Na Venezuela, Maduro toma posse com país em ruínas e isolado

Presidente venezuelano assume novo mandato de seis anos com sinais de dissidência dentro do chavismo, êxodo em massa e grave crise econômica

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Por Redação

CARACAS - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, deve tomar posse nesta quinta-feira, 9, para um segundo mandato, diante da mais séria crise no país desde que o chavismo se consolidou no poder. O país está desmoronando. Há sinais de dissidência dentro do chavismo. A Venezuela socialista está cada vez mais isolada e sua vizinhança nunca foi tão hostil.

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (centro), caminha ao lado do ministro de Defesa, Vladimir Padrino Lopez (dir.), em evento do Dia da Guarda Nacional Foto: Miraflores Palace/Handout via REUTERS

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Depois de uma eleição em maio maculada por alegações de fraude, Maduro começa sua próxima temporada de seis anos aparentemente em uma posição de relativa resistência em casa. De acordo com Félix Seijas, chefe da empresa de pesquisas Delphos, de Caracas, o presidente continua extraordinariamente impopular, mas também sua oposição - talvez até mais.

Protestos maciços pró-democracia encheram as ruas da Venezuela por meses em 2017. Mas depois que uma resposta brutal do governo deixou mais de cem mortos, as manifestações públicas estão confinadas a protestos menores e mais pragmáticos, contra a escassez de água e os apagões de energia.

“É arriscado prever que o ano de 2019 marcará o fim do governo autoritário de Maduro”, disse Michael Shifter, presidente do Inter-American Dialogue, um centro de altos estudos de Washington. “Alguns dizem que seus dias estão contados desde que chegou ao poder, há quase seis anos. Por várias razões, ele provou ser mais resistente do que muitos esperavam.”

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Maduro, o sucessor ungido pelo incendiário de esquerda Hugo Chávez, que morreu em 2013, entra em uma era muito mais precária de sua liderança.

De acordo com um funcionário da inteligência dos EUA que falou sob condição de anonimato para poder discutir assuntos delicados livremente, o ministro da Defesa de Maduro, Vladimir Padrino López, disse ao presidente no mês passado que renunciasse ou aceitasse renunciar - uma ameaça que ele ainda terá que enfrentar.

Maduro também enfrenta desistências de alto nível. Christian Zerpa, um juiz do Supremo Tribunal pró-governo, fugiu para os Estados Unidos esta semana e denunciou o presidente. Durante uma entrevista coletiva em Orlando, ele classificou a eleição presidencial de maio como injusta e descreveu o governo de Maduro como “uma ditadura”. Também acusou Maduro de habitualmente receber ordens diretas de autoridades cubanas.

O novo líder pró-Trump do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, seguiu os Estados Unidos assumindo uma posição dura contra Maduro. Dada a linha já rígida adotada pela Colômbia, a Venezuela está agora espremida entre poderes hostis e enfrenta a ameaça de novas sanções ou pior.

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“Bolsonaro quer ser visto como o adversário mais duro do chavismo na América do Sul”, disse Matias Spektor, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, referindo-se à ideologia esquerdista-nacionalista de Chávez. Provavelmente ele buscará o apoio de outros países da região para tomar medidas contra a Venezuela. Ele poderá tentar impor sanções sobre indivíduos ou tentar formar uma coalizão para encaminhar Maduro à corte criminal internacional”.

Em uma declaração na sexta-feira, um grupo de 13 países, incluindo Argentina, Brasil e Canadá, pediu a Maduro que não tome posse esta semana e disse que não reconheceria sua presidência. Os países disseram que planejam reavaliar as relações diplomáticas com a Venezuela e criar uma lista de altos funcionários venezuelanos que poderiam ser impedidos de entrar em seus territórios ou usar seus sistemas bancários, e também poderiam enfrentar congelamentos de ativos.

Aumentando a pressão, o Departamento do Tesouro na terça-feira acrescentou à lista de sanções dos EUA e a autoridades venezuelanas atuais e anteriores, citando sete pessoas e duas dúzias de entidades corporativas por um suposto esquema monetário que enriqueceu pessoas ligadas à administração.

Em entrevista coletiva conjunta com o secretário de Estado, Mike Pompeo, na semana passada, Ernesto Araujo, ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro, disse que "todos os países do mundo devem parar de apoiar (Maduro) e se unir para libertar a Venezuela”. A oposição interna a Maduro está dividida e foi mal administrada. Mas há alguns indícios de que seus líderes possam usar essa semana como uma oportunidade para se reunir e tentar recuperar força.

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A oposição, disse o legislador Juan Pablo Guanipa, "vai relançar e buscar a expulsão de Maduro com uma estratégia mais clara e credibilidade renovada”. Segundo ele, os líderes têm discutido como fazer isso, com alguns querendo nomear um governo paralelo na Assembleia Nacional liderada pela oposição, enquanto outros preferem pressionar por pressões internacionais e pedir protestos de rua para eventualmente forçar eleições livres e justas.

O que não está claro é como uma oposição reconstituída poderia começar a romper o poder aparentemente sólido de Maduro. Observadores dizem que um cenário no qual haja intervenção dos militares para entregar o poder a um governo liderado pela oposição é pouco provável em breve. Há sinais de que parte das forças armadas está descontente, com deserções aumentando e centenas de oficiais fugindo do país. Mas a instituição está sob vigilância constante, com casos de infidelidade punidos duramente.

Centenas de policiais estão presos, acusados de traição, e oficiais de alto escalão frequentemente ameaçam a base com a perda de benefícios vitais, caso apresentem qualquer sinal de crítica. Potencialmente mais provável, dizem os especialistas, seria um cenário semelhante ao da Primavera Árabe, no qual um manifestante individual, como o vendedor de rua tunisiano que se incendiou para protestar contra o abuso oficial, torne-se a faísca de uma revolta geral. Alternativamente, as divergências dentro do partido governista poderiam levar à substituição de Maduro por outro líder pró-Chávez.

A má administração fiscal, a corrupção, as fracassadas políticas socialistas e os preços mais baixos do petróleo, a força vital da Venezuela, deixaram a antiga potência econômica em frangalhos. No entanto, enquanto seu povo luta para sobreviver com salários que cada vez menos conseguem cobrir o preço de medicamentos e alimentos básicos, Maduro tem falado de um futuro próspero. Em um discurso televisionado de Ano Novo, ele disse que “2019 é o ano de novos começos” e prometeu eliminar a “inflação criminosa” e gerar “crescimento econômico”.

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Nas ruas da capital, Caracas, poucos pareciam otimistas esta semana. “Todos estão desesperados, e nossa situação é absurda, mas Maduro quer ignorar isso e ficar”, disse Morelia Salazar, de 23 anos, que tentava encontrar comida a preços razoáveis no centro da cidade. “Desde que ele chegou, tudo ficou tão ruim que mal podemos nos dar ao luxo de nos alimentar neste ponto.”

Para muitos, a situação parece insustentável, com um número enorme de pessoas fugindo de sua terra natal no ano passado. Outros, no entanto, apontam para a longevidade do Partido Comunista em Cuba como prova de que Maduro tem uma boa chance de um mandato de longo prazo, apesar dos novos e dolorosos desafios que a população enfrenta no dia a dia.

“Ninguém ainda ganhou uma aposta prevendo a saída de Maduro”, disse Eric Farnsworth, ex-diplomata norte-americano que hoje é vice-presidente do Conselho das Américas, um grupo empresarial. /TRADUÇÃO CLAUDIA BOZZO

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