BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai usar a tribuna da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira, 24, para cobrar uma ação de enfrentamento à crise de governança global. O tom do discurso de Lula será o de que a situação do mundo está saindo do controle na geopolítica, na questão do clima e no capítulo da desigualdade social, sem que nada seja feito pela comunidade internacional para deter esse cenário aterrador.
Em seu discurso de abertura da 79.ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, o presidente também condenará a nova onda de ataques de Israel ao Líbano, que até a noite desta segunda-feira, 23, já havia deixado 492 mortos e 1.645 feridos. O governo acompanha com preocupação a escalada do conflito no Oriente Médio e traça um plano para retirar os brasileiros da região. A ofensiva israelense foi deflagrada para atingir pelo menos 300 locais onde a milícia xiita Hezbollah, aliada do grupo palestino Hamas, guarda suas armas.
Lula também repetirá na Assembleia-Geral da ONU alguns conceitos sublinhados no discurso que fez no domingo, 22, na Cúpula do Futuro, quando disse que os objetivos de desenvolvimento sustentável, com metas estabelecidas para serem atingidas até 2030, caminham para o fracasso coletivo. Na ocasião, o presidente ultrapassou o tempo de cinco minutos destinado à sua manifestação e o microfone foi cortado.
Naquela tribuna em que Lula criticou a falta de vitalidade da ONU, porém, nenhum dos chefes de Estado dos cinco países com direito a veto no Conselho de Segurança da instituição estava presente. “A legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades”, disse ele na Cúpula do Futuro.
Um trecho na mesma linha fará parte do discurso desta terça-feira. Além disso, diante da onda de queimadas e incêndios florestais que abalam a imagem do Brasil, o presidente vai reclamar da falta de financiamento internacional para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
O argumento do governo brasileiro é o de que, no processo de negociação das conferências das Nações Unidas sobre mudanças do clima (COPs), havia o compromisso dos países mais ricos com esses aportes, mas o volume de recursos prometidos nunca saiu do papel. Além de sofrer com as queimadas, o Brasil – que vai sediar a COP 30 em Belém, capital do Pará, em novembro de 2025 – também enfrentou enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul.
O discurso de Lula passou por vários retoques e ainda estava sendo ajustado na noite desta segunda-feira, 23. Uma das ideias era encaixar no texto uma referência à lei ambiental da União Europeia, prevista para ser adotada em 2025. A lei permitirá que o bloco europeu impeça a importação de produtos agrícolas responsáveis por desmatamentos e perda de vegetação nativa.
Na presidência do G-20, o Brasil vai destacar a necessidade de as maiores economias do mundo apoiarem com recursos a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Trata-se de uma iniciativa que será lançada em novembro deste ano, durante a cúpula do G-20, no Rio de Janeiro, e Lula voltará a bater nessa tecla.
Pela primeira vez, os países que integram o G-20 – grupo que reúne as principais nações industrializadas e emergentes do planeta – concordou em fazer uma declaração conjunta, nesta quarta-feira, 25, para também cobrar a reforma da ONU, da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a revisão do sistema de crédito internacional.
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