CARACAS -A coalizão de oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD) boicotará a Assembleia Nacional Constituinte convocada pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. O anúncio foi feito nesta quarta-feira, 31. Segundo a coalizão, o mecanismo é fraudulento e tem como objetivo garantir a permanência do chavismo no poder. O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), controlado pelo chavismo, emitiu uma sentença na qual permite ao Executivo convocar a Constituinte sem uma consulta popular.
"Qualquer participação nesse processo é um ato de cumplicidade com a fraude", disse a MUD em comunicado.
Na terça-feira, a Justiça eleitoral venezuelana anunciou o calendário para homologação de candidaturas para a Assembleia, que terá 1/3 de suas vagas destinada a "setores sociais" - a maioria deles vinculadas ao governo"-e o restante eleito de maneira distrital. Para se candidatar, o postulante precisa de 3% das assinaturas dos eleitores de sua cidade.
"O país inicia o caminho da Constituinte, um grande dia chegou (...) Inscrevam-se, candidatos e candidatas, para a Assembleia Constituinte!", celebrou Maduro na terça-feira à noite em uma breve declaração à televisão estatal VTV.
No entanto, na parte da manhã, problemas eram registrados para acessar o site do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
A oposição anunciou que vai aumentar os protestos contra Maduro, que já deixaram 61 mortos em dois meses. Um dos principais líderes do MUD, Henrique Capriles, considerou que seria "uma traição" se alguns opositores se inscrevessem no processo.
O último boicote eleitoral conduzido pela oposição ocorreu nas eleições legislativas de 2005, que levou à eleição de uma Assembleia Nacional inteiramente chavista.
Os adversários de Maduro vão tentar marchar nesta quarta-feira até a sede do ministério das Relações Exteriores, no centro de Caracas. Todas as vezes que a oposição tentou alcançar a região foi repelida pela polícia e o Exército, em meio a nuvens de gás lacrimogêneo.
A manifestação coincide com uma reunião de chanceleres da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington para discutir a crise na Venezuela, cujo anúncio levou o governo a retirar o país do organismo.
Os partidários de Maduro também se mobilizam em apoio à Assembleia Constituinte no centro da capital, o que coincidirá com a nomeação dos líderes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). / AFP
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