Mulher que acusa Trump de estupro diz em julgamento que movimento #MeToo a motivou

Advogado do ex-presidente tentou argumentar que E. Jean Carroll fez a acusação para vender livro, o que ela rebateu dizendo que havia se inspirado no movimento surgido em 2017

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Por Redação

NOVA YORK - E. Jean Carroll, que acusou Donald Trump de estuprá-la duas décadas antes de se tornar presidente dos Estados Unidos, testemunhou nesta quinta-feira, 27, que o movimento #MeToo a inspirou a falar depois de anos em silêncio. Ao depor pelo segundo dia como parte de seu processo civil contra Trump, Carroll foi questionada por Joe Tacopina, o advogado do ex-presidente, que parecia focado em desmontar suas alegações e enfraquecer sua credibilidade com os jurados.

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“Mulher após mulher se levantou”, disse Carroll. “Eu pensei, bem, isso pode ser uma maneira de mudar a cultura da violência sexual. Eu pensei, podemos realmente mudar as coisas se todos contarmos nossas histórias.”

Carroll, escritora e jornalista, disse que Trump a estuprou durante um encontro casual em uma loja de departamentos de Manhattan em meados da década de 1990. Ela o acusou publicamente em 2019, publicando um livro de memórias que incluía sua alegação. Trump, que estava na Casa Branca na época, negou que o ataque tenha acontecido.

E. Jean Carroll, à direita, deixa o tribunal federal com sua advogada Roberta Kaplan, em 27 de abril de 2023, em Nova York Foto: Bebeto Matthews/AP

O momento de sua revelação pública formou uma parte central da defesa de Trump, com Tacopina dizendo que Carroll o estava “acusando falsamente de estupro para ganhar dinheiro, para vender um livro”. Mas quando Tacopina a questionou na quinta-feira, ela disse que tomou a decisão de se apresentar depois de ver a enxurrada de acusações de agressão sexual feitas contra o produtor de cinema Harvey Weinstein e vários outros homens poderosos.

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Carroll, 79, disse que contou a dois amigos sobre o suposto ataque de Trump na época e depois ficou em silêncio, temendo o impacto que isso teria em sua reputação. Carroll testemunhou que estava preocupada sobre como Trump retaliaria se ela falasse.

“E foi exatamente isso que ele fez”, disse na quinta-feira. “Meu pior pesadelo se tornou realidade.”

Desde que Carroll acusou Trump, ele a chamou de mentirosa repetidas vezes, inclusive durante o julgamento em andamento. Carroll testemunhou na quarta-feira que recebeu uma enxurrada de mensagens raivosas depois de se manifestar.

Ela processou Trump no ano passado por agressão e difamação. Agora está buscando uma indenização não especificada e uma ordem judicial forçando Trump a se retratar de uma declaração publicada nas redes sociais no ano passado chamando-a de mentirosa.

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Ao longo de seus dois dias de testemunho no caso, Carroll deu aos jurados uma explicação não apenas sobre o suposto ataque, mas como seu pensamento sobre isso mudou com o tempo. Quando o movimento #MeToo surgiu, disse Carroll na quinta-feira, ela ficou “perplexa” com o que aconteceu. “Podemos realmente falar e não sermos agredidas?” Carroll se lembrou de ter pensado. Quando outras mulheres vieram a público com suas próprias histórias, ela disse: “Isso me fez perceber que ficar em silêncio não funciona”.

Neste esboço de tribunal, E. Jean Carroll, à direita, é interrogada pelo advogado de defesa do ex-presidente Donald Trump, Joe Tacopina, à esquerda Foto: Elizabeth Williams/AP

Durante o interrogatório, Tacopina a questionou sobre seu relato, incluindo sua incapacidade de lembrar a data específica em que o suposto ataque ocorreu ou por que ela ligou para um amigo depois, em vez da polícia.

Carroll e Tacopina brigaram verbalmente algumas vezes durante o interrogatório, que durou cerca de três horas. Ela pareceu ficar irritada em alguns momentos, inclusive quando o advogado perguntou por que Carroll não gritou quando Trump supostamente a agrediu.

“Uma das razões pelas quais as mulheres não se apresentam é porque sempre lhes perguntam: ‘Por que você não gritou?’”, disse Carroll. “Algumas mulheres gritam, outras não. Isso mantém as mulheres em silêncio.”

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Depois de mais idas e vindas com Tacopina, Carroll respondeu com frustração: “Ele me estuprou, quer eu gritasse ou não!”

O julgamento, que começou na terça-feira, deve continuar pelo menos até a próxima semana. Espera-se que Carroll deponha novamente na segunda-feira, com Tacopina retomando seu interrogatório.

O ex-presidente Donald Trump chega para falar em um evento de campanha na quinta-feira, 27 de abril de 2023, em Manchester, New Hampshire Foto: Charles Krupa/AP

Ausência de Trump

Trump não compareceu ao tribunal até agora durante o julgamento, e seus advogados não disseram se ele planeja comparecer a alguma audiência ou testemunhar. Ele não tem obrigação de comparecer ou testemunhar. Os advogados de Carroll dizem que não planejam chamar Trump para depor, pois podem reproduzir uma gravação de seu depoimento no caso.

Trump está construindo uma nova candidatura à presidência. Enquanto o julgamento em Nova York acontecia, ele comparecia a um evento de campanha em New Hampshire, onde fez comentários, mas não mencionou Carroll ou seu processo.

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Além deste julgamento, Trump continua enfrentando um turbilhão de escrutínio investigativo e casos legais, incluindo investigações sobre o manuseio de documentos confidenciais e seus esforços para bloquear a vitória presidencial de Joe Biden em 2020. Este mês, Trump foi indiciado em Manhattan por 34 acusações relacionadas a pagamentos feitos em 2016 para impedir que uma atriz de filmes adultos revelasse publicamente um caso com Trump. E no ano passado, o procurador-geral de Nova York entrou com uma ação civil contra o ex-presidente, acusando-o e outros de fraude.

Trump negou irregularidades em todos os assuntos e atacou os investigadores como politicamente motivados.

O processo de Carroll não acarreta penalidade criminal, mas o caso ainda tem grandes riscos para Trump. Além de quaisquer danos financeiros que possam ser concedidos se os jurados ficarem do lado de Carroll, o caso também revive uma questão que há muito persegue Trump: acusações de má conduta envolvendo mulheres.

Mike Pence testemunha

Na mesma quinta-feira, o ex-vice-presidente Mike Pence testemunhou perante um grande júri federal que investiga os esforços de Trump e seus aliados para anular os resultados das eleições presidenciais de 2020, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto.

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O ex-vice-presidente Mike Pence olha para apoiadores enquanto assina uma cópia de seu livro 'So Help Me God', em que falou do ataque ao Capitólio Foto: Alex Brandon/AP

A aparição de Pence perante um grande júri em Washington para falar do presidente a quem ele serviu lealmente é um marco na investigação do Departamento de Justiça e provavelmente dá aos promotores um relato importante em primeira pessoa sobre certas conversas e eventos nas semanas anteriores ao episódio de 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores do ex-presidente invadiram o Capitólio.

Também pode trazer implicações políticas significativas, já que Pence sugere entrar na corrida presidencial de 2024 e uma possível disputa contra Trump, o favorito republicano.

Não ficou imediatamente claro o que Pence pode ter dito ao grande júri, mas ele é o funcionário mais importante do governo Trump a ser convocado perante os investigadores.

Pence já falou extensivamente sobre a campanha de pressão de Trump, instando-o a rejeitar a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais nos dias que antecederam 6 de janeiro, incluindo em livro. Pence, como vice-presidente, tinha um papel cerimonial supervisionando a contagem dos votos do Colégio Eleitoral pelo Congresso, mas não tinha o poder de mudar os resultados, apesar da afirmação de Trump em contrário.

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Pence, ex-governador e congressista de Indiana, disse que Trump colocou em perigo sua família e todos os outros que estavam no Capitólio naquele dia e a história o responsabilizará. “Durante quatro anos, tivemos uma estreita relação de trabalho. Não acabou bem”, escreveu Pence, resumindo seu tempo na Casa Branca./W.POST e AP

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