Na véspera de feriado russo, leste da Ucrânia sofre intensos ataques

Analistas afirmam que Putin pode preparar ataques maiores contra Donbas para reivindicar uma vitória no dia 9 de maio, quando se comemora o Dia da Vitória

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Por Inna Varenytsia e David Keyton, Associated Press

IRPIN - O ataque da Rússia no leste da Ucrânia ganhou força nesta quinta-feira, 28, com bombardeios em várias áreas, em meio a suspeitas de que o presidente russo, Vladimir Putin, quer obter um grande sucesso na guerra a tempo do Dia da Vitória, um dos feriados de maiores prestígios na Rússia, no dia 9 de maio.

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O Dia da Vitória marca a derrota da Alemanha nazista na 2ª Guerra para a União Soviética. Putin, como muitos de seus antecessores, costuma usar feriados e aniversários patrióticos russos para fazer anúncios, apelar à solidariedade ou demonstrar uma força nacional.

Em março, ele apareceu em um estádio de Moscou durante um comício que marcou o oitavo aniversário da anexação da península da Crimeia pela Rússia e usou o evento para obter apoio à guerra na Ucrânia.

Autoridades ucranianas relataram intenso fogo russo no Donbas – o centro industrial oriental que o Kremlin está empenhado em capturar – e perto de Kharkiv, uma cidade do nordeste fora do Donbas que é vista como chave para o avanço. Nas últimas 24 horas, as forças ucranianas anunciaram ter repelido seis ataques na região.

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Tropas militares da Rússia desfilaram nas ruas de Moscou nesta quinta-feira, 28, antes de ensaio para o feriado do Dia da Vitória Foto: Maxim Shemetov/Reuters

Obter imagem completa dos conflitos no leste é difícil porque os ataques aéreos e as barragens de artilharia tornaram a movimentação de repórteres extremamente perigosa. Vários jornalistas foram mortos na guerra, que completou dois meses no último dia 24. Além disso, tanto a Ucrânia quanto os separatistas apoiados por Moscou que lutam no leste introduziram restrições rígidas aos relatórios da zona de combate.

Segundo as autoridades ocidentais, o objetivo aparente do Kremlin é tomar o controle de Donbas cercando e esmagando as forças ucranianas do norte, sul e leste. Mas, até o momento, as tropas russas e seus aliados separatistas parecem ter obtido apenas cidades pequenas, enquanto tentam avançar em grupos relativamente pequenos contra as forças ucranianas resistentes.

Alguns analistas dizem que o atraso no lançamento de uma ofensiva completa pode refletir a decisão de Putin de esperar até que suas forças estejam prontas para uma batalha decisiva - em vez de se apressar e arriscar outro fracasso, como na primeira etapa da guerra, que poderia abalar seu governo em meio ao agravamento das condições econômicas por causa das sanções ocidentais.

Na cidade portuária de Mariupol, combatentes ucranianos escondidos no parque siderúrgico da Azovstal Iron and Steel Works, que representa o último bolsão de resistência da cidade, disseram que bombardeios durante a noite mataram e feriram mais pessoas. Também há relatos de falta de água potável dentro da cidade, que pode causar surtos de doenças.

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Os novos ataques ocorreram no dia em que o chefe das Nações Unidas, António Guterres, se reuniu em Kiev com o presidente ucraniano Volodmir Zelenski e testemunhou a destruição em pequenas cidades ao redor da capital, causada durante o primeiro momento da guerra.

Guterres condenou as atrocidades cometidas em cidades como Bucha, onde foram encontradas evidências de assassinatos em massa de civis depois que a Rússia saiu do local, e disse que a Ucrânia se tornou “um epicentro de mágoa e dor insuportáveis”. “Onde há guerra, o preço mais alto é pago pelos civis”, lamentou o chefe da ONU, reiterando a importância de investigar supostos crimes de guerra.

Em paralelo, um promotor da Ucrânia acusou 10 soldados russos, incluindo um general, de estarem “envolvidos na tortura de pessoas pacíficas” em Bucha. A promotora-geral, Irina Venediktova, não disse que seu escritório havia apresentado acusações criminais e apelou ao público para ajudar a reunir provas. A Rússia nega que tenha civis como alvos.

“Durante a ocupação de Bucha, eles fizeram civis desarmados de reféns, os mataram com fome e sede, mantiveram eles de joelhos, com as mãos amarradas e os olhos tapados, zombaram e os espancaram”, disse Venediktova.

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Pouco depois de Zelenski e Guterres realizarem uma coletiva de imprensa conjunta, explosões atingiram Kiev e incêndios foram identificados em pelo menos dois prédios na capital, que esteve relativamente ilesa nas últimas semanas. Nuvens de fumaça podiam ser vistas sobre a cidade.

Não há informações imediatas sobre vítimas, mas Guterres e sua equipe estão seguros, disse um porta-voz da ONU.

As explosões, que pareciam ser um dos ataques mais ousados a Kiev desde que as forças russas se retiraram da capital semanas atrás, ocorreram quando os seus moradores retornam cada vez mais à cidade. Cafés e outros negócios foram reabertos, e um número crescente de pessoas estava na rua, aproveitando o clima da primavera.

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