Na Venezuela, oposição enfrenta desafios para pressionar Maduro

Partidos opositores vão tentar conciliar a pressão internacional para não reconhecer o regime chavista com a aproximação interna a setores descontentes do governo

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Foto do author Luiz Raatz

O principal desafio da oposição da Venezuela no novo mandato do presidente Nicolás Maduro, avaliam analistas, é conciliar a pressão internacional para não reconhecer o regime chavista com a aproximação interna a setores descontentes do governo. 

Nicolás Maduro toma posse de seu segundo mandato em cerimônia na Suprema Corte Foto: EFE/Miguel Gutiérrez

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Para isso, a Mesa da Unidade Democrática (MUD) terá de superar divisões ideológicas do bloco, que reúne partidos que vão da centro-esquerda à direita liberal e uma divisão geracional, que separa líderes no exílio dos que ficaram na Venezuela, como é o caso do novo presidente da Assembleia Nacional,Juan Guaidó, de 35 anos.

“A oposição agora tenta enfraquecer Maduro tanto com ajuda da comunidade internacional, com pressão, isolamento e sanções, mas isso é só um tempero”, diz Luis Vicente León, do Instituto Datanálisis. “O prato principal é a oposição se articular com setores civis e militares descontentes com o chavismo. Sem isso, não há nada.”

Outro desafio será não subestimar a reação política do chavismo, que nos últimos anos usou de promessas de negociações e ofertas políticas para dividir a MUD diante de uma população cada vez mais empobrecida e resignada com a falta de ação política da oposição. 

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“A oposição subestimou por muito tempo a capacidade de sobrevivência do chavismo de reagir a ela”, lembra o cientista político Benigno Alarcón. “O governo controla todas as instituições e agora espera para ver se tentará mais uma vez cindir a oposição ou recorrer à força.”

Para isso, Assembleia Nacional, que não tem poderes práticos desde 2016, tenta comportar-se como o único poder democraticamente legítimo do país para, de um lado conquistar reconhecimento internacional, e do outro oferecer concessões a burocratas e militares insatisfeitos. Na semana passada, Guaidó anunciou que pretende anistiar chavistas que romperem com o governo. 

No front diplomático, a oposição no exílio usa o apoio de países latino-americanos e dos Estados Unidos para pressionar Maduro. O Grupo de Lima e a Organização dos Estados Americanos (OEA) prometeram sancionar autoridades chavistas e reconhecer Guaidó, em vez de Maduro, como o líder do país. No comando desse front, estão líderes históricos da oposição como Julio Borges e Antonio Ledezma e Carlos Vecchio, que estiveram reunidos ontem em Brasília com o chanceler Ernesto Araújo. Outros, como Leopoldo López estão presos. Henrique Capriles foi impedido de disputar cargos públicos por 15 anos. 

Isso abriu caminho para líderes mais jovens tomarem o protagonismo do movimento antichavista na Venezuela. Guaidó, de 35 anos, aproveitou-se do revezamento acordado entre os partidos da MUD para assumir a Assembleia, que cabe, neste ano, ao seu partido, Voluntad Popular, o mesmo de López. 

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“A oposição está dividida entre radicais e moderados e quem está no exílio e dentro do exílio. Quem vive fora está mais radicalizado”, acrescenta León. “Dentro, estão preocupados na construção de lideranças, que passa por nomes mais jovens para mobilizar a população.”

Para o cientista político Benigno Alarcón, as circunstâncias políticas favoreceram esse rejuvenescimento da oposição dentro da Venezuela. “ Há uma nova geração de líderes opositores, principalmente dentro do Voluntad Popular, onde a maioria de seus deputados são jovens, como é o caso de Guaidó, diz. “E pela prisão de outros líderes, calhou de ele liderar o partido no momento em que cabia a eles presidir a AN.”

Diante dessa nova ofensiva opositora, o chavismo espera. Por ora, tenta minimizar a importância das novas lideranças opositoras, especialmente Guaidó. Externamente, recorre a aliados geopolíticos como Rússia, China e Turquia, de olho principalmente em recursos para amenizar a grave crise econômica.