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Morre Madeleine Albright, a primeira mulher a chefiar a diplomacia dos Estados Unidos

Diplomata liderou o Departamento de Estado no segundo mandato de Bill Clinton; no seu mandato, os EUA participaram da Guerra do Kosovo, em 1999

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - Morreu nesta quarta-feira, 23, ao 84 anos a diplomata Madeleine Albright, a primeira mulher a chefiar o Departamento de Estado americano. Ela foi a responsável por ditar os rumos da diplomacia dos Estados Unidos durante o segundo mandato do presidente Bill Clinton (1997-2001). No seu mandato, os EUA participaram da Guerra do Kosovo, em 1999. Ela sofria de câncer.

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“Incansável defensora dos direitos humanos e da democracia, Madeleine Albright morreu cercada de parentes e amigos”, disse sua família em comunicado.

Nascida em Praga, na República Checa, em 1937, em uma família judia, emigrou para os Estados Unidos aos 11 anos. Em virtude de sua carreira meteórica na diplomacia, chegou a ser comparada com a ex-premiê britânica Margaret Thacher pelo pioneirismo na alta burocracia de Washington. Além de secretária de Estado, ela também serviu como embaixadora americana na ONU.

O departamento de Estado lamentou a morte de Albright. “Foi uma pioneira e abriu as portas para muitas diplomatas”, disse o porta-voz Ned Price.

Ex-presidente Barack Obama condecora a ex-secretária de Estado Madeleine Albright com a Medalha Presidencial da Liberdade Foto: Luke Sharrett/The New York Times

Uma vida de mistérios

A vida de Madeleine foi cercada de mistérios. Foi só depois de se tornar secretária de Estado que ela soube que sua família era judia e seus pais haviam se convertido ao catolicismo, na 2.ª Guerra, para escapar do nazismo, mas nunca contaram aos filhos.

Quando jovem, Madeleine Korbel era uma estudante talentosa que se casou com Joseph Albright, herdeiro de vários jornais. Rapidamente, ela subiu nas fileiras do Partido Democrata e se tornou conselheira do presidente Jimmy Carter e de três candidatos presidenciais: Walter Mondale, Michael Dukakis e Clinton.

Ela era desconhecida quando foi nomeada embaixadora dos EUA na ONU, em 1993. Madeleine e Clinton entraram em confronto repetidamente com o então secretário-geral, Boutros Boutros-Ghali, sobre as operações de paz na Somália, Ruanda e na Bósnia.

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Missões humanitárias

Clinton era entusiasta das missões humanitárias e decidiu enviar tropas para alimentar as vítimas da guerra civil na Somália. A experiência terminou em tragédia, em 1993, quando 18 soldados americanos foram mortos por milicianos. O corpo de um deles foi arrastado pelas ruas de Mogadíscio – e as imagens foram mostradas na TV.

Clinton desistiu de missões arriscadas – e esse passo atrás foi fundamental no genocídio de Ruanda, em 1994, quando mais de 800 mil pessoas foram assassinadas em poucos meses. Madeleine culpou Boutros-Ghali, chamando-o de “desengajado”. Ele reclamou que seus pedidos de ajuda não haviam sido atendidos. Anos depois, Clinton se desculpou pela inação dos EUA. Em <CF742>Madam Secretary</CF>, seu livro de memórias de 2003, Madeleine escreveu: “Meu maior arrependimento é o fracasso dos EUA em agir mais cedo para deter esses crimes em Ruanda.”

Em 1996, Boutros-Ghali obteve os votos para um segundo mandato à frente da ONU, e coube a Madeleine lançar mão do veto americano no Conselho de Segurança. Irritado, Boutros-Ghali disse que foi escorraçado do cargo por razões eleitorais – Clinton era candidato à reeleição. Após assegurar mais quatro anos, o presidente escolheu Madeleine para chefiar a diplomacia americana.

No Departamento de Estado

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À frente do Departamento de Estado, ela lidou com conflitos na Bósnia, Kosovo, Haiti, Irlanda do Norte e Oriente Médio. Madeleine promoveu a expansão da Otan no Leste da Europa e defendeu a não proliferação nuclear. Apoiou os bombardeios da Otan em Kosovo e participou da ratificação do Protocolo de Kyoto sobre mudança climática.

Em público, Madeleine tinha um estilo seguro, vestida sempre de maneira impecável e cabelo perfeitamente penteado, com broches de ouro ou pérola. Ela falava checo, polonês, francês e russo. Além de suas memórias, Madeleine escreveu outros cinco livros. O último, Fascismo: Um Alerta, de 2018, era sobre o perigo que representava a ascensão de regimes autoritários

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