Não permitam que a China faça outro massacre como o da Praça Tiananmen; leia cenário

Ex-manifestante da Praça Tiananmen relembra protestos de 1989 e repressão do Partido Comunista da China e vê semelhanças com manifestações atuais

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Por Jianli Yang

Em 13 de outubro, poucos dias antes do início do 20.º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, um homem sozinho protestou sobre um viaduto de Pequim contra o presidente Xi Jinping e sua draconiana política “zero covid”. Tive esperança de que as ações desse herói solitário desencadeassem uma onda de protestos pacíficos para impedir Xi de continuar castigando o povo chinês — apesar delas serem atenuadas pela consciência de as políticas de intensa repressão do regime terem tornado protestos uma ocorrência rara e quase impossível de se iniciar.

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O que aconteceu nas duas semanas recentes excedeu todas as minhas expectativas. Primeiro veio a insurreição dos funcionários de um complexo industrial da Foxconn protestando contra as deploráveis condições de trabalho. Depois vieram os protestos que ocorreram nacionalmente, após um incêndio em Xinjiang matar várias pessoas — que, segundo relatos, não puderam escapar do edifício em chamas em razão das rígidas condições de lockdown

As manifestações começaram expressando fúria contra as políticas “covid zero”, mas demandas dos manifestantes evoluíram rapidamente para um movimento que exige liberdades mais amplas: de expressão, de reunião, de livrar-se dos ditames do Partido Comunista. Manifestantes em toda parte repetiram os slogans nos cartazes daquele manifestante solitário no viaduto de Pequim. “Queremos comer, não testes de coronavírus; reforma, não a Revolução Cultural”, dizia um cartaz nos protestos recentes. “Queremos liberdade, não lockdowns; eleições, não comandantes. Queremos dignidade, não mentiras; ser cidadãos, não pessoas escravizadas.”

Estudantes seguram papéis em branco na Universidade chinesa de Hong Kong em solidariedade aos protestos em Pequim contra a política de covid zero, em imagem da segunda-feira, 28 Foto: Peter Parks/AFP

Enquanto manifestante que participou dos protestos pró-democracia na Praça Tiananmen, em 1989, não posso evitar sentir os ecos daquele momento nos eventos que ocorrem na China agora. Eu estava lá quando o Partido Comunista Chinês mandou suas tropas dispararem contra os manifestantes — e temo que a história possa hoje se repetir. O mundo não deveria subestimar a determinação de Xi e do PCC de continuar no poder. O regime fará uso pleno de todos os recursos ao seu dispor, incluindo tecnologia de vigilância, policiais e serviços de inteligência. Por essa razão, a comunidade internacional deveria fazer uso de todas as ferramentas disponíveis para apoiar as forças pró-democracia e dissuadir o regime de Pequim de apelar para a violência.

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Esperamos que os protestos eventualmente resultem nas mudanças que buscamos. Vejo pelo menos quatro condições que devem ser atendidas simultaneamente para haver uma chance de alcançar uma transformação significativa na China. Primeiro, as pessoas têm de estar muito descontentes com o status quo político. Segundo, uma oposição democrática viável deve emergir. Terceiro, tem de haver um cisma dentro da liderança de governo do PCC. Quarto, a comunidade internacional terá de acreditar que a oposição democrática na China é viável e optar por apoiá-la. A primeira condição foi atendida; a segunda continua um sonho para o momento; enquanto a terceira ainda poderá ocorrer caso os protestos continuem.

Essas quatro condições são mutuamente interdependentes, mas quero colocar o foco na última.

Há muito o que a comunidade internacional é capaz de fazer para ajudar. Primeiramente e acima de tudo, o governo Biden e outros governos ocidentais deveriam dar avisos inequívocos e específicos à China sobre as consequências de qualquer repressão sangrenta. A comunidade internacional poderia expressar a ameaça de mais sanções econômicas, maior ajuda para Taiwan e perseguir ativos no exterior dos principais clãs políticos chineses. Caso a divisão irrompa na liderança do PCC, pode-se optar por negociar com líderes de mentalidade mais aberta, em vez dos linha-dura, para fortalecer sua legitimidade.

Acima de tudo, os governos ocidentais não devem repetir os erros que cometeram em 1989, quando os Estados Unidos e outras democracias se esforçaram pouco para dissuadir o então líder do Partido Comunista Chinês, Deng Xiaoping, de massacrar os estudantes que protestavam — porque não acreditaram que ele faria aquilo. Os atuais líderes ocidentais podem expressar abertamente apoio moral aos manifestantes e encorajar as autoridades chinesas a empreender um diálogo pacífico com eles.

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Os governos ocidentais também deveriam aproveitar essa oportunidade para colaborar mais proximamente com organizações de direitos humanos e a diáspora chinesa para avançar no sentido de uma maior consciência sobre os abusos de direitos humanos que ocorrem dentro da China. Devem também incorporar essas mensagens em documentos oficiais e reuniões, para ajudar a tornar o movimento pela democracia viável e estimular o crescimento da sociedade civil.

Assistir às fileiras de tanques esmagando os jovens na Praça Tiananmen me fez perceber que a China tem de mudar. Esses protestos engendraram um momento de vai ou racha para o povo chinês. Devemos manter nossa fé de que o povo chinês está preparado para se juntar a outros tantos no mundo que vivem em países livres. Uma abertura para mudanças significativas poderia se produzir nas próximas semanas ou meses — ou talvez isso leve mais alguns anos. Evidentemente, isso não ocorrerá sem um esforço coletivo — que inclui a comunidade internacional. Em conformidade, quem está fora da China deve estar pronto para ajudar a produzir mudança política no país. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Jianli Yang, ex-manifestante da Praça Tiananmen e ex-prisioneiro político na China, é fundador da ONG Iniciativas de Poder Cidadão para a China e autor de “For Us, the Living: A Journey to Shine the Light on Truth” (Para nós, o viver: Uma jornada para revelar a verdade).

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