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Mulheres também colaboraram com o Holocausto e a ‘indústria da morte’ nazista; leia artigo

Mesmo as alemãs que não participaram ativamente dos assassinatos, se beneficiaram da perseguição aos judeus

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Por Marcio Pitliuk*

A recente condenação de Irmgard Fuchner reacendeu a discussão sobre o julgamento de alguém 77 anos depois do crime e se é justo condenar uma idosa de 97 anos. Irmgard Fuchner foi recentemente julgada e condenada à prisão por participar do Holocausto.

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Ela foi secretária do comandante do campo de Stutthof e colaborou para o assassinato de 10.500 pessoas. Tinha apenas 18 anos quando trabalhou no campo e ajudou a máquina nazista a assassinar milhares de crianças, mulheres e homens. Conseguiu se esconder por 77 anos, mas a justiça se fez.

Agora que foi presa, “reconhece que errou”. Recebeu uma pena simbólica, devido à idade. No entanto, não se preocupava com os idosos e as crianças que ela ajudou a matar. Os crimes de guerra e contra a humanidade não prescrevem, tal a brutalidade dos atos.

Irmgard é julgada por cumplicidade em assassinato de 10 mil pessoas em campo nazista Foto: Christian Charisius/Pool Photo via DPA - 20/12/2022

Irmgard sabia onde trabalhava e o que acontecia em Stutthof. Podia ter se recusado a realizar esse trabalho, não seria presa. É provável, como com quase todas as mulheres que participaram do Holocausto, que ela se candidatou ao emprego voluntariamente. Ninguém, nem homens e nem mulheres, eram obrigados a trabalhar nos campos nazistas. Eram empregos como outro qualquer na Alemanha.

Grande parte das alemãs idolatravam Hitler, ao vê-lo agiam como fãs de um astro pop, gritavam histéricas e o saudavam com lágrimas nos olhos de emoção. Sabiam o que ele faria quando fosse eleito. Elas eram destacadas na propaganda nazista, exemplos de beleza ariana com seus cabelos loiros esvoaçantes e ofuscantes olhos azuis.

Irmgard provavelmente respondeu a um dos inúmeros anúncios da SS que ofereciam emprego a jovens que gostariam de trabalhar em local militar, bom salário, refeições, uniformes, acomodação e vida no campo. No caso, eram campos de concentração, trabalhos forçados ou extermínio.

Cerca de 3,5 mil mulheres foram contratadas e, além dos benefícios oferecidos, aproveitaram para roubar casacos e joias das prisioneiras que seriam mortas. Sem contar que muitas se tornaram amantes dos comandantes. Trabalhar num campo era bem mais “agradável” do que trabalhar numa fábrica de armas ou munições.

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A Alemanha nazista era um regime de corrupção, falta de moral e ética.

Algumas mulheres, como Irmgard, foram secretárias. Outras, enfermeiras que ajudaram médicos nazistas a realizar experiências dolorosas, inúteis e criminosas em prisioneiros.

Imagem de 1945 mostra o campo de concentração nazista Stutthof, em Sztutowo, na Polônia  Foto: Stutthof Museum Archive via AP

Havia também algumas médicas, como Herta Oberheuser, que realizavam experiências macabras com seres humanos. Inseria bactérias nos prisioneiros, realizava transplantes desnecessários e outros experimentos por demais violentos para serem descritos aqui. Depois da guerra, foi julgada, ficou presa apenas seis anos e perdeu a licença médica (sic).

As mais sádicas, e não foram poucas, participaram pessoalmente do assassinato e tortura da prisioneiras judias. Irma Greese tinha apenas 18 anos e ganhou o apelido de Bela Fera.

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Praticava violência sexual, atacava crianças e fazia abajures com pele humana. Ilse Koch, a Besta de Buchenwald, casou com o comandante do campo, Karl Otto Koch, e trabalharam juntos também no campo de Majdanek. Ilse tinha uma estranha coleção. Quando um novo prisioneiro chegava, ela o examinava e, caso tivesse uma tatuagem, o matava e o esfolava. Recortava a parte da pele que tinha tatuagem e colocava num álbum, como uma coleção de selos ou figurinhas.

Mesmo as mulheres que não participaram ativamente no assassinato, se beneficiaram da perseguição aos judeus. Recebiam de seus maridos e amantes casacos de pele, joias, roupinhas de crianças e brinquedos para seus filhos e sabiam muito bem que a origem desses objetos era resultado do assassinato dos “inimigos do Reich”.

Após a guerra, diziam desconhecer o que os maridos faziam. Irmgard, assim como milhares de mulheres alemãs, colaboraram e participaram do Holocausto, e sua ajuda foi fundamental para o funcionamento da indústria da morte nazista.

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Poucas centenas foram levadas a julgamento, uma parcela muito pequena foi condenada a penas leves e apenas 10, entre elas Irma Greese, condenadas à morte.


*É autor do livro A alpinista, sobre a participação das mulheres no nazismo, membro acadêmico da StandWithUs Brasil e Curador do Memorial do Holocausto de São Paulo

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