THE WASHINGTON POST, TEL AVIV - O anúncio do colapso da coalizão governamental israelense e os preparativos para uma quinta eleição em três anos veio como uma vitória retumbante para Binyamin Netanyahu, o ex-premiê a ocupar por mais tempo o cargo no país, 15 anos no total. Desde que saiu do governo, no ano passado, ele vem se preparando para seu próprio retorno.
Pesquisas mostram que a maioria dos israelenses continua a votar da maneira que tem votado nas últimas eleições, produzindo um Knesset polarizado e em um impasse que força a formação de governos de coalizão frágeis.
Mas Netanyahu, que liderou Israel durante grande parte dos últimos 20 anos, parece estar apostando em quebrar o impasse político galvanizando sua base de direita e pintando seus oponentes como uma ameaça à sociedade.
“Um governo que dependia de apoiadores do terror, que abandonou a segurança pessoal dos cidadãos de Israel, que elevou o custo de vida a alturas inauditas, que criou impostos desnecessários, que colocou em risco nossa entidade judaica. Este governo está indo para casa”, comemorou Netanyahu na segunda-feira em um vídeo postado no Twitter. “Meus amigos e eu formaremos um governo… que, acima de tudo, devolverá o orgulho nacional aos cidadãos de Israel.”
O colapso da coalizão se deve em grande parte aos esforços de Netanyahu para incentivar os membros da frágil coalizão formada no ano passado, desconfortáveis com sua diversidade ideológica, a abandonar o barco.
“Desde o primeiro dia, Netanyahu procurou derrubar o governo e se concentrou no conflito israelo-palestino e nas questões relacionadas aos árabes em Israel”, disse Dahlia Scheindlin, analista política.
O comitê do Knesset votou por unanimidade a votação da dissolução para esta quarta-feira, em vez da próxima semana, como foi planejado originalmente, para evitar esforços de Netanyahu para formar um governo alternativo de última hora.
Aos 72 anos, depois de um ano e uma semana passado no salão da oposição do Knesset e no Tribunal Distrital de Jerusalém, onde é alvo de um julgamento de corrupção em andamento, a determinação de Netanyahu de recuperar seu trono parece mais feroz do que nunca.
“Este é um grande show, e ninguém faz um grande show como Netanyahu”, disse Aviv Bushinsky, ex-assessor de Netanyahu.
Michael Maimon, um antigo eleitor de Netanyahu e seu ex-companheiro do Exército dos anos 1960, espera que a votação seja diferente das últimas quatro vezes. O “pesadelo” do governo que se encerra mobilizou a base de Netanyahu. Na última eleição, 300 mil eleitores dele não votaram, o que o impediu de reunir os 61 assentos necessários para governar o Knesset, que tem 120 cadeiras parlamentares.
“Bibi sabe que ele é o candidato mais popular e que o apoio a ele é melhor agora do que nos últimos anos”, disse Maimon. “Ele está ansioso para voltar.”
Uma pesquisa da estação de rádio israelense 103FM descobriu que um bloco liderado por Netanyahu – incluindo seu Likud de direita, os partidos religiosos sionistas e os partidos ultraortodoxos – ganharia o maior número de assentos em novas eleições, mas ainda faltariam dois - o que o obrigaria a ir atrás de uma coalizão.
Em 2021, Netanyahu não conseguiu construir uma coalizão e foi obrigado a passar o mandato para o centrista Yair Lapid, que era chefe do segundo maior partido e depois se aliou ao direitista Naftali Bennett em um acordo de compartilhamento de poder.
A dupla Bennett-Lapid substituiu Netanyahu em junho passado com o apoio de uma coalizão de oito partidos ideologicamente divergentes, unidos apenas pelo desejo de derrubar o ex-premiê.
Parte do motivo pelo qual Netanyahu não conseguiu formar uma coalizão em 2021 foi porque alienou muitos de seus antigos aliados à direita – as mesmas pessoas que agora prometem impedir seu retorno.
Crise política em Israel
“Eu não vou trazer Bibi de volta. Todos os membros do partido estão comigo. Ninguém vai sucumbir aos incentivos para desertar para o Likud”, disse Gideon Saar, ministro da Justiça e ex-veterano do partido Likud, à Rádio do Exército na terça-feira.
Netanyahu tentará cooptar aqueles da base religiosa-sionista de Bennett que expressaram desconforto com a inclusão de um partido árabe-islâmico na coalizão. Netanyahu há muito afirma que sua inclusão comprometeu o caráter judaico de Israel e sua segurança – embora ele próprio tenha cortejado o partido.
“A paz e a segurança devem ser restauradas aos cidadãos de Israel e às ruas de nossas cidades. Infelizmente, todos vemos que um governo dependente do Movimento Islâmico é incapaz de fazê-lo”, disse Netanyahu depois de visitar os parentes de um dos israelenses mortos em um tiroteio em março.
Com a corrida para as eleições, a comunidade árabe em Israel está se preparando para uma campanha de difamação dos árabes promovida por Netanyahu, disse Yousef Jabareen, ex-membro do Knesset do partido de esquerda árabe-israelense Hadash.
Netanyahu já afirmou que os cidadãos palestinos de Israel “são perigo” nas eleições anteriores, alertando que eles estavam “indo para as assembleias de voto em massa”.
“Estamos seriamente preocupados que políticos e cidadãos árabes sejam objeto de deslegitimação”, disse Jabareen. “Sabemos que a incitação contra a comunidade árabe é parte integrante do processo de Netanyahu, e tenta atrair eleitores de direita e, ao mesmo tempo, manter os eleitores árabes fora do jogo.”
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