Na Venezuela, indústria petrolífera falida e sucateada polui o meio ambiente cada vez mais

Moradores sofrem com asma, águas poluídas e explosões de poços

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Por Isayen Herrera e Sheyla Urdaneta

THE NEW YORK TIMES, EL TEJERO — Todas as manhãs, José Aguilera inspeciona as folhas de suas bananeiras e pés de café em sua fazenda no leste da Venezuela e calcula quanto poderá colher — quase nada.

Explosões de gás de poços de petróleo próximos expelem um resíduo oleoso e inflamável sobre as plantas. As folhas queimam, secam e murcham.

“Não há veneno capaz de vencer o petróleo”, disse ele. “Quando ele cai, tudo seca.”

Uma casa iluminada por chamas de gás de poços de petróleo em Punta de Mata, Venezuela, em 4 de novembro de 2022. As chamas de gás e os dutos com vazamentos do outrora florescente setor petrolífero da Venezuela, prejudicado pelas sanções dos EUA e pela má administração, estão poluindo cidades e um grande lago.  Foto: Adriana Loureiro Fernandez / NYT

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A indústria petrolífera da Venezuela, que ajudou a transformar seu destino, foi dizimada pela má administração e muitos anos de sanções impostas pelos Estados Unidos ao governo autoritário do país, deixando para trás uma economia e um meio ambiente devastados.

A petrolífera estatal tem lutado para manter uma produção mínima para exportação, assim como para consumo interno. Mas, para tanto, sacrificou a manutenção básica e usou equipamentos cada vez mais precários, o que gerou um crescente impacto ambiental, segundo ativistas do meio ambiente.

Aguilera mora em El Tejero, cidade a cerca de 480 km a leste de Caracas, a capital, numa região rica em petróleo conhecida por cidades que nunca veem a escuridão da noite. Explosões de gás dos poços de petróleo acontecem a qualquer hora com um ruído estrondoso, suas vibrações rachando as paredes das casas frágeis.

Muitos moradores sofrem de doenças respiratórias, como asma, que, segundo os cientistas, podem ser agravadas pelas emissões das explosões de gás. A chuva traz uma película oleosa que corrói o motor dos carros, escurece as roupas brancas e mancha os cadernos que as crianças levam para a escola.

Diego, Manuel e Miguel Méndez pescam no Lago Maracaibo, em Cabimas, Venezuela, em 24 de novembro de 2022, que foi poluído pelo vazamento de petróleo de oleodutos danificados.  Foto: Adriana Loureiro Fernandez / NYT

A economia do país entrou em colapso, ajudando a alimentar um êxodo em massa de venezuelanos que não podiam sustentar suas famílias, enquanto Maduro mantinha seu poder repressivo.

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Depois de quase parar, o setor petrolífero teve uma recuperação modesta, em parte porque o governo Biden permitiu no ano passado que a Chevron, última empresa americana produtora de petróleo na Venezuela, reiniciasse as operações de forma limitada.

As dificuldades da indústria petrolífera nacional foram agravadas por uma investigação de corrupção sobre o dinheiro do petróleo desaparecido que até agora levou a dezenas de prisões e à renúncia do ministro do petróleo do país.

No leste da Venezuela, refinarias enferrujadas queimam gás metano, que faz parte das operações da indústria de combustíveis fósseis e é um importante fator do aquecimento global.

Vizinhos jogam jogos de tabuleiro sob um céu iluminado por chamas de gás perto de Punta de Mata, no leste da Venezuela, em 5 de novembro de 2022.  Foto: Adriana Loureiro Fernandez / NYT

Embora a Venezuela produza muito menos petróleo do que antes, ocupa o terceiro lugar no mundo em emissões de metano por barril de petróleo produzido, segundo a Agência Internacional de Energia.

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Cabimas, cidade a cerca de 640 km a noroeste de Caracas, às margens do lago Maracaibo, é outro centro regional de produção de petróleo. Lá a estatal Petroleos de Venezuela SA (PDVSA, ou “Pedevesa”) construiu hospitais e escolas, montou acampamentos de verão e distribuiu brinquedos aos filhos dos moradores no Natal.

Agora o petróleo vaza de dutos subaquáticos deteriorados no lago, cobrindo as margens e transformando a água num verde-neon que pode ser visto do espaço. Canos quebrados flutuam na superfície e brocas de petróleo enferrujam e afundam na água. Pássaros cobertos de óleo lutam para voar.

O colapso da indústria petrolífera deixou Cabimas, que já foi uma das comunidades mais ricas da Venezuela, em extrema pobreza.

Manchas de óleo nas águas do Lago Maracaibo em Cabimas, Venezuela, em 24 de novembro de 2022.  Foto: Adriana Loureiro Fernandez / NYT

Todos os dias, às 5h, os três irmãos Méndez — Miguel, 16, Diego, 14, e Manuel, 13 — abrem suas redes de pesca para limpá-las e remam pelas águas poluídas do lago Maracaibo, na esperança de pescar camarões e peixes suficientes para alimentar a si mesmos, seus pais e sua irmã mais nova.

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Eles usam gasolina para lavar o óleo de sua pele. As crianças brincam e se banham na água, que cheira a vida marinha podre.

O pai dos meninos, Nelson Méndez, 58, já foi pescador comercial, na época em que o lago era mais limpo. Ele tem medo de adoecer por comer o que seus filhos pescam, mas se preocupa mais com a fome.

Ele disse que foi contratado pela companhia petrolífera estatal há cerca de dez anos para ajudar a limpar um vazamento de combustível no lago, mas o trabalho prejudicou sua visão.

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“Tudo pelo que trabalhei na vida, perdi por causa do petróleo”, disse Méndez.

A falta de manutenção do maquinário de produção de combustível no lago Maracaibo causou o aumento dos vazamentos de óleo, que contaminou Cabimas e outras comunidades ao longo de sua orla, segundo organizações locais dedicadas ao meio ambiente.

Uma estrada que leva a Punta de Mata, Venezuela, em 3 de novembro de 2022, é iluminada por várias chamas de gás. Foto: Adriana Loureiro Fernandez / NYT

As chamas de gás que queimam em partes da Venezuela também apontam para o enfraquecimento da indústria de combustíveis fósseis do país: tanto gás é lançado na atmosfera porque não há equipamentos suficientes para convertê-lo em combustível, dizem especialistas.

A Venezuela está entre os piores países do mundo em termos de volume de queima de gás produzido por suas operações de combustível decrépitas, segundo o Banco Mundial.

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Em um relatório de 2021, a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas expressou profunda preocupação com o estado da indústria petrolífera da Venezuela.

“É imperativo que o governo implemente efetivamente sua estrutura regulatória ambiental na indústria do petróleo”, disse o relatório.

Em uma cúpula de mudança climática da ONU no ano passado, Maduro não abordou os danos ambientais resultantes da paralisada indústria de petróleo de seu país.

David Colina, à direita, pesca com um filho e um sobrinho no Lago Maracaibo em Cabimas, Venezuela, em 23 de novembro de 2022.  Foto: Adriana Loureiro Fernandez / NYT

Em vez disso, ele afirmou que a Venezuela era responsável por menos de 0,4% das emissões globais de gases de efeito estufa e culpou os países mais ricos por causar danos ambientais. (Especialistas dizem que esse número é preciso e observam que as emissões do país diminuíram à medida que sua indústria de petróleo desmoronou.)

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“O povo venezuelano deve pagar as consequências de um desequilíbrio causado pelas principais economias capitalistas do mundo”, disse Maduro em um discurso na cúpula.

Um ministro do governo, Josué Alejandro Lorca, disse em 2021 que os derramamentos de óleo “não são um grande problema, porque, historicamente, todas as empresas de petróleo os tiveram”. Ele acrescentou que o governo não tem recursos para resolver o problema.

A petrolífera estatal não respondeu a pedidos de comentários.

Em Cabimas, o pescador David Colina, 46, veste um macacão laranja manchado de óleo com o emblema da petrolífera estatal.

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Trinta anos atrás, ele disse que conseguia pescar mais de cem quilos de peixe. Agora ele tem sorte se puxar dez quilos na rede, que trocará por farinha ou arroz com seus vizinhos.

Quando a companhia estatal de petróleo funcionava melhor, disse Colina, ele seria indenizado se um derramamento de óleo afetasse seu negócio de pesca. Mas agora “não há mais governo aqui”, acrescentou.

O óleo que transborda contamina o solo em Cabimas, Venezuela, ao longo da costa do Lago Maracaibo, em 23 de novembro de 2022.  Foto: Adriana Loureiro Fernandez / NYT

Depois que a Chevron anunciou no ano passado que retomaria parte da produção de petróleo na Venezuela, a estatal contratou mergulhadores para inspecionar os oleodutos no lago Maracaibo.

Até agora, de acordo com entrevistas com três desses mergulhadores, os dutos com vazamento ainda não foram consertados. Os mergulhadores falaram anonimamente porque disseram que poderiam ser punidos por revelar informações internas da empresa. Um representante da Chevron se recusou a comentar e encaminhou as perguntas à petrolífera estatal venezuelana.

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Francisco Barrios, de 62 anos, também residente em Cabimas, reparou barcos usados pela indústria petrolífera durante mais de 20 anos, ganhando o suficiente para alimentar os cinco filhos e pagar a sua educação.

Mas ficou desiludido, disse ele, com o declínio da indústria, a poluição que estava causando, a infraestrutura cada vez mais precária e um salário que não conseguia acompanhar o aumento do custo de vida.

Ele disse que um de seus filhos, que era mergulhador, foi morto há 12 anos quando um cano submarino que ele consertava explodiu.

“Cansei de ver a destruição”, disse enquanto usava gasolina para tentar retirar o óleo que havia vazado em seu quintal.

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