O ícone da extrema direita francesa Jean-Marie Le Pen morreu nesta terça-feira, 7, aos 96 anos, segundo um comunicado divulgado por sua família. O político estava internado em uma unidade de saúde há várias semanas e morreu “cercado por seus entes queridos”.
Uma figura polarizadora na política francesa, Le Pen era conhecido por sua retórica inflamada contra a imigração e o multiculturalismo, o que lhe rendeu tanto apoiadores ferrenhos quanto condenação generalizada. Suas declarações controversas, incluindo a negação do Holocausto, levaram a múltiplas condenações e tensionaram suas alianças políticas.
Frente Nacional
Jean-Marie Le Pen foi líder do partido de extrema direita Frente Nacional de 1972 até 2011. O seu momento mais importante na política francesa foi em 2002, quando chegou ao segundo turno das eleições presidenciais na França. Ele foi derrotado por Jacques Chirac.
Em 2011 ele saiu da liderança do partido, sendo substituído por sua própria filha, Marine Le Pen. Ela reformulou o partido para se distanciar de sua imagem manchada por escândalos e expandir seu apelo eleitoral, culminando em seus próprios sucessos presidenciais. O nome da legenda também foi mudado para Reagrupamento Nacional.
Quatro anos após sair da liderança da legenda, Le Pen foi suspenso do partido com o aval de sua filha. A direção executiva da legenda tomou a decisão após declarações do político em que ele negou o Holocausto e defendeu os colaboradores de Adolf Hitler na França.
Extrema direita na França
Apesar das múltiplas polêmicas, Jean-Marie Le Pen foi uma figura marcante na política francesa por décadas. O político ficou conhecido por sua oratória talentosa e teatral, responsável por cativar multidões com sua retórica anti-imigração. “Se eu avançar, sigam-me; se eu morrer, vinguem-me; se eu fugir, matem-me”, disse Le Pen em um congresso do partido em 1990.
O político perdeu um olho em uma briga de rua durante sua juventude e foi paraquedista do Exército da França. Condenado inúmeras vezes por antissemitismo e rotineiramente acusado de xenofobia e racismo, Le Pen rotineiramente respondeu que era simplesmente um patriota protegendo a identidade da “França eterna”.
O presidente do Reagrupamento Nacional, Jordan Bardella, lamentou a morte do líder político e destacou o legado de Le Pen, expressando condolências a família.
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Condenações
O político foi condenado diversas vezes na justiça francesa.
Em 1990, Le Pen foi condenado por uma declaração feita três anos antes, na qual ele se referiu às câmaras de gás nazistas como um “detalhe na história da Segunda Guerra Mundial”. Em 2015, ele repetiu a observação, dizendo que “não se arrependia nem um pouco da declaração”, desencadeando a ira de sua filha — na época líder do partido — e uma nova condenação em 2016.
Ele também foi condenado por uma declaração de 1988 após ligar um ministro francês aos crematórios nazistas, e por um comentário de 1989 culpando a comunidade judaica por ajudar a semear “o espírito antinacional”.
Mais recentemente, Le Pen e 26 membros do partido Reagrupamento Nacional, incluindo suas filhas Marine e Yann Le Pen, foram acusados de usar dinheiro destinado a assessores parlamentares da UE para pagar funcionários que, em vez disso, fizeram trabalho político para o partido entre 2004 e 2016, em violação aos regulamentos do bloco. Jean-Marie Le Pen foi considerado inapto para testemunhar.
Em fevereiro, autoridades judiciais francesas colocaram Le Pen sob tutela legal de sua família, por conta da piora de seu estado de saúde./com AP
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