Coroada Miss Universo, a nicaraguense Sheynnis Palacios, a primeira centro-americana a vencer o concurso, reacendeu o conflito político de uma nação com milhares de exilados. No país, sob regime de Daniel Ortega, Sheynnis foi destacada não só pela sua beleza que levou ao título, mas pelo seu passado de ativismo político, no qual a jovem de 23 anos participou de protestos em 2018 contra Ortega.
Desde que venceu o Miss Universo no dia 18 de novembro, em El Salvador, Sheynnis viralizou nas redes sociais dos exilados e foi destaque na imprensa nicaraguense crítica a Ortega pelas suas manifestações contra o regime político da Nicarágua. Nas redes sociais circulam fotos de Sheynnis agitando a bandeira da Nicarágua em manifestações que deixaram mais de 30 mortos, denunciadas por Ortega como tentativa de golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos.
A conquista da jovem levou os nicaraguenses de volta às ruas em Manágua e outras cidades, como já não se via desde que os protestos foram proibidos em 2018. “Me alegra muito ver a felicidade dos nicaraguenses e vê-los mostrarem o azul e branco proibidos nas ruas. Graças a Sheynnis...”, disse na rede social X a escritora Gioconda Belli, exilada na Espanha.
No entanto, a vice-presidente Rosario Murillo, esposa de Ortega, criticou aqueles que exaltam com propósitos políticos a vencedora do concurso. “Nestas horas e nestes dias de novas vitórias vemos o oportunismo grosseiro e a rude e maligna comunicação terrorista, que pretende transformar um lindo e merecido momento de orgulho e celebração, em golpismo destrutivo”, disse na quarta-feira, 29, a vice-presidente Rosario em nota.
Mural interrompido e malas apreendidas
Dezenas de pessoas celebraram na casa da jovem em um bairro de Manágua na madrugada do domingo, 19, após o concurso. Sua família recebeu a visita de funcionários da Prefeitura e, mais tarde, o governo disse em nota que se uniria à “merecida alegria” pelo triunfo da “nossa Miss Universo”.
Os meios de comunicação opositores, que trabalham principalmente da vizinha Costa Rica, qualificaram essas ações como “oportunismo”. No dia 21 de novembro, esses meios de comunicação denunciaram que o governo proibiu os artistas Vink Art e Torch Místico de pintar um mural com o rosto da miss em uma rua da cidade de Estelí. Uma foto da obra inacabada circula nas redes sociais.
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“Ela se tornou um símbolo nacional, afetivo, que reavivou as esperanças. E o governo percebeu isso”, disse à AFP o jornalista Wilfredo Miranda, vencedor do Prêmio Ortega y Gasset, exilado na Costa Rica.
As reações do regime ditatório não pararam por aí. As autoridades nicaraguenses proibiram Karen Celebertti, organizadora do Miss Nicarágua, de regressar ao país e invadiram a sua casa. O governo de Daniel Ortega “proibiu a entrada de Karen Celebertti, dona da franquia Miss Nicarágua, e de sua filha”, informou o site do jornal nicaraguense La Prensa, publicado na Costa Rica.
Os meios de comunicação da oposição também afirmaram que a casa de Karen, na estrada entre Manágua e a cidade de León, foi invadida no dia 23 de novembro, e o seu marido, Martín Argüello, foi detido temporariamente.
Malas com pertences de Sheynnis, que foram levadas pela organizadora até a Nicarágua após o concurso, também foram levadas pela polícia durante a operação. Na quinta-feira, 30, a polícia da Nicarágua disse ter entregue as bagagens para a avó de Sheynnis. / AFP
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