TEL-AVIV - O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, revelou nesta segunda-feira, 30, o que chamou de “arquivos nucleares secretos” do Irã e acusou o país de mentir por anos para construir armas nucleares. Netanyahu apresentou uma série de documentos dias antes do presidente americano, Donald Trump, decidir se retira os EUA do pacto nuclear firmado com Teerã.
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Em uma apresentação teatral transmitida pela TV, o premiê, contrário ao acordo, mostrou “cópias exatas” de dezenas de milhares de documentos originais iranianos obtidos há algumas semanas por espiões israelenses em Teerã.
O Irã chamou de “revelações falsas” os documentos de Netanyahu. “Que conveniente. Timing coordenado de supostas revelações de inteligência por parte do menino que dá um alarme falso dias antes do 12 de maio”, afirmou, pelo Twitter, o chanceler iraniano, Mohamed Javad Zarif, se referindo à data em que Trump deve decidir se os EUA deixam o pacto nuclear.
“Sabemos há anos que o Irã tem um programa nuclear secreto, chamado Projeto Amad. Agora, podemos demonstrar que era um programa completo para desenvolver, construir e testar armas nucleares. Também podemos demonstrar que o Irã está guardando em segredo material para utilizá-lo quando quiser”, disse Netanyahu.
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O objetivo do projeto, segundo o premiê israelense, é “desenvolver, produzir e testar cinco ogivas nucleares cada uma com 10 quilotons de TNT para sua integração em um míssil”, o que, acrescentou, “é como se colocassem cinco bombas de Hiroshima em um míssil balístico”. Os documentos, 55 mil páginas de papel e 183 CDs, constituem “evidências novas e conclusivas do programa de armas nucleares que o Irã escondeu durante anos”, completou.
O primeiro-ministro não revelou, no entanto, nenhuma prova de que Teerã tenha violado o acordo fechado com diversos países em 2015 – que entrou em vigor no começo de 2016. Durante o discurso, ele se limitou a dizer que, em 2017, o Irã “transferiu seus arquivos de armas nucleares para um local altamente secreto, que poucos iranianos conhecem”.
Após a fala de Netanyahu, Trump insinuou que planeja deixar o acordo internacional ao dizer que não acredita que isso prejudicará seus contatos com a Coreia do Norte. “O que soubemos hoje (nesta segunda-feira) sobre o Irã mostra realmente que eu tinha 100% de razão sobre o acordo”, disse Trump, em entrevista na Casa Branca, ao lado do presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari.
Netanyahu afirmou ter fornecido o material aos EUA para que o governo americano possa atestar sua veracidade. Agências de inteligência americanas concluíram, em 2017, que Teerã havia suspendido a parte ativa dos esforços para construir uma bomba nuclear – ações iniciadas após o começo da Guerra do Iraque, em 2003. Durante o discurso desta segunda-feira, o premiê israelense confirmou essa versão, mas acrescentou que outros elementos do Projeto Amad continuaram ativos e avançaram.
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“O Irã tem capacidade técnica para enriquecer urânio a um nível mais alto do que tinha antes de assinar o acordo”, afirmou o chefe da organização de energia atômica do Irã, Ali Akbar Salehi, à TV estatal. “O Irã não está blefando. Tecnicamente, estamos totalmente preparados para enriquecer urânio acima do que costumávamos. Espero que Trump caia em si e continue no acordo”, completou Salehi.
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Sob o acordo, que levou à suspensão da maioria das sanções internacionais contra o Irã, o nível de enriquecimento de urânio do Irã deve permanecer em torno de 3,6%. O Irã parou de produzir urânio enriquecido a 20% e abandonou a maior parte do seu estoque como parte do acordo firmado com Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha, China e Rússia.
O urânio refinado a 20% de pureza físsil está bem além dos 5% normalmente necessários para abastecer usinas nucleares civis, embora ainda muito abaixo da pureza altamente enriquecida, de 80% a 90%, necessária para uma bomba nuclear.
Teerã já descartou qualquer possibilidade de negociar o programa de mísseis balísticos do país, suas atividades nucleares após 2025 e seu papel internacional no Oriente Médio, como exige Trump.
Grã-Bretanha, França e Alemanha apoiam o acordo, que afirmam ser a melhor maneira de impedir que Teerã consiga armas nucleares, mas pediram ao Irã que limite sua influência regional e reduza o programa de mísseis. / AFP, EFE, NYT e REUTERS
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