arrojado.

O limite de dois mandatos tinha sido introduzido na Constituição em 1982, por Deng Xiaoping, após o trauma da insistência de Mao Tsé-tung de se manter no poder até o fim da vida. Em 2018, seguindo o desejo de Xi, o Parlamento retirou esse limite.


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Presidente da Câmara dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, irritou a China com sua programada viagem a Taiwan. Foto: J. Scott Applewhite/ AP - 21/07/2022

É praticamente certo que a permanência de Xi será referendada pelo congresso do Partido Comunista, cuja data ainda não foi oficializada, mas deve ocorrer entre outubro e novembro.

Inspirado no confucionismo, segundo o qual a entrega da prosperidade pelo governo é sinal de aprovação celestial, o sistema chinês não é democrático, mas meritocrático. E 2022 não está sendo um bom ano para Xi postular mais cinco.

Sua política de covid zero tem sido desastrosa. O crescimento de 0,4% no segundo trimestre é inaceitável para o padrão chinês, que contém implícita a promessa de retirar da pobreza 1 bilhão de pessoas. Mais alarmante é a contração de 5,7% do PIB de Xangai, epicentro econômico do país. Com um ingrediente político: a cidade é reduto do ex-presidente Jiang Zemin, rival de Xi, e por isso teria sido particularmente castigada.

Aliança sem limites

Outro erro de cálculo de Xi foi a “aliança sem limites” com Vladimir Putin, declarada 20 dias antes da invasão da Ucrânia. A forte resposta internacional levou analistas simpáticos ao regime a considerar, em alguns casos publicamente, que a aproximação com a Rússia foi prejudicial à China.

Vladimir Putin conversa por videoconferência com o presidente chinês, Xi Jinping. Foto: Mikhail Metzel/ Sputnikv via REUTERS

Xi tem feito uma gestão de danos para conter a instabilidade. Já promoveu 16 rodadas de negociações com a Índia, importante adversário, desde as escaramuças na fronteira em 2020. E não superou o recorde, batido em outubro, de 56 incursões de aviões chineses em Taiwan. A moderação deve perdurar até o fim do congresso. Depois, Xi deve retomar seu plano de anexar Taiwan. E essa será, provavelmente, a maior fonte de tensões mundiais dos próximos anos.

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É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

Opinião por Lourival Sant'Anna

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