JERUSALÉM — O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, foi formalmente acusado pela Justiçaem três casos de corrupção, horas depois de retirar seu pedido de imunidade parlamentar contra acusações.
O procurador-geral Avichai Mandelblit denunciou Netanyahu por acusações de corrupção — a primeira contra um primeiro-ministro israelense em atividade — em novembro, após longas investigações. No entanto, ele não podia apresentar as acusações formalmente enquanto o pedido de imunidade não fosse julgado.
O premier é acusado de corrupção, fraude e violação de confiança, suspeito de ter cedido favores do Estado no valor de centenas de milhões de dólares a barões da imprensa israelense em troca de presentes e cobertura favorável. Ele pode enfrentar até 10 anos de prisão se condenado por suborno e até três anos por fraude e violação de confiança.
Netanyahu nega ter feito algo errado, alegando ser vítima de uma caça às bruxas com motivações políticas da imprensa e da esquerda para derrubá-lo.
Netanyahu, candidato à reeleição na votação de 2 de março, retirou o pedido por meio de um comunicado enviado de Washington, onde nesta terça-feira participará da apresentação do plano de paz dos Estados Unidos para o Oriente Médio.
"Informei o presidente do Parlamento que retiro meu pedido de imunidade. Mais tarde, desmentirei as acusações ridículas formuladas contra mim", disse em um comunicado. "Mas, no momento, não deixarei que meus adversários políticos usem isso para prejudicar o processo histórico que lidero."
O premiê há mais tempo em atividade em Israel afirmou que o debate sobre sua imunidade no Parlamento tem sido um "circo" e que não deseja participar deste "jogo sujo". Ele havia feito a requisição em 1º de janeiro deste ano, em uma carta ao presidente do Parlamento, Yuli Edelstein.
Os procedimentos legais agora seguem para o tribunal, embora um cronograma ainda seja incerto, podendo levar meses ou anos.
Polêmicas de Netanyahu
O veterano político de direita não tem obrigação legal de renunciar. A lei israelense determina que um ministro denunciado deve renunciar, mas isso não se aplica ao primeiro-ministro. Embora possa permanecer no cargo, Netanyahu não terá imunidade parlamentar.
“Ele sabia que a imunidade não seria concedida a ele, então quis se poupar de uma humilhação” disse Amir Fuchs, pesquisador do Instituto de Democracia de Israel, à Bloomberg. “Ele quer que as pessoas falem sobre o que está acontecendo com Trump e os Estados Unidos, ele quer as manchetes para lidar com as coisas que são boas a ele.”
Segundo Fuchs, uma vitória na eleição de março permitiria que o premiê revivesse seu pedido de imunidade perante um Parlamento mais disposto a ajudá-lo.
O plano de paz, elogiado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como "muito bom", foi criticado por autoridades palestinas. Os palestinos indicaram que não haviam sido convidados a Washington para a ocasião e rejeitaram "a priori" o plano.
O principal adversário de Netanyahu, o ex-general de centro Benny Gantz, líder do partido Azul e Branco, usou os problemas legais de Netanyahu como peça central de sua campanha nas duas eleições israelenses do ano passado.
Gantz fez uma breve viagem a Washington para discutir o plano de paz com Trump, voltando a Israel logo em seguida para tentar liderar o debate parlamentar sobre a concessão de imunidade a Netanyahu, que não acontecerá mais.
"Os cidadãos de Israel têm uma escolha clara: um primeiro-ministro que trabalhe para eles ou um primeiro-ministro ocupado com si mesmo. Ninguém pode comandar um país e em paralelo lidar com três sérios casos criminais", disse em uma publicação no Twitter./AFP, REUTERS e EFE
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