MADRI ― Na tentativa de camuflar um carregamento milionário de cocaína da América Latina para o Oriente Médio, traficantes internacionais resolveram repaginar um método clássico para escapar das autoridades: as “mulas do tráfico”. Mas, neste caso, eram vacas. O esquema, que acabou descoberto pela polícia espanhola, repercutiu na imprensa europeia como o caso das “narcovacas” ― e revelou um pouco da engenhosidade do crime organizado internacional.
A polícia da Espanha anunciou no sábado, 28, a apreensão de 4,5 toneladas de cocaína em um navio que zarpou da Colômbia com destino ao Líbano. De acordo com as autoridades espanholas, que encontraram a droga durante uma fiscalização na costa das Ilhas Canárias, o carregamento estava escondido nos silos de alimentação dos 1.750 animais que estavam embarcados ― e não dentro do corpo deles, como no caso das “mulas tradicionais”.
Embora o navio tenha partido da Colômbia, não se sabe com exatidão de onde a cocaína é proveniente, uma vez que algumas paradas foram feitas antes de chegar à Espanha. Informações da Marinha espanhola apontam que o embarque da droga teria sido feito nas “Antilhas”, sem especificar um país em particular.
A empresa proprietária das vacas, a Frontera Vacana S.A.S. publicou um comunicado dizendo que não tinha conhecimento sobre o carregamento clandestino e que, no momento do embarque na Colômbia, não havia drogas no navio, culpando a empresa contratada para o transporte. A empresa colombiana ainda afirmou que a cocaína provavelmente foi embarcada em Barbados.
Para autoridades de segurança pública da Colômbia e da Espanha, a apreensão no navio-cargueiro mostra a complexidade de se combater o tráfico internacional, uma vez que os navios responsáveis pelo transporte das maiores quantidades de entorpecentes muitas vezes não são abastecidos nos portos em que iniciam seus trajetos ― ou, em certos casos, a droga não chega com a embarcação no destino final.
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No caso do navio apreendido na Espanha, o Orion V, as autoridades espanholas afirmaram que havia um monitoramento aos movimentos dele há mais de dois anos, durante os quais ele já havia sido alvo de fiscalizações, mas que não encontraram drogas em seu interior ― embora houvesse “indícios”, ainda de acordo com as autoridades.
O combate ao tráfico internacional também tem um grau de complexidade elevado. Apenas para a operação da semana passada, cooperaram a agência antidrogas dos Estados Unidos (DEA), o Centro Operacional Internacional de Análises de Inteligência Marítima para os Entorpecentes (MAOC-N), autoridades togolesas e a polícia espanhola.
Entre os 28 presos à bordo do cargueiro com cocaína, haviam tripulantes de nove nacionalidades diferentes ― o que também é um fator que mostra a internacionalização do esquema, segundo as autoridades.
A revelação do esquema também alimentou críticas de ambientalista colombianos, críticos do transporte de animais vivos no momento da exportação, por considerarem que eles são submetidos a maus-tratos em alto-mar.
“Os barcos da morte agora com cocaína”, escreveu a senadora colombiana Andrea Padilla. Em uma entrevista à revista Semana, da Colômbia, ela afirmou: “É uma máfia, esses navios gigantes que saem de Cartagena, ninguém sabe dessa atividade. Consiste em colocar milhares de animais, entre quatro mil e onze mil, com destino ao Oriente Médio. São viagens de vinte e cinco dias, os animais morrem no caminho e são jogados ao mar”./ COM AFP
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