A Auschwitz-Birkenau Foundation, responsável pela conservação e utilização do maior campo de concentração da 2ª. Guerra como um memorial às vítimas e dos horrores do holocausto, está desenvolvendo uma plataforma on-line para disponibilizar visitas guiadas à distância ― em um plano para democratizar o acesso à atividade educativa e combater o avanço do antissemitismo e de teorias conspiratórias que negam a existência do genocídio de judeus, povos ciganos e outras minorias durante o regime nazista.
O antigo campo de concentração e extermínio está localizado na cidade de Oswiecim, no sul da Polônia, que esteve sob ocupação das forças alemãs durante a 2ª. Guerra. Cerca de 1,1 milhão de pessoas foram mortas de maneira sistemática em Auschwitz, que se tornou o exemplo maior da crueldade de Adolph Hitler e seus comparsas. O campo só foi libertado em em 27 de janeiro de 1945, quando tropas soviéticas chegaram até o local.
De acordo com o diretor-geral da fundação, Wojciech Soczewica, os trabalhos para criação de um tour virtual começaram durante a pandemia da covid-19, quando o museu foi forçado a fechar para visitações devido às regras de lockdown vigentes na Europa.
“Tivemos que fazer alguma coisa, porque pessoas de todo o mundo diziam: ‘sabemos que isto é um museu, que vocês têm que ficar em lockdown , mas este lugar, como nenhum outro no mundo, tem de permanecer acessível’. As pessoas queriam vir, queriam viver a experiência”, disse o diretor, durante uma conferência sobre inovação e tecnologia realizada neste mês em Munique.
Embora convencidos de que manter o museu acessível fosse a escolha correta, a equipe que administra a fundação, formada principalmente por especialistas em conservação e preservação de patrimônio, deparou-se com dois problemas: além de não dominarem os aspectos técnicos necessários para uma migração digital da visitação, questões éticas sobre a visita se manter apenas presencial, em razão das questões sensíveis tratadas ao longo do percurso, surgiram.
“A diferença [de Auschwitz-Birkenau] para outros museus como o Louvre, o Centre Pompidou ou o Tate Gallery é que as pessoas vêm para entender, experienciar, lamentar”, explicou Soczewica. “[Os guias] não estão ali apenas para contar a História. Eles também estão lá para cuidar de nós quando decidirmos ir e aprender sobre essa história horrenda”.
Para Entender
Pensando nisso, a fundação decidiu por um modelo diferente de tour virtual. Em vez de criar um roteiro padronizado ou um modelo autoguiado, o usuário precisará agendar um horário em que será conduzido por um guia, que percorrerá presencialmente o antigo campo de concentração, oferecendo explicações, contextos e até apoio psicológico em cada etapa da visitação, que terá em média 1 hora e 45 minutos.
“Nós temos que ficar cientes de que o tempo está passando e que chegará um momento em que não haverá mais sobreviventes. Eles não estarão disponíveis para ensinar nas escolas. Eles não poderão encontrar as novas gerações”, disse o diretor, acrescentando mais a frente: “Redes sociais e novas tecnologias são a forma de comunicar esses fatos horríveis para as novas gerações, de outa maneira, nós vamos perdê-los”.
As dificuldades técnicas foram superadas com o auxílio de duas empresas israelenses do ramo de tecnologia, que desenvolveram o software que será utilizado por guias e usuários, e uma operadora de internet europeia, que instalou uma conexão estável por todo o campo.
A fundação está agora em fase de conclusão para colocar a operação do tour virtual de Auschwitz no ar. Os últimos obstáculos passam pela finalização do software e o treinamento final dos guias que acompanharão os passeios à distância. Para a conclusão desta última etapa, a organização também tenta conseguir uma última parte de financiamento, o que segundo Soczewica, deve ser resolvido em meses. O valor estimado, segundo sites de cobertura especializada, estaria em torno de U$ 150 mil (cerca de R$ 765 mil).
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