A monarquia britânica voltou às manchetes dos jornais ocidentais na última semana com a coroação do rei Charles III e mostrou que continua recebendo grande atenção, mesmo com uma cerimônia mais modesta. Combinando tradição e modernidade, a coroação reafirmou o status da Casa de Windsor e também relembrou ao mundo a existência de outros reinos. Monarcas e membros de realezas do mundo todo estiveram no evento.
Além dos ingleses, há outras 28 monarquias espalhadas no mundo. Menos midiáticas, tratam-se de famílias reais ricas e poderosas que se espalham do Sudeste Asiático ao Oriente Médio e mantêm o poder de influência onde estão inseridas. E, assim como a monarquia britânica, vivem controvérsias e brigas internas dignas de manchete.
Cenário geral
- Das outras 28 monarquias, 17 são comandadas por reis;
- Margrethe II da Dinamarca é a única rainha;
- O presidente da França, Emmanuel Macron, e o bispo espanhol Joan Enric Vives i Sicília são os co-príncipes de Andorra, microestado com o sistema político de diarquia parlamentarista;
- O Japão tem um imperador. Brunei e Omã têm sultões. Liechtenstein e Mônaco têm príncipes. Qatar e Kuwait têm emires. Luxemburgo tem um grão-duque. E os Emirados Árabes Unidos têm um presidente, embora seja um monarca;
- Aos 87 anos, o rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdul Aziz, é o monarca mais velho. O emir Tamim bin Hamad al-Thani, no vizinho Catar, é o mais jovem, com 42 anos;
- Embora o patrimônio pessoal de Charles III seja estimado entre US$ 750 milhões (R$ 3,6 bilhões) e US$ 1,44 bilhão (R$ 7 bilhões), ele não é o mais rico. A maioria dos monarcas prefere manter as finanças em privado, mas estima-se que o patrimônio destes líderes somem mais de US$ 10 bilhões (R$ 49 bilhões);
- As monarquias podem ser divididas em três tipos 1. Poder total de governo, onde o monarca tem o controle; 2. Algum poder governante, onde a monarquia compartilha o controle com um corpo eleito, como Parlamento; 3. Um pequeno ou inexistente poder, onde o papel da monarquia se resume a ser cerimonial.
Europa
- A maioria das monarquias cumpre apenas o papel cerimonial;
- A maioria dos monarcas europeus são parentes de Charles III;
- Costumam ser bastante populares em seus países, embora pesquisas sugiram uma perda de apoio entre jovens;
- Para se manterem relevantes, vários monarcas tomaram medidas para reduzir o tamanho e modernizar;
- Há cerca de três anos, o rei sueco retirou cinco de seus netos de seus títulos e deveres reais. Embora não tenham perdido a linha ao trono, não recebem mais benefícios dos cidadãos como membros da realeza. A rainha da Dinamarca seguiu o exemplo no ano passado;
- “Permitir que seu poder político encolhesse virtualmente a zero tem sido o segredo de sua sobrevivência”, escrevem Robert Hazell e Bob Morris em “O papel da monarquia na democracia moderna”;
- Apesar de sua aparência enxuta, as monarquias europeias desfrutam de vidas luxuosas. A família real da Suécia tem mais de uma dúzia de palácios e propriedades reais. Todos os verões, a família real da Noruega parte em um iate de mais de 260 metros de comprimento para competir em regatas ou visitar aldeias de pescadores ao longo dos mares do país;
- Parte dos reis da Europa evoluíram em questões culturais fundamentais. Em 2020, o rei holandês Willem-Alexander pediu desculpas pelo uso de “violência excessiva” do país durante o domínio colonial holandês na Indonésia;
- Assim como a monarquia britânica, outras realezas da Europa estão envolvidas em acusações de racismo. O rei da Noruega, Harald V, repudiou publicamente o racismo sofrido pelo futuro genro. A princesa do país, Martha Louise, desistiu dos deveres reais no ano passado para se concentrar em cuidados holísticos com seu noivo, um xamã declarado. “É uma motivação para a Família Real refletir a diversidade étnica existente na Noruega”.
Oriente Médio
- A maioria das monarquias mais jovens e autocráticas do mundo está no Oriente Médio e tem raízes no colonialismo britânico;
- O primeiro rei da Jordânia, Abdullah I, subiu ao poder sob o mandato britânico em 1921. Ele tinha uma relação próxima com a Casa de Windsor e foi homenageado com uma saudação de 21 armas enquanto visitava o Reino Unido na coroação do rei George VI em 1937;
- A família al-Thani estava no comando de regiões do Qatar desde 1800 e aumentou o poder quando a área foi um protetorado britânico. É uma história semelhante com a família al-Saud na Arábia Saudita, que consolidou o poder e afastou rivais com a ajuda dos britânicos;
- “Agimos como esse tipo de fiador de muitas maneiras”, disse David Roberts, professor associado do King’s College London. “Às vezes, escolhíamos líderes ou segmentos da família.”;
- Enquanto outros regimes despóticos na região foram derrubados por intervenções estrangeiras ou revoltas internas, monarquias árabes do Golfo Pérsico permaneceram estáveis. A descoberta de petróleo e gás natural no golfo facilitou a modernização e transformou portos desérticos como Dubai e Doha em grandes centros globais de comércio e viagens;
- Apesar das modernizações, os monarcas governam com mão de ferro. O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, governante da Arábia Saudita desde 2017, se apresentou como reformador, mas prendeu dissidentes e, segundo a inteligência dos EUA, aprovou o assassinato do colunista do Washington Post, Jamal Khashoggi;
- A riqueza e o controle dos Estados do Golfo sobre o fornecimento global de energia permitem que eles continuem desempenhando papéis proeminentes na geopolítica.
África
- Apenas três monarquias permanecem na África: uma no Marrocos e duas nas minúsculas nações do sul de Lesoto e Eswatini, anteriormente conhecidas como Suazilândia.
- O governante de Eswatini, o rei Mswati III, é um déspota autocrático. Coroado em 1986, aos 18 anos, Mswati III governa o país há mais de 35 anos. Quando protestos pró-democracia eclodiram em 2021, foram esmagados pela polícia, que utilizou munição real contra manifestantes;
- Em contraste, o rei Letsie III do Lesoto, na África Austral, tem poucos poderes executivos ou legislativos;
- As monarquias de Lesoto e Eswatini mantiveram o poder em parte porque eram vistas como defesa de seu povo contra o domínio sul-africano, segundo Nick Westcott, diretor da Royal African Society.
- “Em ambos os países, a família real foi um elemento importante em sua afirmação da autonomia nacional”, disse Westcott.
Sudeste Asiático
- O excêntrico rei da Tailândia, Vajiralongkorn, é conhecido por vestir tops, ter sete filhos de três mulheres e fazer um funeral de quatro dias para seu poodle, Foo Foo. Embora tenha poder poderes limitado, xingar a monarquia é ilegal na Tailândia, segundo uma lei que a junta governante usou para reprimir a dissidência;
- A monarquia tailandesa em parte modelou e se alinhou às monarquias constitucionais europeias, disse Susie Protschky, professora associada de história da Universidade Deakin, na Austrália. “Os governantes viajam. Os filhos e netos são educados na Europa, e são recebidos pela corte real europeia”, disse ela;
- Em 2021, milhares foram às ruas na Tailândia para pedir reformas democráticas e criticaram o papel da monarquia na política do país;
- O sultão de Brunei, Hassanal Bolkiah, é um dos líderes nacionais mais poderosos do mundo. Como monarca absoluto e bilionário, ele é o autonomeado primeiro-ministro do país e controla a mídia estatal. Ele é atualmente o monarca que reina há mais tempo no mundo. A pequena população do país e a vasta riqueza petrolífera permitem que seu povo viva confortavelmente.
- Em 1962, os britânicos ajudaram a anular uma rebelião armada contra a monarquia de Brunei.
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