Emilia Mello tinha sido presa no sábado com um grupo de estudantes quando seguia para a cidade de Granada para filmar um protesto contra o presidente Daniel Ortega
Ao menos 28 pessoas foram presas, a maioria universitários. Entre os detidos também estavam dois documentaristas nicaraguenses, Arielka Juárez e Ronny Cajina, um médico e um advogado, que foram liberados horas depois. Emilia foi levada ao Departamento de Migrações, de onde foi deportada.
O secretário executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Paulo Abrão, confirmou e que a brasileira, que também tem nacionalidade americana, deixou o país no domingo à tarde em um voo para El Salvador, que fez escala na Cidade do México e seguiu para Nova York. Segundo ele, Emilia foi interrogada durante horas e sofreu abusos psicológicos. As prisões provocaram críticas de entidades de defesa dos direitos humanos e da cultura.
A Associação Nicaraguense de Cinematografia (Anci) condenou a ação e considerou o ato uma forma de censura. “Isso estabelece um precedente muito perigoso para futuros cineastas que queiram tentar entrar no país para documentar o que sucede e contar ao mundo a história do que estamos vivendo e registrar qualquer violação dos direitos humanos”, diz a entidade.
Os protestos na Nicarágua começaram no dia 18 de abril contra a reforma da Previdência, que acabou sendo revogada diante da pressão social. Mas as manifestações se intensificaram e houve repressão da polícia e de grupos paramilitares ligados ao governo.
Impasse e acusações
Ortega rejeitou a proposta feita por setores da sociedade civil - incluindo estudantes, agricultores, organizações de defesa dos Direitos Humanos e empresários - e pela Igreja Católica, de antecipar as eleições para acabar com a crise.
A crise na Nicarágua em imagens: 100 dias de protestos
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Nicarágua 1
Os protestos na Nicarágua começaram no dia 18 de abril, quando a população foi às ruas contra a reforma da previdência social no país. Logo nas primei... Foto: EFE/Jorge TorresMais
Nicarágua 2
A maior reclamação era de que as medidas não evitariam a falência do INSS e aumentariam o desemprego e a informalidade, diminuindo o consumo e a compe... Foto: AFP PHOTO / INTI OCONMais
Nicarágua 3
Já nas primeiras ocasiões, a imprensa foi censurada. O canal 100% Noticias, que transmitia os protestos ao vivo, foi retirado do ar. Em um protesto no... Foto: Jorge Torres/EPA/EFEMais
Nicarágua 4
O governo do presidente Daniel Ortega culpou "pequenos grupos de oposição" de serem os responsáveis pela revolta. No dia 22 de abril, ele revogou a re... Foto: EFE/Jorge TorresMais
Nicarágua 5
Em 23 de abril, o número de mortos subiu para 31, quando policiais invadiram a Universidade Politécnica da Nicarágua e mataram quatro estudantes. Nest... Foto: EFE/Paolo AguilarMais
Nicarágua 6
O número de mortos estava em 34 no dia 25 de abril, quandocentenas de nicaraguenses marcharam com velas acesas pelas ruas da capital, Manágua, pedindo... Foto: EFE/Jorge TorresMais
Nicarágua 7
Além das 34 mortes, 66 pessoas feridas estavam internadas e, destas, 12 apresentavam estado crítico de saúde. Dos mortos, a maioria recebeu tiros na c... Foto: REUTERS/Jose CabezasMais
Nicarágua 8
Em 6 de maio, o número de mortos estava em 45 e o Parlamento - dominado por partidários de Ortega - criou uma comissão para investigar as mortes. Grup... Foto: REUTERS/Oswaldo RivasMais
Nicarágua 9
Após 24 dias desde o início dos protestos, 50 pessoas haviam morrido, segundo as ONGs. Em 11 de maio, 21 estudantes foram intoxicados enquanto partici... Foto: Oswaldo Rivas/ReutersMais
Nicarágua 10
Em 17 de maio, cerca de 60 mortes haviam sido registradas e o número de feridos estava em 500. Neste momento, a Comissão Interamericana de Direitos Hu... Foto: AFP PHOTO / DIANA ULLOAMais
Nicarágua 11
No início de junho, 114 pessoas haviam morrido, incluindo um estrangeiro. A cidade de Masaya, que fora reduto dos rebeldes na década de 80, havia se t... Foto: REUTERS/Oswaldo RivasMais
Nicarágua 12
Em 16 de junho, cerca de 200 mortes eram contabilizadas. Governo e oposição fizeram um acordo para que organizações internacionais verificassem as fat... Foto: REUTERS/Jorge CabreraMais
Nicarágua 13
Em 7 de julho, Ortega declarou que não anteciparia as eleições, o que elevou as tensões pelo país e motivou mais protestos.Barricadas foram levantas p... Foto: EFE/Bienvenido VelascoMais
Nicarágua 14
Quatro dias depois, em 11 de julho, a CIDH calculava em 264 o número de mortes e em 1,8 mil o número de feridos.A Igreja havia retomado a mediação dos... Foto: Mais
Nicarágua 15
Em 16 de julho, as mortes se aproximavam de 300 e a situação piorou quando grupos armados pró-governo e policiais começaram a cercar universidades ocu... Foto: Mais
Nicarágua 16
Em 17 de julho, o Parlamento aprovou uma lei sobre terrorismo que, segundo a ONU, poderia ser utilizada para criminalizar protestos pacíficos. No mesm... Foto: AP Photo/Alfredo ZunigaMais
Nicarágua 17
Na ocasião moradores ergueram barricadas de até dois metros de altura para se proteger. Trinta e sete caminhonetes cheias de agentes da polícia antimo... Foto: REUTERS/Oswaldo RivasMais
Nicarágua 18
Em 20 de julho, no aniversário da Revolução Sandinista,Ortega pediu aos manifestantes para acabar com que considera uma tentativa de "desestabilizar o... Foto: REUTERS/Oswaldo Rivas TPX IMAGES OF THE DAYMais
Nicarágua 19
Ainda em 21 de julho, dezenas de mães que procuravam seus filhos presos ou desaparecidosforam expulsas por agentes do governo e ameaçadas com armas de... Foto: Marvin Recinos / AFPMais
Nicarágua 20
Em 23 de julho, a estudante universitária brasileiraRaynéia Gabrielle Lima foi morta a tirosquando voltava para casa depois de um plantão hospitalar n... Foto: Reprodução / FacebookMais
Nicarágua 21
A comunidade internacional voltou a pressionar Ortega e pedir eleições antecipadas.O Brasil condenou a morte da estudante, pediu que o caso seja inves... Foto: REUTERS/Jorge CabreraMais
Líder da Revolução Sandinista de 1979 que derrotou a ditadura de Anastásio Somoza, Ortega é acusado até por ex-aliados de querer instalar o autoritarismo semelhante ao que ele combateu. Ele foi reeleito em 2016, mas a votação, sem a presença de observadores internacionais, foi questionada pela oposição.
Na sexta-feira, a CIDH alertou que os direitos humanos continuam sendo violados pelo governo nicaraguense, com “estigmatização e criminalização do protesto social”. / AGÊNCIA BRASIL