O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, se reuniu com soldados na fronteira de Gaza, neste sábado, 14, e disse que as forças israelenses estavam “todas prontas”, em meio à expectativa de início de um ataque terrestre na região. A fala de Netanyahu foi divulgada em publicações nas redes sociais do primeiro-ministro.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) indicaram em uma publicação em árabe neste sábado, 14, que residentes da região norte da Faixa de Gaza podem deixar a região por duas rotas seguras e devem completar o trajeto até o sul do enclave palestino das 10h no horário local (4h no horário de Brasília) até as 16h (10h no horário de Brasília).
“Se você se preocupa com si mesmo e com a sua família, vá para o sul da Faixa de Gaza”, aponta a publicação do porta-voz do exército israelense em árabe, Avichay Adraee. “Tenham a certeza de que os líderes do Hamas cuidaram de si próprios e estão se protegendo”. O exército israelense havia dado um prazo de 24 horas para que os civis palestinos deixassem a região norte da Faixa de Gaza.
Centenas de milhares de pessoas foram desalojadas apenas nas últimas 12 horas, disse a agência da ONU que ajuda os palestinos na tarde de sábado, ao advertir que o acesso ao abastecimento de água em Gaza era agora “uma questão de vida ou morte”.
LEIA MAIS
“Cerco completo”
O ministro da defesa de Israel impôs um “cerco completo” a Gaza em resposta ao ataque terrorista do Hamas no último sábado, 7, que matou mais de 1,3 mil pessoas. Ele disse que isso impediria a entrada de eletricidade, alimentos, água e combustível no território, que já está sob um bloqueio de 16 anos imposto por Israel e apoiado pelo Egito.
O jornal The Jerusalem Post noticiou que as Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram que estão prontas para “as próximas fases da guerra”, que incluirá ataques coordenados por ar, mar e terra. A declaração da FDI ocorreu no sábado à noite, no horário local.
“Batalhões e soldados das FDI estão destacados em todo o país e estão prontos para aumentar a sua prontidão para as próximas fases da guerra, com forte ênfase em operações terrestres significativas”, disse a FDI.
Deslocamento
A fuga ordenada pelos militares israelitas força toda a população do território a amontoar-se na metade sul da Faixa de Gaza, enquanto Israel continua os ataques em todo o território, incluindo no sul.
Famílias em carros, caminhões e carroças abarrotadas de pertences lotavam uma estrada principal que liga Cidade de Gaza ao sul do território palestino, na manhã deste sábado, enquanto os ataques aéreos israelenses continuavam a atingir uma região de 40 quilômetros de extensão. Suprimentos de alimentos, combustível e água potável estão acabando – a água já parou de sair das torneiras em todo o território.
“Precisamos de um número para os motoristas de Gaza ao sul, é necessário #help”, dizia um post nas redes sociais. Outra pessoa escreveu: “Precisamos de número de ônibus, escritório ou qualquer meio de transporte”.
Abrigos improvisados
Milhares de pessoas estão amontoadas numa escola gerida pela ONU que virou abrigo em Deir al-Balah, uma cidade agrícola a sul da zona que Israel determinou como de risco. Muitos dormem no chão, sem colchões, ou em cadeiras retiradas das salas de aula.
“Vim para cá com meus filhos. Dormimos no chão. Não temos colchão nem roupas”, disse Howeida al-Zaaneen, 63 anos, natural da cidade de Beit Hanoun, no norte do país. “Quero voltar para minha casa, mesmo que ela esteja destruída.”
Os militares israelenses disseram que suas tropas realizaram ataques temporários em Gaza na sexta-feira, 13, para combater terroristas e para caçar vestígios de cerca de 150 pessoas – incluindo homens, mulheres e crianças – que foram sequestradas durante o ataque do Hamas em 7 de outubro ao sul de Israel.
O Ministério da Saúde de Gaza disse, neste sábado, que mais de 2.200 pessoas foram mortas no território palestino, incluindo 724 crianças e 458 mulheres. O ataque do Hamas matou mais de 1.300 pessoas do lado israelense, a maioria delas civis, e cerca de 1.500 militantes do Hamas morreram durante os combates, disse o governo israelense.
Saída de estrangeiros ainda é um desafio
Autoridades egípcias disseram que a passagem ao sul da cidade de Rafah seria aberta neste sábado pela primeira vez em dias para permitir a saída de estrangeiros – entre eles, 19 brasileiros que aguardam para serem repatriados.
Uma autoridade disse à agência de notícias AP que israelenses e homens do Hamas concordaram em facilitar as partidas e que haviam, ainda, negociações em andamento sobre o envio de ajuda para Gaza por meio da mesma passagem. Os funcionários não estavam autorizados a informar os jornalistas e falaram sob condição de anonimato.
Temendo um êxodo em massa de palestinos, as autoridades egípcias ergueram “muros anti-explosão temporários” no lado egípcio da passagem, que está fechada há dias por causa dos ataques aéreos israelenses. A informação foi dada por duas autoridades egípcias, também sob condição de anonimato.
Os ataques de Israel a Gaza na sexta-feira foram a primeira confirmação de que as tropas israelitas tinham entrado no território desde que os militares começaram o seu bombardeamento 24 horas por dia em retaliação ao massacre do Hamas no sábado. Os terroristas do Hamas, por sua vez, dispararam mais de 5.500 foguetes contra Israel desde o início dos combates, segundo os militares israelenses./Com Washington Post, AP e The New York Times
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.